Crônicas
Jolivaldo Freitas
11/09/2016 às  16:34

SANTO AMARO continua linda e mantém suas tradições

Quando adolescente frequentei muito Santo Amaro


Estou em Santo Amaro da Purificação, fazendo marketing político. Política sempre foi o forte deste município desde os tempos das lutas pela independência dos baianos, que assegurou a independência do Brasil, e aqui o que não falta é marqueteiro, seja por instinto ou mesmo por vício de eleição. No fundo, até que ajudam mais que atrapalham, mas quando atrapalham o Fazem de verdade. São pessoas politizadas, como nós disse. Não tem bobo.

Quando na adolescência freqüentei muito Santo Amaro, pela proximidade que tinha de Giari, onde ainda hoje tenho parentes, mesmo distantes, povoado que fica no entroncamento da BR 324 com a estrada do município. Giari é um verdadeiro enclave. Já pertenceu a Santo Amaro e hoje pertence a São Sebastião do Passé, num vai e vem mais complicado que fronteira entre Venezuela e Colômbia.

Mas o que me surpreendeu foi encontrar uma cidade ainda bonita, limpa, com suas praças em excelente estado e principalmente a inteligência que foi do santamarense em não deixar ninguém colocar asfalto nas ruas da sede, pois todo muno sabe que asfalto esquenta a cidade e ajuda na degradação do planeta Terra. Sem falar que os velhos paralelepípedos são mais bonitos e charmosos.

A cidade mantém ainda duas características que pensei tinham desaparecido: as mulheres com volumosos derriers (e olha que a cidade só tem uma ladeira íngreme) e a cultura da fofoca, coisa que vem desde os tempos da riqueza da cana, quando o Recôncavo detinha os maiores engenhos do país e os escravos falavam mal da casa grande e o pessoal da casa grande falava mal da senzala. Ainda, em alguns lugares da cidade se coloca cadeiras na porta para ver passar o que é novo e velho e gerar assunto. Novela da Globo perde feio. Mas é uma fofoca salutar, sem maldade. É mais interação social entre os vizinhos.

Descobri coisas interessantes, como a impagável batida do Bar de Toti, no mesmo patamar das velhas e premiadas batidas do mestre Fênix do Mercado Modelo (aliás, Maria de São Pedro que fez sucesso com seu restaurante no Mercado Modelo é santamarense, fiquei sabendo).  E quem pensa que homem não gosta de novela o bar é point dos coroas que se reúnem e vêem futebol, jornal e novela. Tem o concorrido Karaokê do Dá Pau (acho que se escreve assim), onde os “cantores” fazem a festa e recebem aplausos escandalosos, verdadeiros. Na Praça do Rosário, um pequeno restaurante de apenas doze metros quadrados faz um feijão fradinho para acompanhar o ensopado de carneiro que chega a atrair os gatos do bairro. Fiz até amizade com Zurique, um gato angorá, amarelada de olhos d´água, bichano mais malandro que já vi pois ele pede comida como se fosse gente, olhando nos olhos, de dar dó. Um ator que deveria estar na TV Globo.  E uma jovem exuberante  – com todo respeito por ser uma senhora bem  casada – me prometeu uma moqueca de mapé (espécie de delicioso marisco) que, diz-me, a mãe faz que é a melhor da paróquia.

Reencontrei meu amigo Rodrigo Veloso. Ainda não achei Carlitão e minha amiga Bel, lá nas bandas da Lagoa. Descobri Rita, das melhores cozinheiras – e como cozinham bem as mulheres do Recôncavo!). Rita é uma negra como só as negras de Santo Amaro, com a mistura do ébano, um pouco do jambo e mais um tanto de âmbar sobre a pele reluzente. Santo Amaro é terra de mulheres lindas. Até mesmo as brancas, gazas, cabo-verdes e cafuzas; e de homens firmes e fortes e que não perdem a ternura. São todos descendentes dos grandes heróis que fizeram a fama nas lutas históricas de antes, durante e depois do século XIX e que botaram portugueses e franceses para correr. E eles têm orgulho disso. É um povo acolhedor.

E o interessante nisso tudo é que acho que a cidade, como muitas outras que não são capitais pelo país afora, se caracteriza pela marcante presença da mulher, dos idosos e das crianças. Os jovens após a adolescência seguem em busca de realizar seus sonhos em outras paragens. Mas terminam voltando. Pois Santo Amaro é o tipo de lugar que deixa saudade para os “estrangeiros”, os alienígenas, os de fora. Imagine para quem tem o caldo quente da cana caiana correndo nas veias.


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