Crônicas
Jolivaldo Freitas
05/02/2014 às
18:10
Deputado Pastor, não envergonhe a Bahia
Beijo gay incomoda a quem? Horrível é querer policiar, patrulhar, cercear o outro. Cada um sabe de si e a liberdade de escolha é um dos caminhos para ser feliz.
Vai virar um mico nacional. Acredite! Fiquei sabendo que o Pastor Isidório já reuniu sua assessoria jurídica para entrar com ação na Justiça contra a Rede Globo de Televisão, buscando reparação e o respeito à chamada – plasmática visagem sem cheiro, nem cor - família tradicional brasileira.
Diz o incomodado deputado: “O que a TV Globo tem veiculado é atentado violento ao pudor”. No dia 4 passado ele acordou cedo, depois de uma noite sonhando com as palavras de Deus, intercalada por imagens do seu passado, que lhes dão calafrios (e nem quero imaginar que imagens são estas de pecados como banquetes com carne de primeira; drinques coloridos e sobremesas altamente palatáveis, daquelas de se lamber todo e lascívia) e correu para dar a entrada, na Assembleia Legislativa, a uma moção de repúdio contra os ataques da emissora à família verde e amarela e cor de anil.
Na verdade ninguém passou procuração ao pastor para tomar a atitude – nem tão insólita assim. O homem deu entrada e justificou em documento quando pontua o que chama de “insistentes cenas de sexo, beijos entre homossexuais, traições conjugais, homicídios, tentativas de homicídios, assédio moral, humilhação, dentre muitas outras, nas novelas da Rede Globo que, de maneira tendenciosa, atentam contra os bons costumes, com a finalidade de promiscuir e assim destruir as famílias tradicionais cristãs (católicos, evangélicos e demais segmentos da sociedade)”.
Se assim o fosse e Deus prestasse atenção Holywood já teria virado pó. Se bem que se virasse pó os atores já tinham cheirado a cidade toda.
Ele diz que vem demonstrar, em nome das famílias cristãs do nosso Estado e de nossa Nação, seu repúdio a cenas que estimulam, de maneira acintosa, a violência, e buscam destruir conceitos éticos, morais e religiosos das famílias brasileiras e da sociedade.
Conversei com várias pessoas para saber se deram mesmo procuração para ele falar em nome da família de todos nós e ninguém nem sabia do caso.
Quem é esta família que ninguém sabe ou ninguém viu? Será que foi a família dele que pediu por se sentir constrangida por algum fato que a chocou? Ou amigos dele? Será que a família dele está satisfeita com sua atuação política que muitas das vezes choca a família brasileira? (este espectro sem forma). Minha família e as famílias dos meus amigos e os meus amigos nem estão atentas e alguns me disseram que a maldade está na cabeça do pastor.
Foi então que lembre que Isidoro vem a ser o deputado que certa vez assomou o plenário da Assembleia Legislativa para denunciar o fato de ter ido fazer exame de próstata e não ter achado legal. Vociferou e com isso, passado tanto tempo, disse que ficou com medo e incomodado. Seu reacionarismo deve ter levado acólito ou para o hospital ou caixão, com problemas no carocinho de feijão chamado próstata.
Sou da filosofia que é melhor uma dedada mal tomada que morrer com a bexiga comida pelo caranguejo. Acho que fazer exame de toque é mesmo coisa para macho. Só não pode se apaixonar pelo médico ou achar que o médico não foi carinhoso e faltou um beijinho. Que ele não liga, não escreve, não tuita e nem entra no Facebook.
Este negócio de “defender” a família brasileira sem ela pedir – “geralmente a família brasileira” é meia dúzia de conservadoras senhoras lá do Mont Serrat, pois nem as velhinhas da Barra ou da Graça dão bolas para o que vai nas novelas - já gerou coisas abomináveis como apoio à Ditadura Militar (quem não lembra da TFP – Tradição, Família e Propriedade que de tão retrógrada e com valores defasados criou tantos problemas para o país no século passado).
Pois o Pastor e Deputado Isidoro é de tempos idos, com pensamentos medievais. O que a Band, a Globo, a CNN e até o canal Disney leva para as telas é a versão teatralizada ou matérias jornalísticas sobre o que acontece nas ruas. As TVs não inventaram a roda, nem a pólvora e muito menos o pecado.
Beijo gay incomoda a quem? Horrível é querer policiar, patrulhar, cercear o outro. Cada um sabe de si e a liberdade de escolha é um dos caminhos para ser feliz. Gente infeliz estraga o ambiente. Não sou gay, mas respeito e gosto dos meus amigos que são gays.
Já a violência mostrada em séries e novelas ou filmes é retrato da sociedade. Onde está o pastor que não pressiona o governador e seus pares a executarem ações contra a violência, a pobreza e a ignorância? A Colocar mais policiais nas ruas. Montar presídios modernos e humanizados. O pastor me lembrou minha tia Maria Chiquinha que certa vez ao ver dois gays brigando na entrada do Elevador Lacerda por causa de um bofe me disse e eu ainda era menino.
- Ninguém brigou assim por mim.
Para ela pouco importava quem estava na briga. Valia o ato de se lutar pelo amor de alguém, alguma, algo. E ela já tinha 76 anos de idade e uma família com seis filhos.
A Bahia sempre foi tolerante e não merece um retrocesso.
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