Crônicas de Copacabana
Nara Franco
08/02/2019 às
17:47
Rio, uma cidade cansada e triste
Quando a tragédia acontece no quintal da sua casa, a dor parece mais intensa.
Sempre foi puxado morar no Rio de Janeiro. Tem muito glamour, paisagem bonita, artista de TV, só que é preciso equilibrar as belezas com arrastão na praia e na Linha Vermelha, tiroteios diários, alagamentos e desabamentos por causa das fortes chuvas de verão todos os anos, um povo que maltrata diariamente sua cidade, poluição, quadrilhas de políticos depenando estado e município etc.
A violência, de tanto que se repete, virou rotina no dia a dia e já nem é tratada como o maior problema que enfrentamos. Entende-se que não tem mais jeito e enxuga-se gelo para fingir que o estado pode dar conta. Há anos o carioca se acostumou a moldar sua rotina em função de guerras de facção de bandidos, de horários mais propícios a assaltos, de locais que se deve evitar a qualquer hora. Qual cidade do mundo - que não está em guerra - seria capaz de produzir um aplicativo chamado Onde Tem Tiroteio ou OTT?
O carioca tem até um que de superior por saber viver ou conviver feliz (ou aparentemente feliz) em meio ao caos. Mas hoje, esse nariz em pé está no chão. Passada a euforia dos grandes eventos, a cidade caiu em depressão e tragédias se acumulam mostrando a crueldade do nosso dia a dia.
Hoje, 8 de fevereiro de 2019, dez meninos de 14 a 15 anos morreram em função de um incêndio ocorrido no CT do Flamengo, popularmente conhecido como Ninho do Urbubu. Um dia antes, seis pessoas morreram vítimas do temporal que desabou na cidade. Puxado, né?
Quando a tragédia acontece no quintal da sua casa, a dor parece mais intensa. Você sai na rua e sente aquele clima ruim, olhares caídos, conversas ao pé do ouvido em tom lúgubre. Sente também um cansaço, um desalento, um sentimento de não haver solução para mais nada. A frase que tenho ouvido com mais frequencia nos últimos meses é: o Rio acabou.
Já ouvi essa frase diversas vezes em situações diferentes. Mas pela primeira vez acusei o baque e concordei. O Rio é uma cidade cansada, nas cordas, golpeada, esperando a contagem do árbitro. Seu povo, resiliente. Desculpe caro leitor(a) meu tema triste. Contudo, é impossível não se deixar abater por tantas notícias ruins. Um furacão - literalmente - passou pela cidade e levou a alegria.
Mas como diz Chico Buarque, amanhã será outro dia. Mesmo sabendo que nada vai mudar, o show deve continuar e precisamos lidar com nosso luto e nossa incapacidade de mudar o caos. Enquanto isso, Copacabana segue lamentando e limpando as ruas das muitas e muitas árvores que caíram na cidade. Ventos de 110km fizeram minha janela tremer. Um sinal de que é preciso limpar a poeira e dar a volta por cima?
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Para não dizer que não falei de flores, sugiro a todos que procurem no Facebook ou no Youtube a iniciativa The Ugly Indian, um movimento anônimo tocado por cidadãos comuns. The Ugly Indian lida com o maior problema das cidades indianas: a sujeira. Um local degradado é escolhido e mudado por pessoas da vizinhança, que limpam calçadas, pintam paredes, restauram muros, constroem bancos, entre outros. As fotos de antes e depois são estarrecedoras. The Ugly Indian mostra que não precisamos de muita coisa para mudar o mundo. Nós brasileiros devíamos acordar o Ugly Indian que mora dentro da gente e mudar - de verdade - tudo que está aí.
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