Cine Roxy
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Nunca gostei de anos pares. Esse então .. só veio ratificar minha má impressão. Passamos metade do ano polarizados entre petistas e bolsonaristas. Brigando nos grupos de zap, rebatendo as mais diversas fake news (e como somos criativos com fake news!) e se odiando. Passada a eleição, achei que tudo voltaria ao normal. No máximo, brigaríamos porque o flamenguista tirou onda com a cara do tricolor e vice e versa.
Mas tudo indica que as pessoas não querem trégua. Semana passada, quando mais uma discussão sobre política ia começar, me recusei a falar e ouvi a pérola: "só quero saber se você é petista". Não, não sou. E se fosse? Ia ser banida da mesa, ia ficar ajoelhada no milho? Desapeguem!!!!!
Dezembro será o tira-teima dos traumas deixados pela eleição. Detesto dezembro. Primeiro, porque o Rio de Janeiro tem temperatura média de 39, 40 graus. Segundo, porque Copacabana triplica sua população, tudo fica ainda mais caro do que já é e as decorações cafonas de Natal saem do armário. Mas já reparei que esse ano tudo está muito tímido.
Enquanto pessoa desempregada, bato perna pelo comércio quase todos os dias. Principalmente nas mais de mil farmácias que existem no bairro. Aqui e ali ainda ouço discussões acaloradas sobre o Mais Médicos, a extinção do Ministério do Trabalho. Percebo, porém, que a falta de dinheiro deixa todo mundo "borocoxô" e o Natal vai ser "simplinho, só com lembrancinha".
As decorações de Natal estão simplórias, há muitas e muitas promoções nos supermercados e lojas (que continuam vazias) e muitos moradores de rua. Parece que todo mundo quer que acabe logo, mesmo sabendo que em janeiro toma posse um novo governador, que ... não. Nada de política.
Voltando ao cotidiano: os moradores de rua da minha vizinhança são cativos. Conheço todos. Meu quadrado na Zona Sul do Rio parece uma cidade do interior. O jornaleiro me passa as novidades do dia, a vendedora de flores dá bom dia, a senhora que fica na igreja pede R$ 2 pro almoço e brinca com as cachorras, filho e mãe que moram na rua com dezenas de sacolas também brincam com as cachorras e vendem serviços de passeador, a vendedora de balas (que mora em Caxias e é pedinte profissional) aguarda o fim da missa, a guardadora de carro (trans, porque se veste e age como homem, mas é mulher) lava os carros e os novos moradores discutem como será o dia. Esses são três caras e um cachorro e residem na porta do Banco do Brasil (que por conta disso não abre mais depois das 16h para saques).
Antes de ter cachorro, confesso que mal olhava para cachorro na rua. Hoje, quero pegar todos. Talvez o ser humano esteja num ponto tão critico, que a maior parte das doações para estes moradores seja ração. O cachorro, conhecido por toda a rua, já ganhou coleira, potinho de água, potinho de comida, cobertor. As velhinhas se juntam, pagam banho, perguntam se o cachorro tá bem, oferecem remédio. Eu mesma comprei um pacote de ração. O dono do cachorro? Nem sei o nome.
Acredito que esse desprezo pelo Homo Sapiens é efeito do total surto coletivo que os brasileiros estão. Todo mundo briga, ninguém aceita opinião do outro, tudo é culpa do PT e você, se não concorda, recebe um carimbo de petista no meio da testa. Fora "bandido bom é bandido morto" e outros quetais que deixam todos polarizados entre o bem e o mal. Daí, penso, que os bichos, na sua pureza, merecem todo o carinho das senhorinhas de Copacabana e meu. Porque, na boa, gente não tá dando mais não.
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A melhor fake news do ano é a distribuição de mamadeira com bicos de pênis. A segunda, é Daniela Mercury ser filha do Freddie Mercury e que, por conta do pai, é gay. Sensacional. Pois rezava a lenda do zap que as sessões de Bohemian Rhapsody (o filme sobre a banda Queen) recebia vaias quando Freddie Mercury é beijado por um homem. Ontem no Roxy, a sessão do filme terminou com aplausos. Muitos. Por um momento, tive alguma esperança na humanidade. Pensei até em comprar jantar para o mendigo dono do cachorro.
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