Crônicas de Copacabana
Nara Franco
04/07/2018 às  17:36

A Copa do Mundo do STF e o Lick's

A população está mais ligada na politicado que na Copa do Mundo



Bar Lick's de Copacaba
Foto:
Detesto ficar na fila de frios do supermercado. Sempre demora muito. O cara pega o queijo, tira o plástico, corta as fatias. Tudo naquela velocidade Dorival Caymmi. Eu sempre evito. Mas ontem, diante do fato de que o Brasil jogaria hoje, tive que ficar ali olhando os presuntos, os queijos, as mortadelas. 

Na minha frente, duas senhoras e um homem de aproximadamente 50 anos conversavam horrores. Na véspera da primeira partida eliminatória do Brasil na Copa do Mundo, eles discutiam calorosamente as últimas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Nada de Neymar, Willian, Firmino, Coutinho, do galã Allison. Nada. Nem o tombo do Tite foi citado. 

Era um tal de Fux pra lá, Gilmar pra cá. Facchin aqui, Dias Tofoli ali. A toda hora eles me olhavam como que me chamando para a conversa. Mas eu não falo com estranhos em lugar nenhum porque detesto conversar com gente que não conheço. As vezes mal falo com gente conhecida. Imagina com gente que nunca vi?

Enquanto os presuntos e salaminhos saIam embalados, os três filosofavam sobre os rumos da política nacional. Porque em algum momento, o Barroso, o ministro, virou presidenciável. 

- Eu votaria no Barroso, homem íntegro - disse a senhora logo à minha frente. 

- E aquele Gilmar? Meu Deus.. como pode? A gente não pode confiar em mais ninguém...

Daí que o homem foi falando do FHC, do Lula, do Collor e virou uma salada de siglas. Eu quase cutuquei os três e fui mediar o debate. Mas eu estava mais interessada em saber quanto estava Rússia x Espanha. 

Pois é. O brasileiro, dito alienado politicamente, agora passa o tempo na fila do mercado debatendo as decisões do Supremo, falando que só gente nova ("nova não só no nome") pode mudar tudo que está aí. Só falaram faltar da última reuniões do COPOM! Sinal de que a situação está muito ruim. Porque no geral, minhas amigas de Copacabana acima dos 60 só falam de receita, do exagero gastronômico do fim de semana e da hidroginástica. 

Com a saída de dois interlocutores, sobrou para mim o fim do papo. A senhorinha virou para trás para dizer que os preços mostram como esse governo está péssimo. "Tudo muito caro". Tenho que concordar. Porque no preço não tem STF que dê jeito. Sorte minha que ela não é eleitora do Bolsonaro. Porque a última eleitora do Bolsonaro que eu topei no supermercado deu briga. 

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Vamos falar de Copa do Mundo? Contei duas ruas com bandeiras. Pelo menos na minha vizinhança. Muito pouco, né? Detalhe: a esquina mais animada aqui perto é a do bar Lick's, que meteu uma TV de plasma pendurada na banca de jornal, com o som ligado em uma caixa de som desses rádios super potentes. Nas mesas espalhadas pela calçada, o torcedor mais novo devia ter 55 anos. Todos uniformizados. Por essas e outras que eu amo meu bairro


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