Crônicas de Copacabana
Nara Franco
03/10/2017 às  22:36

O mundo é estranho e o sabão Omo,

Bispo e vereador. Não há padre vereador. Espírita vereador. Nem mãe de santo vereador. Há bispo vereador


Lá pelos idos dos anos 2000, minha amiga Roberta Carvalho cunhou a frase que até hoje dita os rumos da minha vida: "O mundo é estranho". De lá para cá, 17 anos depois, o mundo não só se tornou mais estranho como a frase já não está mais dando conta de tamanha bizarrice que assola o planeta Terra.

Por isso decidi não ver mais televisão. Meu mundo copacabanense me basta. Como jornalista, vivo de notícias. Mas chegamos a um ponto tal, que não dá mais para acompanhar tanta estranheza. Nem eu dou conta desse seriado chamado Lava Jato. Não tem protagonista, antagonista, todo mundo é preso. Não tem dragão que voa, briga de espada. É chato demais. Sem falar que tem mais 40 desdobramentos. Nem Gloria Perez seria capaz. 

Mas vejamos o que nos espera na TV:  

Depois de uma semana tomada pelo exército, que só foi à Rocinha fazer vista, o prefeito desta cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro diz que a comunidade precisa de um "banho de loja". É como pegar um mendigo, desses que não toma banho há coisa de ano, sem dentes, cheio de piolhos, e levar ao shopping para fazer compras na loja mais cara de Salvador ou daqui. Banho de loja a gente dá em um lugar que está minimamente estragado. 

Em uma comunidade que mais parece a Síria, a gente faz (ou deveria fazer) política pública de qualidade ou de verdade. O que seria o tal banho de loja ninguém sabe, ninguém viu. Mas, de acordo com o bispo, "Deus protege" uma vez que a Universal não levou um tiro sequer. Concluo que o Deus dele seja seletivo pois mais de 30 crianças morreram vítimas de balas perdidas esse ano e assustadores 100 policiais foram mortos. O mundo é estranho. 

Depois que o exército fez figuração, novos confrontos foram ouvidos na Rocinha. Nada de novo. Mas enquanto isso, na Câmara de Vereadores, um culto evangélico se deu na plenária em homenagem ao Dia do Encontro Interdenominacional, que devido a um projeto de lei do Inaldo Silva bispo e vereador, entrou para o calendário da cidade este ano.

Bispo e vereador. Não há padre vereador. Espírita vereador. Nem mãe de santo vereador. Há bispo vereador. Então enquanto o tiro come em Costa Barros, Vila Kosmos, Alemão, Dona Marta e outras regiões da cidade, os vereadores oram. Oram na Câmara, lugar de debates para a feitura de leis, que teoricamente, teriam de salvar a cidade desse miserê que se encontra. 

O mundo é estranho e estamos voltando à inquisição. Ser político hoje é concordar com a maioria, que não quer nada a não ser o bem próprio. Ninguém quer ver viado na televisão, mas cogitar mudar de canal ... nem pensar. 

Bolsonaros surgem desse movimento de extrema direita, que já passou pela França e chegou agora na Alemanha. Como pode o partido que defende o nazismo ficar em terceiro lugar na eleição geral? Como pode um sujeito que defende o estupro e a tortura liderar a corrida presidencial no Brasil?

O mundo anda tão estranho que tem um maluco norte coreano com um cabelo mais horrível que a peruca do Trump querendo explodir o próprio Trump. Este, por sua vez, brigou com os astros da NFL e NBA, as ligas de futebol americano e basquete. É como se Temer batesse boca com Neymar. 

E nós achando que 2016 tinha sido um ano complicado. Eu fico por aqui mesmo, nos meus quarteirões que resumem o mundo. Minha quadra ganhou outra Lojas Americanas, que veio se juntar as outras 250 Lojas Americanas já existentes no bairro. Não vou ficar vendo nada disso na TV. Vou correr atrás da promoção do Omo de 3 litros porque isso sim me faz feliz. 


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