Crônicas de Copacabana
Nara Franco
14/08/2017 às  17:37

O Bicho chega ao século XXI

Modernização num dos jogos mais antigos do país


 Na esquina da Rua Barata Ribeiro com a rua onde eu moro aqui em Copacabana fica sentado na quina da loja de tintas um cara de uns 40 e pouco anos, que exerce a profissão de "apontador do bicho". Não sei como chama na Bahia, mas aqui o apontador é o sujeito que que anota as apostas e divulga os resultados. Não há nada de folclórico neles. São extremamente discretos. Esse rapaz de vez
quando dá uma sumida durante o dia, acho que não dá o expediente completo. Até porque, vi em um site de leis trabalhistas que tal cargo não gera vínculo empregatício. 

   Os apontadores e apontadoras já fora mais numerosos nas ruas. Pelo menos na Zona Sul da cidade. Quando eu morava em Ipanema, os via com mais frequencia. Inclusive tinha um sapateiro aleijado que divulgava os resultados na cadeira de engraxate dele. 

   Morreu assassinado já há algum tempo. Até hoje eu nunca tinha atentado para o fato de eles estarem sempre próximos a bancas de jornais. Em botecos eu sempre via. Nada melhor que pegar o apostador quando ele já bebeu o suficiente para se achar muito rico. 

   Da última vez que passei pelo apontador da rua me chamou a atenção o fato de ele estar "anotando" as apostas em um smartphone. Nada de bloco e caneta. Nada daquele papel preto que suja a mão para fazer cópia. O Bicho chegou à era digital. Dentro da caixa de sapato onde ele guarda o dinheiro notei uma máquina de débito automático. Matou a pau! Agora não tem desculpa para fugir de uma boa aposta. Só falta perguntar se é débito ou crédito. 

   Confesso que não sei jogar no Bicho. Tentei uma vez. O apontador me fez tantas perguntas que eu desisti. "Quero jogar no cachorro", disse. Eu tinha sonhado com cachorro. Então ele me olhou e começou o inquérito: na cabeça ou no milhar? Cercado ou na dezena? Não sabia dessa complexidade e fui embora. Fiquei com vergonha. Tenho uma amiga que joga todo santo dia. Ela já me ensinou todas as combinações, mas não nasci com o DNA do Bicho. 

    Se era complicado na caneta, fico imaginando agora com o smartphone. Teria um aplicativo? Baixa-lo seria ilegal? E que nome deve sair no recibo da maquininha? Perguntas que só um país como o Brasil podem responder. Porque aqui tudo é possível. 

   Em geral, os apontadores são discretos, pessoas humildes que passam desapercebidos na flora e fauna copacabanense. Mas são de pouco paciência. Fico um pouco intimidada. Mesmo morando 
no Rio há muitos anos, sempre fui ignorante no assunto Bicho e sempre achei que essa contravenção era 100% carioca. 

   Tenho uma amigo repórter especializado no tema que já sofreu até ameaça de morte e me explicou os bastidores da engranagem. É uma máfia no estiloda série "The Sopranos". Tem morte, assassinato em plena luz do dia, cafonice, ostentação. Dez mil vezes mais glamouroso que os traficantes pé de chinelo que se vê nas páginas policiais. Eu nunca entendi a lógica do cara ser "o dono do morro" e viver de bermuda e chinelo velho na favela. 

  Até pouco eu achava que o sorteio era feito manualmente. Tipo uma roleta cheia de bichos. Depois ficava me perguntando como o resultado chegava tão rápido a tantos lugares e quem fazia o sorteio. Porque no horário certinho, o papel tá lá grudado no poste. Achei até um site: jogodobichorj.com.br. E tá lá o "Deu no poste". O resultado sai às 11h, 14h e 18h. Hoje, deu Urso. 

   Até quando o "Deu no poste" vai resistir, não sei. Até lá, espero perder a vergonha e jogar. Lembrando que o jogo é proibido no Brasil.

                                                             ***

Quem leu a crônica passada sobre o Mohamed espera que eu dê algum retorno, certo? Pois bem: fui lá e não comi. Acabaram as esfirras. Como eu faço Muay Thay ali perto espero comprar antes da aula em algum dia desses da semana. Mohamed não fala português e vendeu quibe e esfirra por um ano. Todas as velhinhas de Copacabana desceram de suas casas para experimentar o quibe do Mohamed. Foi uma demonstração de carinho bem legal. Pena que só acontece de vez em quando


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