Política
Tasso Franco
14/08/2024 às  13:15

O SILÊNCIO DOS INTELECTUAIS BAIANOS DIANTE DE FECHAMENTO DO ARTE SACRA

O comentário é do jornalista Tasso Franco, 79, também escritor


  Houve uma época na Bahia em que os intelectuais, os artistas, os escritores, os acadêmicos, enfim, as pessoas que amavam a cultura e as obras de arte no estado, especialmente em Salvador, gritavam, brigavam, protestavam, iam às ruas e aos artigos dos jornais quando aconteciam fatos como a derrubada da Sé Primacial, o bombardeio da biblioteca e do palácio governamental em 1912, a derrubada da igreja de São Pedro Velho e muitos outros aconteceimentos. 


   Recentemente, no governo do bronco Jair Bolsonaro ouvimos muitos gritos em defesa da universidade pública, da Amazônia, da saúde pública e assim por diante, contra as escolas cívico militares, contra tudo que emanasse do governo. Lembrava com relevância e empatia do "Fora FHC". Nada que Fernando Henrique fizesse ou propusesse era péssimo, então, gritava-se "Fora FC", até o Plano Real.

   Pois bem, a UFBA fechou o Museu de Arte Sacra - o mais importante do barroco no país; o monastério de São Bento fechou a biblioteca - mais importante do país em obras raras da Bahia e do Brasil; o Convento das Mercês foi fehcado e uma escola de 125 anos; o TCA fechado após um incêndio no teto; o Teatro Vila Velha fechado; a Biblioteca dos Barris da época do saudoso Luis Viana Filho desatualizadissima e precisando de investimentos; o IGHB com a antiga Casa do Senado caindo e precisando de invesimentos de uns 10 milhões; o Balé do TCA sumiu de cena; o cinema (produção) sumiu de cena; a música erudita (sumiu de cena), etc, etc, e ninguém diz nada. 

   A ministra da Cultura do Brasil é da Bahia há dois anos; os intitulados intelextuais cavaiar da esquerda que protestavam por tudo recenemente e outros do passado se calam diante dessa enxurrada de bens culturais em descenso. 

   É impressionando o silêncio da UFBA, IGHB, ALB, OAB, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, CMS, Arquidiocese, etc, etc, como se nada estivesse acontecendo. A Bahia - isso é o que se vê - está sem voz na cultura. No século XVII tínhamos os satíricos Gregório de Matos; no sec XX, Fernando Perez e o "Salvadolores"; os poetas da praça; os artista de pincel e os padres de passeata. Agora, infelizmente, temos somente a turma do amém, dos editais, do bajulamento. 

    Vocês ja imaginaram fechar o Museu D'Orsey, em Paris (nem vamos falar do Louvre); a Galeria Tate, de Londres; o Paço do Frevo, em Recife; o Museu da Inconfidência, em Minas; o Museu de Arte de SP Assis Chateaubriand? 

   Vozes - e muitas - teriam se levantado em defesa dessas instituição. E na Bahia, o que acontece? Nada. Os rebeldes do modernismo e a turma de Jorge Amado todos (ou quase todos) já faleceram. Não tivemos reposições das peças à altura.

  Há, sim, bajuladores em cada esquina - como diria Gregório -; caçadores de editais em cada canto e janela - como acertaria o Bocage Aloisio Short; e defensores do politicamente correto. 

   Arlindo Fragoso, em "Espírito dos Outros" cita o ator Xisto Bahia que, certa ocasião levou ao teatro o tabaréu da Festa de Reis e deu, de testa, com o retrato de Dom Pedro II, no album dos compadres e exclamou: - Está veio! 

   Estou a pensar - escreveu Arlindo - que se Xisto vivesse nos dias de hoje (1917) e visse os antigos ranchos e os bailes em vez de sambas, e cavatinas e romances onde estavam dantes as modinhas, havia de bradar: - oh!  mas isso não é véspera de reis. 

   Conclui Fragoso na crônica "Véspera de Reis": - Tudo é mudado realmente e as nossas tradições vão se destingindo e apagando, a não serem mais que sobras de outra idade.

   Assim está a Cidade da Bahia, uma sombra da outra idade, os intelectuais (nem todos) protegidos pelos guarda-chuvas dos editais, dos pagodões, dos showszões, aplaudindo os governos. (TF)


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