Política
Tasso Franco
14/07/2008 às  10:05

ACM AINDA VAI DAR O TOM DA CAMPANHA

Tasso Franco é diretor de redação deste site


A campanha eleitoral em Salvador completa uma semana com os candidatos a prefeito ainda jogando no meio de campo, com cautela, cada qual analisando as jogadas dos adversários sem passes de profundidade, sem ataques mais vigorosos. É natural que assim seja, uma vez que essa maratona ainda consome 77 dias até o primeiro turno, e mais 45 dias para aqueles que seguirão no segundo turno. Daí que cautela tem sido a palavra de ordem entre os candidatos.


É provável que esse esquentamento venha ocorrer a partir de hoje, com a presença do ministro Geddel Vieira Lima na inauguração do comitê da Coligação "Força Brasil em Salvador", uma vez que Vieira Lima costuma jogar sempre no ataque, e quando da presença do presidente Lula da Silva na Bahia, próximo dia 29, para participar de eventos na Petrobrás, em Candeias. Lula é o objeto de desejo de todos os candidatos de sua base ainda que, por determinação do TSE, só possa aparecer vinculado ao candidato do seu partido de origem, o PT.


Neste caso, se Walter Pinheiro conseguir que o presidente grave uma mensagem para sua campanha, a ser posta na televisão e veiculada na internet e no rádio, a partir de agosto, levará uma imensa vantagem dada a popularidade de Lula em Salvador. Mas esta é uma situação complicada porque existe o PMDB de Geddel, seu ministro da Integração Nacional, e o presidente pode deixar sua participação em Estados onde a situação é complexa, para o segundo turno.


A campanha em Salvador, por enquanto, está por igual. Os quatro candidatos competitivos ACM Neto, Antonio Imbassahy, João Henrique e Walter Pinheiro (observando-se a ordem alfabética dos seus respectivos nomes) fazem o que é mais comum no início de jornadas, se aproximarem do eleitorado com caminhadas, encontros nas comunidades, corpo-a-corpo, aperto de mãos, ainda sem expor suas idéias e projetos para a cidade. Nesse aspecto, salvo uma ou outra proposta, ACM Neto foi quem mais avançou nesse quesito, e espera-se que ainda ocorram muitas novidades.


Pelo que se viu até agora, o prefeito João Henrique (PMDB) organizou sua estratégia na difusão de suas realizações na Prefeitura, o mesmo acontecendo com o ex-prefeito Antonio Imbassahy (PSDB). João Henrique perdeu a aura de "fenômeno" eleitoral de 2004, dada sua condição de "vidraça" e abandonou a classe médica que tanto contribuiu com sua eleição. Imbassahy corteja essa classe média, onde está bem situado, mas, falta-lhe um discurso para amarrar o eleitorado nesse segmento.


Os outros dois candidatos, ACM Neto (DEM) e Walter Pinheiro (PT), disputam a eleição majoritária pela primeira vez em lados opostos. Pinheiro corre atrás para difundir seu nome na base com a ajuda de Lídice da Mata (PSDB) e dos seus colegas de partido mais votados em Salvador - Nelson Pelegrino, J. Carlos, Zezéu Ribeiro, Maria Del Carmen, etc - e deverá ter um reforço do governador Jaques Wagner no momento oportuno. Vai tentar polarizar a campanha com Neto e deu sinais disso na Convenção ao criticar o ex-senador ACM, de resto, um político que está no alvo de Lídice da Mata e da história.


ACM Neto tem mais nome do que Pinheiro na capital e está fazendo uma campanha extremamente profissional. A polarização com Pinheiro é tudo que ele quer, ainda que faça de conta que não. Se tem no palanque o ex-governador Paulo Souto e as eleições municipais são vistas com a perspectiva 2010, este o natural adversário de Wagner, quanto mais polarizar com o PT melhor.


 A questão é como ficam João Henrique e Antonio Imbassahy nesse processo. João já deu sinais de que deseja também participar da polêmica e deu estocadas, esta semana, quando criticou a morosidade das obras da Conder na Orla Atlântica, atingindo, assim, um dos carros-chefes da campanha Pinheiro, Maria Del Carmen/Pelegrino e o governador Wagner.


João fala também observando 2010. Seu principal atacante no processo, o ministro Geddel Vieira Lima, pode até está de olho em alguns jogos da Copa do Mundo na África do Sul, mas estará mesmo é ligado nas eleições para governador e senador. Situação mais complicada é de Imbassahy. Como o PSDB não tem ainda um candidato natural para 2010 e seu partido faz parte da base do governo Wagner, resta-lhe a opção de falar sobre a cidade. Isso é pouco numa eleição que polarizará e o tom das críticas vai se elevar ao longo da jornada.


Propostas são sempre bem vindas e a população gosta de algumas delas, mas, como estão desacreditadas ao longo dos anos, por inúmeras promessas não cumpridas, a polêmica, o "chute-na-canela", o anti-carlismo, o carlismo, ainda vão prevalecer nesta campanha, sobretudo porque ACM Neto mostrou que é bom polemista, a partir de sua atuação no Congresso, e está preparado para enfrentar esse debate.


  Não precisa ser nenhum cientista político para antever essa questão. Todos os candidatos estão repletos de pesquisas, dados de comportamento do eleitorado, marketeiros à mancheia, mas, nesta campanha de Salvador, dada a presença de ACM Neto no palanque, herdeiro consaguíneo do carlismo, o tom da campanha numa oitava a cima vai ser por aí. Na veia política.


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