Quem esperava que o presidente Jair Bolsonaro derraparia na entrevista ao Jornal Nacional, ontem, à noite, 40 minutos olhos-no-olhos diante dos experientes apresentadores William Bonner e Renata Vasconcelos, perdeu. O presidente saiu-se bem. Não conseguiu ser brilhante - ninguém imaginava que isso pudesse também acontecer - mas não decepcionou e deu seu recado com bastante equilibrio e até falou o que quis, sem uma contestação mais forte dos apresentadores. Ponto para Bolsonaro que esteve bem à vontade no longo tempo da entrevista vista por milhões de brasileiros e, em nenhum momento, se desesperou ou alterou a voz.
Esse equilíbrio de Bolsonaro surpreendeu até mesmo seus aliados políticos que temiam que o presidente pudesse sair do tom equilibrado de um político e promovesse um bate-boca com os apresentadores. Pelo contrário, Bolsonaro respondeu a todas as perguntas, muitas das quais já esperadas pelo entrevistado e pelos telespectadores como a ação do governo na pandemia do Coronavirus, as queimadas da Amazônia, os desentendimentos com ministros do STF, as urnas eletrônicas e a economia/inflação.
A cada uma dessas questões o presidente saiu-se razoavelmente bem acentuando, no caso da pandemia, que o governo federal fez a sua parte investindo bilhões de reais. Mas, é bom lembrar que Bolsonaro deu várias declarações que se provaram erradas sobre a gravidade da doença e defendeu o uso de medicamentos que não se mostraram eficazes como a hidroxicloroquina e a ivermectina. O presidente também foi contra o uso de máscaras e a adoção do isolamento social, medidas que a ciência demonstrou serem eficientes para conter a transmissão do vírus. Ainda hoje contesta e diz que isso prejudicou a economia do país.
Houve, então, por parte dos entrevistadores tons moderados sem uma contestação mais firme a fala de Bolsonaro e assim foi durante toda a entrevista, em relação aos outros temas. Somente no caso das mudanças de ministros no MEC é que Renata Vasconcelos subiu um pouco o tom da contestação, porém, nada que alterasse o comportamento de Bolsonaro e pudesse chegar aos telespectadores.
Bolsonaro contestou que tivesse atacado ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), embora, é público e notório, que usou o termo "canalha" para Alexandre de Moraes durante a manifestação do dia 7 de setembro de 2021. Em relação a Barroso, Bolsonaro se referiu ao magistrado como “filho da puta” no dia 6 de agosto de 2021. Dias antes, ele já havia chamado o ministro de “criminoso” e “mentiroso” por suas posições contra o voto impresso.
Esses são detalhes que o telespectador não vê durante uma entrevista na TV salvo se os entrevistadores fossemm mais enfáticos e colocassem esses dados mais fortemente no momento da entrevista, o que não aconteceu. E assim foi durante toda a entrevista, Bolsonaro falando o que é sua ótica em relação ao desempenho do governo, no desmatamento da Amazônia, na criação do PIX, na geração de empregos, na compra de vacinas, no apoio e pertencimento ao Centrão, usando tons moderados e com semblante equilibrado.
Diriamos que para os bolsonaristas a entrevista foi um sucesso e o presidente "mitou" e "venceu"; para os petistas foi um "desastre total", uma "mentira" em grande escala. Evidente que são pontos-de-vistas ideológicos e imutáveis qualquer que fosse o desempenho de Bolsonaro.
A questão fundamental é saber se o presidente consegiu ir além de su bolha, isto é, dos seus apoiadores de carteirinha e amealhou alguns votos e novos simpatizantes com a entrevista ou não. Em nossa opinião, o seu comportamento equilibrado na entrevista (independente do que disse na essência) o favoreceu. Perder, com certeza, não perdeu. Resta saber se ganhou algo. As pesquisas adiante poderão revelar o que aconteceu, de fato, independente dos desejos dos dois grupos em contenda. (TF)
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