Daí que, na propaganda petista, era um local onde o PT fazia história e não seria derrubado. Mesmo antes de Jaques Wagner chegar ao poder como governador, em 2007, o PT já mandava em Conquista.
Herzem discordava nos seus programas de rádio e dizia que o PT era um 'falso brilhante' em Conquista, alguma coisa tinha sido feito de bom, mas muito aquém daquilo que os petistas apregoavam.
Vim conhecer Herzem, em 2015, quando ele chegou a Assembleia Legislativa como deputado estadual. Sizudo, grandão no estilo 'Frankstein', aparentemente mal encarado, assim que chegou ao plenário foi a tribuna de imprensa e cumprimentou os jornalistas um a um com um aperto de mão.
- "Eu sou Herzem, de Conquista, radialista e jornalista como vocês", disse.
E não fez isso uma única vez. Todos os dias que comparecia ao plenário tinha esse gesto com os jornalistas que 'cobrem' as atividades da casa.
Foi assim que conheci Herzem e falava sempre com ele na bancada da imprensa, na sala do cafezinho e no plenário sobre o seu município. Ele dizia-me que o PT fazia uma propaganda enorme sobre Conquista, mas não era nada daquilo e que ele iria se candidatar a prefeito de derrotá-los.
Tínhamos dúvidas. O PT tinha uma safra de bons políticos, o lider do governo com Wagner, Waldenor Pereira, Zé Raimundo, Guilherme Menezes e outros. Além disso, tinha o apoio incondicional do PCdoB e outros.
Vice-presidente da Comissão de Educação na Assembleia, Herzem tinha uma boa atuação nas comissões (também participava das comissões de Finanças e Direitos Humanos) e no plenário onde seu foco era Conquista e criticas ao governo estadual do PT.
As informações que tínhamos de Conquista eram mais repassadas por Waldenor. Depois, chegou o deputado Fabrício, do PCdoB, também de Conquista, que abriu uma dissidência com o PT e também queria ser prefeito. E lançou-se candidado, em 2016.
Herzem um dia me disse: - Vou derrotá-los a todos. Conquista quer fazer uma mudança e eu sou o nome.
Não acreditei muito. Faltava-me informações.
Veio a eleição e Herzem venceu a todos. O PCdoB voltou a se juntar com o PT, mas não teve jeito.
Eleito prefeito com gestão entre 2017 e 2020 fez o que pode. Sem apoios dos governos federal e estadual, Herzem fez uma administração municipal considerada mediana, mas com um grande mérito, a seriedade.
Não havia corrupção em seu governo e o grande trunfo que o governo petista do estado tinha na cidade era a ampliação do aeroporto local, obra com recursos parciais do governo federal. Num golpe de mestre Herzem levou o presidente Bolsonaro para inaugurar o aeroporto tirando o doce da boca de Rui Costa e a bandeira do candidato petista, Zé Raimundo, em 2020.
Dizia-se, em meados de 2020, que Herzem perderia feio a eleição em Conquista.
O PT relançou Zé Raimundo, deputado e ex-prefeito, pessoa distinta, séria, porém, desgatada pela 'fadiga de materiais' do petismo. Não haveria algo de novo? O PCdoB não seria a solução com Fabrício?
Nada. O PT manteve Zé Raimundo e Herzem aliou-se com o DEM de ACM Neto e venceu de novo. Inacreditável. Mas, real. Herzem e Sheila, a dobradinha eleitos.
Herzem não chegou a assumir, de fato, a Prefeitura para sua segunda gestão. Contraiu covid em dezembro de 2020 e faleceu ontem. Conquista perde um grande político e figura humana admirável. Respeitável, educada.
Na última vez que esteve no plenário da Assembleia, em meados de 2020, repetiu o gesto de cumprimentar os jornalistas com um aperto de mão. (TF)