A exoneração a pedido do secretário de Segurança Pública, Paulo Bezerra, não deve ter surpreendido a cúpula do governo, ainda que, a forma como se processou, trouxe um enorme desgaste à administração Wagner.
Quer pelo inusitado da exoneração no dia em que houve uma blitzkrieg (termo alemão para guerra relâmpego) da oposição, com o ex-governador Paulo Souto comentando o assunto de forma dura na Rádio Metrópole, a oposição ocupando espaços na Assembléia Legislativa e em outdoors; quer porque o governo se mostrou na defensiva, acuado, aos olhos da opinião pública.
Há quem sustente que o governador deveria ter agido em relação a Segurança Pública, os conflitos internos entre o delegado chefe e o secretário, o aumento dos índices de criminalidade, a escassez de investimentos na inteligência e na repressão ao crime, e outros fatores, há mais tempo.
O governo teve em suas mãos pesquisas internas de avaliação da gestão que apontavam os pontos críticos da administração. Durante todo ano de 2007, a imprensa vinha alertando em seguidas matérias que esses gargalos se situavam nas áreas prioritárias populares da segurança, educação e saúde, por motivos que todos já conhecem. Os mesmos pontos detectados pela pesquisa.
Historicamente, o sentimento do administrador público se relaciona com o desejo de melhoras quando não se processa uma mudança em áreas consideradas críticas já identificadas, faz parte do processo. Daí que, se supõe, o governador não quis mexer na equipe entendendo que o governo está no seu primeiro ano e haveria tempo de melhorar os indicadores.
Natural que assim fosse, até porque, pressionado pela imprensa e pela oposição, se mudasse "fora do time" ou "no time do desejo alheio" poderia passar uma fragilidade do seu governo, no sentido de se posicionar a reboque da opinião pública. E isso Wagner disse em entrevistas que jamais faria.
Nesse aspecto, o governador manteve uma postura altiva e democrática juntos a cinco dos seus secretários mais criticados, Paulo Bezerra (Segurança), Jorge Solla (Saúde), Márcio Meireles (Cultura), Adeun Sauer (Educação) e Marília Muricy (Justiça e Direitos Humanos) saiu em defesa dos objetivos do seu governo, deu mostras de apoio explicítico a todos eles, e chamou à sí toda responsabilidade do que se passa na administração.
Obviamente que o governador sabe o que está fazendo e tem mais informações do que todos nós, comentaristas, secretários, oposição e população. Mas, na medida em que age em compasso democrático moroso, sem um suporte de defesa na própria equipe e na Assembléia Legislativa, de forma mais dinâmica e objetiva, está pagando o ônus da moeda sozinho.
Só o tempo dirá se o governador está no caminho certo ou não. O presidente Lula da Silva, por exemplo, é incombustível, inatingível. A última pesquisa CNT/Census o colocou numa posição privilegiadíssima na avaliação do seu governo (66.8%), apesar de todos os escândalos envolvendo personagens da administração pública federal.
A avaliação de Wagner, segundo o DataFolha, está na metade desse número. Se o governador se revestirá da couraça inatingível que protege Lula, ainda que seu governo não tenha nem sombra das escaramuças no âmbito federal, também só o tempo será o senhor da razão.
Mudanças em qualquer governo são naturais, exceto no de João Henrique que já contabiliza, até agora, 40 delas. A saíde de Bezerra, no entanto, expôe uma fragilidade pontual na administração pública estadual.
E o governador, como já dito neste Bahia Já, tem que apressar o passo para não deixar que as naus de Vasco da Gama singrem os mares da Bahia.
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