Política
Tasso Franco
16/11/2007 às  11:02

SUCESSÃO EM SALVADOR: A FRAGMENTAÇÃO DA BASE DE JOÃO HENRIQUE

Vai ser difícil manter a base unida


  O prefeito João Henrique (PMDB) pelo menos teve o bom senso de admitir dificuldades para sua reeleição diante da pulverização de sua base político/administrativa aliada que o elegeu, em 2004, com 75% dos votos do município de Salvador (veja bem), ainda que isso não tenha sido decisivo para sua eleição. João se elegeria de qualquer maneira, quer com apoio dessa aliança de segunda hora; quer não tivesse essa ajuda.
 
    O processo de fragmentação dessa base (ainda em movimento), originalmente alicerçada na composição de dois partidos políticos, o PDT e o PSDB, se acentuou no momento em que o prefeito entregou de corpo e alma a sua gestão administrativa ao PMDB, tentando-se salvar do naufrágio.

   Passados três anos do seu governo, sem cumprir o que prometera em campanha, destruindo o seu patrimônio político, João Henrique tenta se apegar ao bote salvador para sobreviver.    

   Vamos relembar o que aconteceu em 2004. Graças ao seu enunciado político organizado nos anos 1990/2000 quando se tornou defensor dos pobre e oprimidos, primeiro visando a classe média sufocada com impostos, taxas e chupa cabras, e conseguindo repassar com simpatia sua mensagem as classes C/D (maior contingente eleitoral do município), João Henrique obteve 42% dos votos no primeiro turno, o dobro dos seus principais advesários, César Borges (PFL) e Nelson Pelegrino (PT).  
 
   Nesse momento, indo ao segundo turno com César Borges e embarcando na campanha anti-carlista (o que não aconteceu no primeiro turno) influenciado pelas forças da oposição, o prefeito além de aceitar o apoio político do PT, PCdoB, PSB, PPS, PSC, etc, condicionou à sua gestão administrativa o ingresso dessas correntes, tornando a sua administração um verdadeiro balaio de gatos, sem comando central, cada qual puxando a brasa para a sua sardinha.     

     Este teria sido o erro palmar do prefeito, na medida em que, sequer conseguiu manter por muito tempo um núcleo duro e de sua confiança em torno do seu gabinete.

    Agora, diante da pulverização em movimento mais acelerado, com a proximidade do ano eleitoral de 2008, o prefeito, ainda que pressionado pelo PMDB já teria chegado ao limite de suas forças intervencionistas na arrumação da casa, pois, teme à sua porta os movimentos sindicais e outros com prováveis apupos e protestos. Só para dar um exemplo: a APLB/Sindicato é controlada politicamente pelo PCdoB.     

     Daí que, João Henrique certamente terá que conviver com os contrários pelo menos até meados de 2008 ou até mesmo num rasgo de pleno democrata até às eleições, dentro do seu estilo conservador e conciliador ao extremo. Há de dizer que, nesse momento, não existe uma saída confortável para o prefeito: se ficar o bicho pega; se correr o bicho come.        
  
    O que fazer? O prefeito se encontra diante de uma equação dificílima. E, obviamente, como tem dito, lutará até o fim para manter a coalizão, mesmo sabendo que é uma tarefa extremamente complexa. Não há outra saída: se rompe de vez com tudo e com todos para se alinhar de corpo, alma e espírito com o PMDB, corre o risco de isolar-se e ainda perder de vez o pouco discurso que lhe resta no plano da coerência política.
 
   Mantendo-se nesse banho Maria atual, dirá no futuro, quer com vitória; quer com derrota que se portou dignamente, cumpriu os compromissos assumidos e se mais não fez a culpa não lhe caberá.     

   A rigor, no momento em que o prefeito incorporou na sua administração essas forças, no campo gestor da cidade, há uma co-responsabilidade que certamente será cobrada ou lembrada pela oposição, em 2008.

   Como se processará essa cobrança e como a população vai se aperceber disso são outros 500. Ademais, se supõe em prováveis e admissíveis candidaturas dos partidos da base que, cada um deles, em algum momento lembrará feitos administrativos municipais, coisa aliás que Olívia Santana já vem fazendo com o segmento da educação.    

   João, portanto, falará do todo; e os outros, falarão das partes. É só lembrar que durante a campanha de Lídice da Mata a deputada federal, em 2006, ela se utilizou bastante da lembrança da geração de emprego e renda e do trabalho que seus partidários realizavam na Prefeitura. Vislumbra-se, adiante, na campanha de 2008, um nó a ser desatado pelos marketeiros para distinguir quem é quem, as partes e o todo, e quem fará oposição em bloco.

   A cidade espera uma voz nessa direção pois está órfã.    

   Esse processo envolverá, com certeza, o governo Jaques Wagner. Mas, Wagner, ao contrário de João, embora faça um governo de coalizão com ampla maioria na Assembléia Legislativa, contemplou aqui e alí seus aliados, porém, o seu governo é o governo do PT. Tem a cara do PT, assemelha-se ao governo do presidente Lula, com núcleos duros autênticos e alinhados com a ideologia do seu partido. 
 
    Daí que, o governador tem se colocado como magistrado, se organiza no sentido de que sobre para ele o mínimo de desconforto.     

    Difícil mesmo, portanto, é a situação do prefeito João Henrique. Entregou a arrumação da casa a muitos gestores, perdeu um tempo enorme na conciliação das partes e vê a sua base político/administrativa se fragmentar aos seus pés, cada um querendo tirar o tapete para que ele vá ao chão.


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