O prefeito João Henrique (PDT) deu um nó de porco na sucessão municipal de Salvador que, a essa altura dos acontecimentos, nem ele sabe como desatar.
Seu objetivo central está claro, meridiano, definido: reeleger-se prefeito, em 2008. Mas, tem que conversar com os russos para ganhar o campeonato. Não pode tirar uma de Mané Garrincha e sair driblando todo mundo, chegar à área adversária e fazer o gol, assim com essa facilidade toda.
O problema é que João tá driblando os russos e seu próprio time, num vai e vem que daria inveja, não só a Garrincha, mas a outros craques brasis.
Nesse jogo, já driblou o PDT, seu partido, desconhecendo-o, completamente; levou o PT até a linha de escanteio e deixou-o numa sinuca de bico, zonzo, até hoje sem saber como reagir; retrancou-se na defesa com o PMDB, ainda sem integrar-se oficialmente ao seu quadro; faz de conta que não conhece o PSDB; o mesmo com o PSB, PC do B e outros; e só considerou russo os Democratas, ex-PFL.
Aonde esse jogo vai chegar, ou como diria José Gomes Filho, o popular Jackson do Pandeiro no seu jogo 1 x 1, se o seu time perder vai ter zum-zum-zum, ninguém sabe.
Uma coisa é certa: o prefeito não quer perder, nem ceder. Quer ganhar. E diz a quem quiser ouvir que vai vencer com o apoio de todos, da unidade, inclusive do PT a quem deseja para vice em sua chapa.
No final da semana passada, o governador Jaques Wagner foi perguntado numa emissora de rádio se era verdadeira a seguinte história: se o PT comporia a chapa de João na vice. O governador desconversou e disse: "Assim você tá qerendo me botar numa fria". E, sem deixar a bola cair, acrescentou: "Até 2008 tem muita água pra rolar embaixo da ponte".
Ou seja, o PT desfrutando do comando do processo e tendo chance se ser campeão, melhor será levantar a taça do que servir de coadjuvante do processo.
E o como ficará o PMDB nesse enredo se o prefeito já anunciou que vai se trasnferir para essa legenda de armas e bagagens?
Trata-se, obviamente, de uma icógnita, na medida em que seu líder máximo na Bahia, o ministro Geddel Vieira Lima, embora use uma linguagem direta para se expressar em termos políticos (o que é raríssimo e bom), cobra uma fatura (em linguagem indireta) e exige para seu comando as jóias da coroa municipal que são as secretarias de Infra-Estrutura e Transportes, em mãos do tucano Nestor Duarte Neto. E quer mais: Planejamento e Sucom.
Geddel já anunciou que não bica com esse tucano, considerado infiel ao PMDB, e pôs a batata quente nas mãos do prefeito, o qual, como ainda não oficializou sua saída do PDT, tudo poderá acontecer, inclusive permanecer onde se encontra.
O deputado Jutahy Magalhães Júnior diz que o projeto do prefeito é pessoal, familiar e doméstico. Que ele não tem qualquer projeto para Salvador, que a cidade está abandonada e que o PSDB está fora desse jogo.
Em sendo assim, observando-se que Geddel não quer Nestor; e Jutahy não deseja mais a companhia de João, e dada à amizade do prefeito com Nestor, formatada ao longo da administração, como uma espécie de seu protetor, a decisão sobre Nestor caberá exclusivamente ao prefeito.
Trata-se de uma situação bastante delicada: se ficar com Nestor, rompe com Geddel; se mandar Nestor para casa, perde o amigo e conselheiro e leva o PSDB, de vez, para a oposição.
João esteve na casa de Nestor, na última sexta-feira, para justificar-se diante da intempestiva consulta ao PMDB em seu nome, sem sua autorização. O que conversaram é segredo, por enquanto. Hoje, agendou uma viagem à Brasília, para novo encontro com Geddel, certamente para marcar a data de filiação ao PMDB, ou manter o clima sob suspense, adiando-a sine-diae. Ou seja, sem dia certo, mais adiante, a depender das marés.
O PDT, de sua parte, aguarda essa decisão do prefeito, na medida em que, enxovalhado, desprezado, vai tentar se recompor, ao perder legendariamente um prefeito de capital e, provavelmente, um senador. João Durval está calado. Mudo. O mesmo se comporta o deputado federal, Sérgio Carneiro (PT), irmão do prefeito.
Sérgio quer ser prefeito de Feira de Santana. Mas, na Princesa do Sertão, Geddel já estendeu seus tentáculos e filiou Colbert Martins Filho (ex-PPS). De forma que, pode até parecer uma coisa surreal: na capital, João Henrique, no PMDB, com o vice do PT; em Feira, Colbert, do PMDB, com o vice do PT (Sérgio Carneiro).
O PT que abra o olho. Líder do processo eleitoral na Bahia, com Wagner no governo, ou se impõe ou terá problemas adiante.
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