A cidade do Salvador estará completando na próxima quinta-feira, 29, 158 anos de fundada considerando a data de chegada da armada de Tomé de Souza, primeiro governador Geral do Brasil, que aportou na antiga Vila Velha do Pereira, em 29 de março de 1549. A localidade da Vila Euro-Tupinambá da Bahia completa 497 anos e a Vila Velha do Pereira, levando-se em consideração que o donatário Francisco Pereira Coutinho chegou no Porto da Barra, em 1535, 472 anos.
Essa é uma discussão que parece não ter fim. O certo mesmo é que o I Congresso de História da Bahia, promovido pelo IGHB, em 1940, determinou que a data de aniversário de Salvador fosse 29 de março. Abstraindo-se desses momentos da história e conduzindo Salvador aos dias atuais, a administração municipal que se instalou no palácio Tomé de Souza entendeu que, alicerçada em pequenas realizações executaria um governo à altura do que os baianos esperam. Ou como diz a propaganda oficial da Prefeitura: "É com pequenas obras que se faz um grande governo".
Evidente que na ausência de programas, na falta de competência para dotar a cidade de projetos de porte, de idéias e ações competitivas no cenários nacional e até internacional, Salvador se vê despida dessas iniciativas e caminha, sonolenta, na marcha rancho da tristeza, para sequer igualar-se com as cidades de porte congêneres no Brasil, quando mais se analisada em comparativos com cidades asiáticas, canadenses, européias, mexicanas ou norte-americanas.
Fiquemos com um exemplo do Nordeste, aqui vizinho, da cidade do Recife. Enquanto o prefeito de Salvador anuncia como grande feito a reativação da ligação hidroviária Plataforma-Ribeira e uma composição de trem mambembe que engasga num túnel; o prefeito de Recife durante a celebração dos 170 anos da localidade, em 12 de março último, anunciou a implantação de um projeto de Oscar Niemayer, numa área de 33 mil metros quadrados e custo de R$18 milhões; e mais R$20 milhões na reurbanização da orla da Boa Viagem.
A ligação Plataforma-Ribeira, como respeito aos moradores dessas duas localidades, liga dois locais sem atividades econômicas, sem dinamismo, sem atrativos salvo o Boca de Galinha e a Sorveteria da Ribeira, ou se no futuro houvesse um projeto complementar de geração de emprego e renda ou de cultura e turismo que pudesse garantir a sua viabilidade e dinamismo. O projeto de Niemeyer, em Recife, prevê uma movimentação/integração de 20 mil pessoas dia, teatro, lojas, salão de exposições 1.6 mil metros quadrados, marquise e requalificação do comércio das ruas adjacentes.
Então vê-se aí a diferença do que significa um governo de pequenas obras, uma ciclovia aqui; barracas de alvenaria inacabadas na praia ali; uma limpeza de canal acolá; pintura de meios-fios, tapa-buracos, etc., etc., em miudezas sem valia, para uma cidade pensada, planejada e que gostaria muito de se inserir como um dos exemplos no cenário nacional. Internacional nem é bom falar porque Salvador está a quilômetros de atraso de quaisquer centros médio civilizados. Metrô aqui ainda é uma peça publicitária e andar de ônibus, quem chega de viagem no aeroporto, estará arriscado a chegar em casa ou no hotel sem as malas.
Vamos a outro exemplo que está aos olhos dos baianos, diariamente, na televisão. O Rio de Janeiro, que todo mundo sabe da questão da insegurança, vai sediar o PAN ou jogos pan-americanos ou das Américas, em junho próximo. Investimentos no Rio para o PAN, algo em torno de 1 bilhão de reais. O Estádio João Havelange será o mais moderno do país; Complexo do Maracanã, reformado; novo parque náutico; velódromo de padrão internacional; novo complexo para atletismo na Vila Militar Deodoro; novo Santos Dumont; estações de trem reformuladas; Cidade de apartamentos para atletas depois incorporada ao Rio; centro de convenções remodelado; área do Recreio dos Bandeirantes urbanizada; quiosques de Copacabana remodelados.
Da última vez que o presidente Lula esteve no Rio, recentemente, bateu pênaltis no Maracanã, posou para os fotógrafos e deixou mais R$100 milhões para investimentos no PAN. O presidente, também recentemente, esteve em Salvador no aniversário do PT, inaugurou uma fábrica da Nestlé, uma planta de gás da Petrobrás, participou de um jantar, mas, não deixou um conto em investimentos.
E aí! O que fazer com Salvador: Balbininho, abandonado; orla virando favelão; velódromo, ninguém nem sabe o que é; pista de atletismo só a da Fonte que está na pior ou da Vila Militar do Bonfim; aeroporto novo, mas, já precisando de ampliação; estações de trens reformadas com composição remodelada, porém, que não passa no túnel do Lobato; a estação da Lapa, em frangalhos; Secretaria de Habitação sem projetos; pistas asfálticas com milhares de buracos; 5 assaltos em média/dia nos ônibus. Cidade sem obras, sem projetos, sem perspectiva.
Salvador, portanto, vai comemorar seu aniversário sem uma perspectiva de futuro à sua frente. O governo Jacques Wagner, até o momento não deu sinais de que fará investimentos na capital, salvo as parcerias metrô e via portuária, em curso desde final dos anos 1990 e meados de 2000, sem uma sinalização precisa se o metrô irá até o aeroporto Luís Eduardo Magalhães integrando um possível novo sistema rodoviário-metroviário na confluência Salvador/Lauro de Freitas, numa integração desejada com a RMS na linha Norte, e numa perspectiva de atendimento até Camaçari, o pólo industrial mais dinâmico do estado.
Esperanças? Elas, sem dúvida, existem, porque no momento em que a população de Salvador as perder de vista é melhor retornar ao bonde puxado a burros e a iluminação a acetileno que tanto sucesso fizeram no alvorecer do século XX. Em 1905, com a chegada da luz elétrica, a Rua Chile engalanou-se de baianos vestidos a caráter e o governador abriu as portas do Palácio Rio Branco para um novo tempo.
Novo tempo que a cidade quer sempre renovado e está ansiosa para que os atuais governantes tenham essa mesma perspectiva.
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