Sob sol e chuva milhares de pessoas de baixa renda residentes em Salvador se aglomeram, diariamente, numa imensa fila nas proximidades do Largo da Sete Portas, centro, para se cadastrarem no Programa Bolsa Família do Governo Federal no posto da Central Integrada de Atendimento Social (CIAS), no último dos 15 dias programados pelo Ministério do Desenvolvimento Social para esse fim, em 2010. Esse é um dos programas mais objetivos do governo Lula no combate direto à linha da pobeza que funciona sem intermediários, no momento em que a família se cadastra e passa a receber os benefícios, e também representa um programa político importante nas relações governo/sociedade.
Nada mais justo. Há quem critique essa maneira direta de auxiliar a pobreza, dando benefícios sem uma contra-partida produtiva, embora o programa já tenha sub-programas de capacitação e treinamento no empreendedorismo micro, cooperativismo e outros, mas, entendo que se gasta com tanta maluquice neste país que, quando nada, o Bolsa Família tem sentido. Tem até razão de ser. Injeta recursos na economia e leva uma renda adicional a quem já tem alguma e até para quem não tem nada.
Sem esse guarda chuva governamental nos três poderes governamentais executivos - federal, estadual e municipal - a população pobre não sobreviveria. Já é difícil dessa forma, com a educação pública, atendimento do SUS, pró-Jovem, Prouni, SAMU, creches, assistência materno-infantil, pró-Leite e outros que, sem essa proteção seria um caos total. O problema do Brasil mais grave, diferente de outras parte do mundo mais contemporâneo, é que a classe média do Brasil, sobretudo essa nova CM-C é pobre. E O que se investe em saúde pública, ainda assim com SUS e outros programas, situa-se 45% abaixo da média mundial. Assim como, a educação pública é de baixa qualidade.
Vendo-se a pobreza nessa angústia tentando sobreviver com alguma dignidade, causa surpresa e indignação quando se anuncia com direito a cenas midiáticas, que a Comissão da Anista julgou o cineasta Glauber Rocha passível de "censura e perseguição" daí que concedeu a sua família, uma das viúvas do produtor cultural, a bagatela de R$234 mil de indenização e uma pensão de R$2 mil ao mês, "ad-infinitum". Óbvio que, quem paga essa conta somos nós contribuintes mortais. Aliás, pagamos não só esta, mas, várias outras. Inclusive de pessoas residentes na Bahia e que um dia se autoproclamaram combatentes contra a ditadura e o regime militar implantado no país a partir de 1964, ampararados em princípios ideológicos.
E o que se vê é que essa ideologia, o amor à causa, à luta, se transformou numa Bolsa Anistia paga com o dinheiro do contribuinte. No caso de Glauber, duvida-se que, por sua irreverência e pelo estilo de sua vida pessoal e política, se vivo fosse aceitasse uma pensão dessa natureza, até porque, classificou o ideólogo do regime militar daquela época, o general Golbery do Couto e Silva, de "gênio da raça", e o governador ACM como uma das principais personagens políticas do Brasil. Ficou muito famosa na Bahia uma entrevista que Glauber fez com ACM no estilo "baba ovo".
Só por esse ângulo e pelo fato de Glauber nunca ter lutado em trincheiras abertas de Polop, PCB e outros, já seria uma contradição a olhos vistos tal Bolsa Anistia. A fila para receber essa mamata atinge uma relação de 55 mil pedidos até agora, sendo que 14 mil apaniguados já receberam algum benefício, e 11 mil aguardam definições. Tudo isso com nosso suor, nosso esforço cotidiano. Agora, imagine-se uma Comissão de Anistia dessa natureza atuando em Cuba, no pós-Cuba democrática, se algum dia existir, seria uma fila de atravessar toda a ilha e ainda fazer voltas no Caribe. No Irã, então, daria voltas na Ásia e Oriente Médio.
Recentemente, requeri minha aposentadoria no INSS, aos 65 anos de idade e 33 de contribuição. Tive que apresentar uma papelada imensa, até uma certidão de nascimento do Cartório de Sêo Caria da gloriosa Serrinha, que nem existe mais. Mandaram eu aguardar um contato pelo Correio. Bem, se demorar demais vou recorrer a Comissão da Anistia.
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