Política
Tasso Franco
04/05/2010 às  09:04

O ATRASO DE SALVADOR

A capital baiana vive no século XIX


Desde o Fórum Mundial de Barcelona realizado no início desta década se debate um tema muito interessante para a vida das cidades: o chamado período de ambigüidade em que se verificam que os ambientes urbanos se encontram em níveis inferiores ao que a contemporaneidade exige. A série Mega Cidades que Zeca Camargo produz para o Fantástico, Rede Globo, mostra bem isso. Tóquio tem um nível de contemporaneidade X; São Paulo Y; a cidade do Méxio Z; e Dacca, em Bangladesh W. Exemplo: o metrô de Tóquio tem 300km de linhas interligadas a rede férrea e outros. São Paulo tem 70km, nem todas estações com interligações.             No momento, Salvador se debate com a possibilidade de mudar um pouco seu perfil de cidade atrasada, com prestações de serviços aos seus cidadãos muito aquém do que a contemporaneidade recomenda, salvo algumas exceções, diante da possibilidade de sediar jogos das copas das Confederações (2013) e do Mundo de futebol (2014). Não se pode imputar culpa a este ou aquele gestor. Mas, a um conjunto de fatores históricos que, somados, levaram a essa desordem urbana, sem solução, porque não existem investimentos programados para esse fim.

            Veja o seguinte: a Codesal, recentemente, divulgou um balanço sobre as chuvas de abril e afirmou que existem 500 assentamentos subnormais de habitação na cidade, com 12.000 pontos críticos passíveis de desabamentos. Então, só a melhoria da renda da população e um esforço gigantesco dos governos (municipal, estadual e federal) poderia minorar esse quadro. Mas, não há ensaios, projetos, nada nessa direção.

            Vou dar outro exemplo emblemático: Recife é uma cidade menor do que Salvador. O metrô de Recife foi inaugurado em 1988 e é formado por duas linhas: a centro e a sul. Tem 40 km de extensão e está interligado a Camaragibe e Jaboatão, na Grande Recife. O metrô de Salvador, sendo construído desde 1999, está previsto para ter 4.5km e não chegará sequer a uma sub-base rodoviária (Estação Pirajá) que faria transbordo para Cajazeiras. Ou seja, liga o centro ao nada.

            O governo do Estado está autorizado pela Assembleia Legislativa para tomar um empréstimo de R$541.6 milhões com a finalidade de melhorar a mobilidade urbana da capital. Existem duas propostas a serem analisadas pelos técnicos, uma da Seplan que prevê um VLT ligando o aeroporto ao Iguatemi com uma perna à Oeste interligada ao futuro metrô; e uma outra que seria assinada pelo SETPS, um corredor exclusivo para ônibus, apresentada pela Prefeitura.

             Volta-se, então, à contemporaneidade. O sistema de transporte por ônibus em Salvador é caótico, humilhante aos passageiros, um dos piores do país. No mundo todo, salvo raras exceções, as grandes cidades adotaram sistemas metroviários de massa ficando os ônibus, vans, bicicletas, veículos particulares, motos, etc, como complementares. É só pegar um avião é ir a Paris, Londres, Lisboa, NY, Boston e vê como funciona. Como não existe política de mobilidade urbana no Brasil, cada governo faz o que dá na telha.

            Tema, aliás, que deve nortear os debates dos candidatos a governador da Bahia. Agora, antes disso, a decisão está na mão do governo do estado: se fica com o atraso ou se opta pela contemporaneidade


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