Os festejos cívicos ao 2 de Julho, em Salvador, que outrora despertava um maior interesse político numa disputa no confronto de ideias entre governo e oposição, protestos sindicalistas e outros, se amesquinhou. Na atualidade, perdeu a força e o emblema que possuía e se tornou um lugar comum que mel testa a popularidade. Até o presidente Lula, que comparece ao evento há anos, não é o mesmo, nem causa o interesse antes despertado.
A população que comparece ao desfile se concentra no interesse maior às filarmônicas, às fanfarras e aos grupos folclóricos e culturais do que aos políticos. E, são raríssimos os movimentos simbólicos de amor a Pátria e a causa de liberdade, como os que eram praticados por Cosme de Farias e Cipriano José Barata de Almeida, só citando dois exemplos.
Em 1830, registra a história, que centenas de pessoas compareceram ao cortejo vestindo casacas modelo Cipriano Barata num protesto de afirmação da indústria nacional de tecidos de predomínio inglês, chapéus de palha e ramos de café nas mãos.
Os movimentos patrióticos desapareceram por completo. Ontem, o que vimos foram muitas filarmônicas e fanfarras, bandas de samba reggae e alguns apelos sindicais por melhores condições de vida dos seus trabalhadores. E no meio disso, grupos juninos e carnavalescos com isopores repletos de cerveja, até o MP tinha seu kit cervejaria.
A festa ainda guarda uma similaridade com o passado e os feitos das lutas são completamente desprezados. Ninguém fala em Lima e Silva e Barros Falcão comandantes que lutaram em Pirajá, de militares que, de fato, tiveram relevância. Até mesmo o controverso Pedro Labatut e o almirante Crochanne que, estacionado com suas naus em Morro de São Paulo, nunca atacou a armada de João Félix, o comandante da Marinha portuguesa, em Salvador, são irrelevantes.
A história está (em parte) mal contada com heroínas fajutas e muito folclore. Na verdade, as lutas pela Independência da Bahia foram de uma guerra de cerco que durou meses e o comandante português Inácio Madeira de Melo zarpou para Lisboa, na madrugada do 2 de Julho de 1823, juntamente com a armada de João Félix, sem ser preso e molestado. Uma realidade que precisa ser dita e ficam escamoteando.
Dizer que a independência do Brasil só se consolidou com a independência da Bahia é uma verdade, porém, isso não foi determinante. Madeira de Melo, o comandante português que se rebelou na Bahia após o 7 de setembro de 1822, o grito de Independência de Dom Pedro I, e posterior consolidação do Império com aclamação do imperador em 12 de outubro de 1822, e consagração e coroação em 1º de dezembro de 1822.
Madeira de Melo só possuía como força militar a Divisão Auxiliadora e vasos de guerra do almirante João Félix, sem forças, portanto, para a expansão de uma revolta mais ampla no Brasil, porque não tinha apoio do rei de Portugal, pai de Dom Pedro I, nem apoio da economia nacional - os produtores e açúcar da Bahia e os de café em São Paulo.
O mais que Madeira fez foi uma lambança na Bahia tentando ao menos manter a Bahia independente de Dom Pedro I e ligada a Corte portuguesa em Lisboa, mas, quando sentiu que não dava (dom João VI nunca lhe mandou reforços) foi embora. Quando chegou a Portugal foi preso. Posteriormente, liberado e se tornou herói por lá.
Hoje, observando-se em Salvador, os festejos ao 2 de Julho e aos do 7 de Setembro este último tem mais fervor cívico e menos folclore, mais público e entusiasmo do ponto de vista cívico.