Existem dois momentos na cidade do Salvador que a pobreza salta aos olhos da mídia com bastante força. Um desses é durante o Carnaval quando acontece a humilhante e vergonhosa presença de milhares de pessoas atuando como cordeiros, subemprego sazonal para cidadãos que seguram cordas de proteção para deleite de pessoas melhores situados economicamente na sociedade. O outro é agora, nas chuvas de outono, quando a cidade se expõe despida de infraestrutura, não culpa desta ou de outras administrações, mas, fruto de um processo histórico que vem se arrastando desde o Brasil colônia e que ninguém consegue resolver. Sequer minorar. Salvador completa 461 anos de existência como cidade no próximo dia 29 e 476 anos com presença de Francisco Pereira Coutinho e a Capitania Hereditária da Bahia, instalação da Vila Velha do Pereira, no atual Porto da Barra. Nos últimos 40 anos, a cidade se favelizou a partir da explosão demográfica dos anos 1970, quando saltou de 900 mil habitantes e um núcleo urbano razoavelmente estruturado, para a situação em que se encontra hoje, 3 milhões de almas, periferia inchada, miolo em capelinhas densamente povoado e desorganização geral.
A pobreza tem códigos e comportamentos próprios e ninguém consegue conter seus avanços de sobrevivência diante da dimensão da cidade, ineficiência da máquina pública e tudo mais. E, o que é mais grave, não tem PDDU, PDDdoB, PDDdoC ou o que lá seja para resolver essa questão, salvo em áreas controladas pelas empreiteiras no filão atlântico, ou no que se estruturou ainda no Plano Mario Leal Ferreira, das Avenidas de Vales.
Recentemente, dados citados pela Codesal como oficiais, dão conta da existência de 500 assentamentos subnormais que correm risco com as águas do outono que, apenas deram uma mostra inicial com as trovoadas deste março. O pior, como acontece historicamente, são os meses de abril e maio. Vê-se, pois, a dimensão do problema de Salvador: são 500 áreas com famílias correndo risco de morte. Um número assustador. Numa conta sem apuro técnico são mais de 10.000 pessoas nessa situação, no mínimo.
Como sair desse impasse? A solução demagógica já apregoada em recente campanha municipal não tem o menor valor. Pode até funcionar eleitoralmente, como valeu, mas, na prática, é inócua. O caminho - todo economista sabe disso e os políticos também - é a melhoria da renda da população, o que vem acontecendo a partir da implantação do Plano Real, FHC/Itamar Franco e mais recentemente com o governo Lula criando uma nova classe média C e retirando dessa faixa da pobre mais de 25 milhões de brasis.
É um processo lento e que exige avanços na economia nacional. Um ano como o de 2009 é prejudicial a esse movimento e deve até ser esquecido. A Bahia, por exemplo, sofreu bastante com sua planta com base na petroquímica/petróleo. E Salvador, por ser a cidade dormitório, idem-idem. Em 2010, os sinais são melhores e estima-se um avanço do PIB em torno de 6%. A Prefeitura deve aproveitar esse embalo e conseguir um maior volume de recursos possíveis para melhorar a vida das pessoas.
Investir R$60 milhões numa obra como a do Canal do Imbuí é sensacional. Que bom esse exemplo para se alastrar pela cidade, em áreas mais densamente povoadas e mais pobres.
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