Filosofia Popular
Rasta do Pelô
28/04/2016 às  11:43

MULHER DO RASTA curte Claudia Raia e filé no Caranguejo da Barra

Crônica do Rasta do Pelô revela como anda a classe C emergente e as dificuldades do lazer


   Dona Céu - minha querida esposa - apoquentou tanto meu juízo que fizemos um esforço conjugado, como diria Marcos Medrado com o seu 'unindo forças' e decidimos assistir ao musical de Cláudia Raia no Teatro Castro Alves, lá na fila Z6, que é a mais barata. Ainda pagamos meias-entradas porque eu já estou acima dos 60 de vida e a esposa menos que isso, porém, tem uma carteira de estudante da ASES, de um curso de new-looks-caleleireira na Escola do Círcuito Operário e arranjou essa benesses.

   Foi uma noite chic e nos preparamos para isso porque a classe C emergente está sofrendo bastante com essa medonha crise, os turistas sumiram do Pelourinho, as tocatas do meu tamboriam estão escassas e ainda bem que estou me virando com outras atividades vendendo churros e biscoitos na Av Joana Angélica, na boca da Estação da Lapa, o que tem me dado uma renda extra. 

   Minha esperaça é que, estou a cada dia mais confiante numa promessa de doutor Zéu, o qual ficou de me arrumar uma boquinha num tribunal e estou só aguardando a nomeação, agente de portaria que seja, diga-se uma área que sou bom. Ou alguma coisa na Casa das Leis pra ajudar aquelas meninas no cerimonial.

   Daí que, até fazendo conta nesse capilé futuro que, provavelmente virá, desembolsamos R$140,00 para ver dona Claudia Raia, um espetáculo maravailhoso, moças e rapazes glamurosos danaçando no palco, tudo de bom. 

   Logo quando chegamos ao TCA a primeira dificuldades foi estacionar nossa Brasília ao lado do teatro porque naquele estacionamento do Campo Grande cobrava-se R$28,00 e eu diesse a Céu, "é uma roubalheira e vou colocar nosso carro é na rua". 

   - E se roubarem , questionou. 

   - Quem vai quer levar esse caro como tantos outros mais bonitos - respondi.

   Quando estava estacionando embaixo de uma árvore vizinho ao prédio de doutor Jalon apareceu logo um guardador com um bilhete em mãos cobrando a taxa de R$10,00. 

   - Vou lhe pagar R$5,00 na saída se você estiver aqui olhando meu carro", disse. 

   O cara olhou para mil e respondeu: - Tomara que risquem seu carro com um prego. 

   Quis dar um carreirão no moleque mas Céu me conteve. Combinei de pagar R$7,00 porque Céu tinha R$2,00 na bolsa e me ajudou. 

   E lá fomos nós para o teatro, Quando chegou no foyer Céu quis fazer um look de sua roupa para mandar para sua irmã Rilza Cervejão e tome clic. -  Quel tal você gostou, perguntou-me.

   -Você tá parecendo com Encarnação de Velho Chico com esse preto fechado,. Só falta o pente espanhol no cabelo e um véu - arreliei.

   - Só não lhe dou uma caqueirada porque estamos no teatro - zangou-se.

    Nisso deu um calor enorme na mulher e ela pediu para comprar uma água na cantina do local. A fila estava enorme e falei pra ela: - Não dá. Vamos procurar um bebedouro.

    - Que bebedouro! Isso aqui não é o ICEIA, o Pinto de Carvalho. Entre na fila e compre uma garrafinha d'água.

    E lá fui eu. Depois seguimos para o interior do TCA e perguntamos a mocinha que fica na entrada onde ficava a fila Z6-34 e 35. 

    - É lá no céu moço. O senhor pode subir por alí - apontou.

    Quando chegou na cadeira com a letra Z observei se já tinha chegado na fila do nosso lugar, um senhor de blazer nos disse: - Suba mais seis degraus. 

    Pronto nos acomoados e assistimos o show numa boa. Bati tantas palmas que fiquei com as mãos doendo. Realmente, dona Claudia é de tirar o fôlego e os figurinos que usou durante o espetáculo muito bonitos.

    Após o show, de volta a Brasília, Céu então disse que para fechar a noite gostaria de jantar fora nalgum lugar bacana.

    Sugeri irmos ao bar e restaurante do Tirso, alí perto do teatro e a esposa esperneou: - Olhe se vou desfilar com meu look no bar do Tirso, ficar no meio da rua próximo a Ladeira da Fonte com ônibus passando e jogando fumaça na gente.

   - Então vamos a Casa da Itália ? - fiz nova sugestão.

    -Deus me defenda. Lá é bom, a comida é excelente, tem uma pizza deliciosa, mas quero ir para a Barra, para um lugar badalado, quiçá o Oui ou a Casa Vidal.

    - Endoidou mulher! Com que dinheiro a gente vai pagar a conta do jantar? - questionei.

   - Eu tenho R$70,00 na bolsa e creio que você ainda tem algum capilé no bolso - respondeu.

   - Tenho R$15,00 e esse dinheiro só dá pra tomar duas cervejas no Caranguejo do Farol, que também é um ligar chic, falei.

   - Então, já que não podemos ir no Oui - falou como se fosse uma francesa - vamos ao Caranguejo.

   -E lá fomos nós. Parei a Brasília na Marques de Leão e o guardador quis logo me tomar R$10,00. Repeti o que disse ao guardador do TCA que daria R$5,00 na volta. Ele consentiu. Ainda bem.

   Céu foi logo dizendo que não iria quebrar patinhas de caranguejo nem por sonho. Iria pedir um Filé Le Cirque com batatas souté e tomar uma gelada. 

   A questão é que o capilé só dava pra um filé. Então, dividimos numa boa. Quem não gostou muito foi o garçom, um camarada chamado Paulo Mocofaia, que queria nos vender dois filés.

   O certo é que a conta fechada com as cervejas deu R$74,00 e dona Céu gastou seus R$70,00 e eu ainda interei com R$4,00. Restava a gorjeta do garçom e dei R$5.00. No final só sobru R$5,00 que dei de bom coração ao guardador de carros.

   Diria que foi um complemento de noite glamurosa nossa esticada, com vista para mar, curtimos a mil tanto no TCA quando no Caranguejo e só não foi melhor porque quando já estava chegando em casa, sem 1 conto no bolso, pegando a Freitas Henriqaue de Baixo, o pneu traseiro daBrasilia furou. 

   Sorte que era uma ladeirinha e deu para puxar o carro até a porta de casa, com a jante fedendo de fumaça e dona Céu com os sapatos em mãos.

   ​Mas, que foi uma noite maravilhosa, isso foi.


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