Na sexta-feira de santo Antônio de Categeró desci até o Boteco do Teco e estava tão animado, não sei exatamente porque, depois de cumprimentar os presentes solicitei uma Pfizer bem gelada, c.. d e foca.
Teco olhou-me desconfiado, provavelmente sentindo que errara no pedido ou estava abilolado e coçando a barba respodeu: - Sêo Lubi não temos esse tipo de cerveja para atender o nobre cliente.
O quase vereador Bino Pintor, presente no recinto, ao ouvir a conversa soletrou: - Isso é mesmo que eu pedir um rabo-de-galo com vermut CoronaSerra - e acendeu um cigarro solicitando que eu refizesse a pedida.
Pedi desculpas ao Teco e justifiquei: - É que estou tão obcecado pela vacina contra a Covid que troquei a Brahma pela Pfizer. O mundo está virado de cabeça para baixo, o que desejo mesmo é uma bramosa.
Bino, que já sorvera seu rabo-de-galo, complementou: - A viração é em Brasília. Aqui na Serrinha tá tudo nos conformes, tudo nos lugares. Vês, no Planalto Central em plena pandemia, ano passado, a Câmara dos Deputados gastou R$31.9 milhões com aluguéis de veículos e gasolina.
Suspirou para uma traga no fumo e seguiu: - Representa, algo em torno de R$540 mil para cada deputado que usou a verba. É tanto combustível que daria para ir a lua e voltar.
- Pensando bem - comentou Toinho do Caminhão que acabara de chegar ao recinto - como gasto 100 reais de óleo diesel por semana na minha máquina de trabalho, aproximadamente 400 pilas ao mês e/ou 4.800 ao ano, se fosse deputado levaria 115 anos para consumir esse cota.
- Se você fosse deputado, mas não é, em 4 anos - comentei - teria uma cota de 2 milhões e 160 mil o que daria para abastecer seu caminhão durante 460 anos.
Pinguinha também apareceu e estacionou sua moto cinquentinha na soleira do meio fio. - Se ouvi bem, com essa grana, eu abasteceria minha moto por mais de 2 mil anos nem Matusalem ganharia de mil.
O riso foi geral. A bramosa corria solta. Uma trempe com duas perdizes de cativeiro já estavam na brasa, o caminhão do lixo da Prefeitura passou recolhendo alguns detritos na rua, máquina nova zerada, plotada. A sexta porometia. Um carro de som girou pelo local o locutor anunciando a abertura de uma casa gourmet com todos tipos de vinhos e brioches e uma promoção de Hilux na Serra Veículos.
Pinguinha estava admirado com a pujança da Serrinha. Tomou um gole da gelada, virou as perdizes na trempe para assar o outro lado das aves, lançou pitadas de sal, bateu nelas com umas folhas de alecrim e perguntou-me - uma vez que me achava um sábio, conhecedor de Pindorama - porque o 'messias' disse que o Brasil está quebrado quando o próprio, recentemente, estava al mare numa lancha, e o PSG da bola abriu as portas de sua mansão em Mangaratiba para uma festa de arromba com beldades?
- Coisas da política meu distinto Pinga - também molhei o palato com a gelada - o 'home' é bipolar: um dia diz uma coisa, no outro dia outra. Saímos da quebradeira para o Brasil maravilha em menos de 24 horas. É um caso raro no mundo da macro economia, nem o Keynes; nem o Guedes seriam capazes de tal façanha em tão pouco tempo.
- O 'home' tem razão. Eu mesmo estou quebrado - Bino revirou o bolso mostrando que estava puro - mas tenho amigos como V.Exa. daí compartilhamos essas cervejas, essas caças de cativeiro assadas no capricho, os rabos-de-galos - sabendo que o amigo honrará as despesas. É isso que o 'home' quis dizer: um quebrado pode viver na maravilha.
- Na chepa - sorriu Teco balançando a cabeça e abrindo outro litrão.
- Brindemos o quebrado-maravilha - aludiu Pinguinha - trazendo uma das perdizes na ponta do garfo bem tostada e elevando os copos ao céu dando um tim-tim no copo do Bino.
- Brindemos a pujança, a bolsa em alta, o dólar em alta, a riqueza, Guarujá, Guarajuba - gritou acolá Tolentino Caneco que estava chegando com seu red no alumínio. - Quem diz que o Brasil está quebrado não sabe de nada. Não come uma carne de sol com pirão de leite no Baú, não conhece o Jorrinho, as águas termais de Cipó, o caldo verde de Célia em Euclides, e fica inventando coisas querendo que voltemos ao bico de pena nas próximas eleições, a época de Prudente de Morais quando não existia o voto livre e soberano, discursou o homem das leis.
- Em defesa da urna eletrônica, em defesa da democracia - falei entusiasmado para exaltar os ânimos solicitando outro brinde aos convivas - e que não aconteça entre nós o que se deu nos Estados Unidos com a invasão do Capitólio, 5 mortes a bala, e um presidente topete que não deseja deixar o poder mesmo perdendo no voto, para a vontade popular e convocou até um homem urso com um chifre e uma lança para ameaçar deputados e senadores.
- Apoiado - disseram os convivas a essa altura presentes no local o poeta Serafim Alves, o edil Reizinho, senhora Ósanta, senhora Madalena, o psicólogo Seramov , o cabo Fiuzão, Matos CUC, integrantes da Confraria do Bode Expiatório e do nosso Conselho Político - que brindavam a vida, a decência, a democracia, o fim das rachadinhas, o apoio a Barroso e ao STJ, e a imediata aplicação da vacina entre nós.
Mais três perdizes das gordinhas foram postas na trempe. A sexta avançava pela noite, a lua brilhava no Morro da Santa, a essa altura os mais adeptos do copo já não distinguiam qual a melhor vacina, se da Pfizer ou a Coronavac, os patriotas locais defendendo que a melhor opção seria a CoronaSerra, nossa, nativa, nascida no Instituto de Pesquisa da Serra, já aplicada em vários voluntários e nenhum deles teve efeitos colaterais mais radicais, ninguém virou jacaré, ninguém saiu cantando feito saqué, ninguém teve dores de cabeça além das normais curadas rapidamente com um Doroflex.
- Eu mesmo - pediu a palavra o poeta Serafim Alves, no dizer popular já meio chumbado porque misturou a bramosa com uma branquinha das Gerais que chama de seletinha, e disse: - Esta sim, a CoronaSerra é a melhor, não tem chip chinês para nos transformar em comunista - cuspiu no chão 3 vezes ao dizer essa palavra -; nem aquela que pode levar o camarada a lua a tal da sputinik.
Pinguinha que trazia mais uma perdiz assada na ponta de um espeto comentou: - Eu só tomo a vacina que dona Bete tomar juntamente com Sêo Filipe, que não só besta.
Curioso, Matos CUC quis saber quem eram essas duas personalidades amigas do Pinguinha, até para fazer uma divulgação na Rádio Mundial no programa do Berraz.
- Ora, meu Jorge de Benedito, se permite chamá-lo assim, se pensas que é dona Bete costureira da Barão e Sêo Filipe da Padaria, enganou-se meu querido. São a rainha e o príncipe do Reino Unido, ela com 94 anos e ele com 99 anos, meus amigos por simpatia.
Depois dessa só nos restou mais um brinde a vida, a longevidade e a riqueza. O 'messias' que refaça seus conceitos de quebradeira. Aqui, ao menos, somos felizes e ricos de espírito e até amigos de reis, rainhas e príncipes.
Não é à tona que a Ester, minha nobre esposa, chama os filhos de William seus sobrinhos para desgosto de sua real sobrinha Sol.
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****Esta é uma crônica de ficação qualquer semelhança de nomes reais é mera coincidência.
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