Causos & Lendas
Lobisomem de Serrinha
01/08/2016 às  19:10

LOBISOMEM teme terrorismo em Serrinha e prepara forças armadas no Teco

Serrinha já está em alerta e mulher do Lobi vai ao shopping toda paramentada temendo um ataque


   Com essa onda de terrorismo que se espalha em algumas cidades pelo mundo, dona Ester Loura, minha esposa, anda tão apavorada que aconteça algum ato criminoso em nossa city que adquiriu capacete israelense de fibra e colete a provas de balas, protetores de joelhos, pescoço e pernas, que tá parecendo um robô quando vai ao Serra Shopping. 

   Como achei engraçado ela com essa vestimenta robótica inquiri o que se passava, se estava indo a algum baile à fantasia?

   - Estou indo ao shopping encontrar-me com minhas amigas lá no Japa e estou apenas me prevenindo para algum possível ato terrorista - explicou.

   - Mas logo aqui na Serra, uma terra de paz, por que alguém poderia cometer um ato dessa natureza? - voltei a falar.

   - Você não viu o que aconteceu em Nice, na França com aquele caminhoneiro! em Munique, na Alemanha, num shopping! e recentemente em Salvador com o 'homem bomba', de repente também acontece aqui e tenho que está preparada. Vamos ter uma Vaquejada, em breve, e o mundo está de olho em nós - respondeu.

   Tentei explicar para Ester que a Vaquejada é uma festa regional, que Serrinha não tinha nenhum jidahista, que é uma terra sem visibilidade mundial, que nossas forças armadas do TG 141 não estão na Siria, mas não adiantou.

  - Terra de paz uma ova. Aqui tem muito maluco e ladrões à mancheia. Levaram a bolsa de minha amiga Cordélia, na feira da última quarta, em plena luz do dia, os comerciantes gritaram "pega o ladrão", mas, não adiantou nada. O gatuno pulou por sobre a barraca de um parente de Sêo Grilo Pedreiro, passou feito um avião pela rua da antiga Telebahia, um aderente de Sêo Toinho do Caminhão tentou pegá-lo e nada. Ele fugiu lá pro bairro da Santa. Assim está a Serrinha", enfatizou benzendo-se.

   - A Santa é um bairro protegido por Senhora Sant'Anna com as bençãos do bispo - tentei acalmá-la.

   - Bispo e reza nada adiantam. Degolram foi um padre no interior da França e você que vá na Santa aqui de noite. Vá pra ver o que acontece. Volta sem a carteira e sem veículo se os tiver . E pode também ser degolado - frisou.

   - E será que vão me filmar como fizeram com o padre francês? - pilheriei.

   - Não duvide. Outro dia arracaram os 'quimbas' de um ousado a canivete - benzeu-se.

   O certo é que não convenci Ester para ela mudar de veste e a tal foi para o Shopping da Serra toda paramentada. E eu fui cuidar dos meus afazeres. 

   No final da tarde compareci a Barbearia de Soté para aparar alguns pelos das narinas e fazer a barba. Para minha surpresa, a conversa no salão era sobre o novo modelo de terrorismo, praticado por 'lobos solitários' individuos que surtam e saem matando por aí. 

   Dizia um camarada parente dos Góes que Serrinha não estava imune ao terror e já ocorrerá atentados de pequenas montas em furtos de lojas. 

   Soté rebateu dizendo que "foram ladrões pés-de-galinhas e as únicas bombas que assustavam nossa comunidade eram as soltadas por Sêo Antônio Nunes na época do São João".

   Entrei na conversa e disse que eram "bombas de bater nas paredes do Armazém de Sêo Feliciano e não matavam nem um calango".

  - Não matavam, mas, deixavam qualquer um surdo", obtemperou Gaita Petroleiro.

  - Se eram como as bombas do Judas do Bacalhau da Barão não assustam nem meninos do infantil do Colégio Gatão - gargalhou um parente do finbado Tuica.

   A conversa seguiu até a boca da noite quando dirigi-me para o Boteco do Teco para tomar uma fria. Lá encontrei o 'barbacoa' Pinguinha puxando fogo e Alírio Vermelho, em conversa animada. 

   - Que cara amarrada é essa Excelência - saudou-me Pinguinha.

   - Preocupado com o terrorismo. Degolaram até um padre na França.

   - Isso é lá no fim do mundo. Aqui a gente degola é a tampa da garrafa da gelada na ponta do sabre como fazem os árabes - ironizou pedindo a Teco que trouxesse um litrão para ele mostrar como se fazia.

   - Deixe de brincadeira que a coisa é séria e precisamos alertar nossas forças de segurança para um provável ataque - comentei.

   - Esse é um problema porque o alarme da cidade, os sinos da matriz, estão sem tocar há algum tempo - alertou Alirio Vermelho.

   - Dizem que o sacristão está adoentado e o bispo ainda não conseguiu outro badalador de sinos - revelou Teco.

   - Precidsamos tomar uma providência, pois, esse é o mais eficiente meio de comunicação que temos para alertar a população e mobilizar as tropas - disse.

   - Que não seja por isso. A gente pode contratar Sêo Ademário do carro de som e ela fará o alerta, em caso de necessidade - brincou Pinguinha. 

   - Não vai dar certo porque ele vai falar que estamos sofrendo um ataque terrorista e no meio disso pode também anunciar produtos do Rei da Melancia - aduziu Alirio.

   - Qué que tem! Pinguinha fez uma imiticação: - Atenção, atenção, estamos sofrendo um ataque terrorista, não saiam de casa por favor, tranquem as portas. Se der um tempinho comprem umas tangerinas no rei da Melancia. As mais baratadas da cidade.

   - Pare de brincadeira Sêo Pinguinha - adverti. Vamos nos mobilizar e convocar nossos atiradores de elite. Nossos homens bons de gatilho para nos defender. Mobilizar nossos drones e robôs.

   - Posso garantir que tenho dois espingardeiros no Catinho, Toinho Doca e Anacleto Queiroz, que não erram tiros e suas espingardas espalham chumbo para todo lado - garantiu Alírio.

   - Como é que um homem doca pode atirar bem Sêo Alírio - pilheriou Teco.

   - É tiro certeiro. Tiro de fundo. Agora, por pouco não foi convocado para as Olimpiadas do Rio. Acerta em seis urubus de uma só vez - comentou.

   - Esse é bom. Podemos colocá-lo no topo do prédio da Rádio Continental, caso sejamos atacado na Luiz Nogueira; ou na entrada da cidade para proteger a rodoviária - comentei.

   Nada disso vai adiantar. Vamos tomar nossa cerveja que é o melhor e rezar pedindo proteção a Sant'Anna glorioza comentou Pinguinha puxando a peixeira da cintura para abrir mais um litrão. 

   O certo é que, de litrão em litrão, cheguei em casa cambaleando e encontro minha neta Sol estudando em nossa casa. 

   Já era a hora do jantar, a nossa secretária Ju Fraldas havia preparado uma sopa das melhores temperada com asas de borboletas negras, quando chega Ester toda paramentada.

   Sol me cutuca e diz: - Vô! Socorro, estamos sendo atacados por algum ET. 

   

   


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