Literatura
Rosa de Lima
25/08/2023 às  19:22

ROSA DE LIMA COMENTA LIVRO “OS CRAQUES QUE VI JOGAR” p WALMIR ROSÁRIO

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e escritor


  Walmir Rosário além de radialista, jornalista e advogado é excelente cronista e memorialista. Quem já leu "Crônicas de Boteco" (2021) com descritivos das peripécias dos boêmios de Itabuna pelos arredores do Beco do Fuxico no ABC da Noite e outros templos sagrados de quem aprecia a prosa, o bom comer e bebidinhas variadas, sabe que a pena deste autor, jornalista de longo curso, é um legado à memória da capital grapiúna em textos bem humorados e agradáveis de serem lidos por quaisquer leitores.

  Com escrita simples, bem compreensível a todos, Walmir Rosário publicou recentemente "Os Grandes Craques que Vi Jogar" (Editora Ojuobá, Salvador, 155 páginas, leitura pelo kindle Amazon ou venda do impresso por esse mesmo site a 9 dólares o exemplar + o frete para qualquer local do Brasil) um apanhado de 40 crônicas sobre futebol, quase todas sobre o futebol itabunense e regional (Canavieiras) do Sul do Estado.

  Walmir é uma personalidade do jornalismo baiano com extensa atuação como editor de dois jornais de Itabuna além de trabalhar em veículos de comunicação de Salvador e de outros estados. No rádio foi repórter, produtor, apresentador e editor. Na publicidade, redator de peças multimidias e atuou em campanhas eleitorais. No jornalismo, repórter e coordenador de publicações e editor; assessor de comunicação de imprensa em instituições representativas do comércio, serviços e indústrias.

  Atualmente, quase aposentado, mora em Canavieiras e produz crônicas e ensaios para livros. Como o próprio autor diz traça o perfil dos craques “das antigas” que tinham verdadeiro domínio da bola. Em cada crônica expressa o verdadeiro sentimento desses jogadores amadores ao jogar por suas esquipes e a seleção de sua cidade, o que é bem diferente do futebol profissional que se pratica na atualidade onde o "money" está sempre à frente da esportividade.

  Segundo o dizer de Walmir "bastava envergar o manto sagrado para que esses craques se superassem das deficiências dos antiquados treinamentos físicos e táticos das equipes do interior e entrassem em campo com a finalidade de ganhar o jogo. E com essa sequência de vitórias chegavam os tão sonhados títulos nos campeonatos municipais e intermunicipais, façanha conseguida pela Seleção de Itabuna ao conquistar o hexacampeonato baiano intermunicipal".

  Em "Vadinho Bombom de Mel, lateral de árbitro de futebol" comenta: "Um lateral direito que botava ordem na casa sem precisar apelar para os famosos pontapés nos adversários, embora soubesse entrar firme quando necessário, desarmar e sair jogando. Esse era Vadinho, também conhecido por "Vadinho Bombom de Mel", assim chamado por ter vendido esses doces na juventude, jogador dos primeiros a ser escolhido nos babas nos muitos campinhos de futebol do bairro da Conceição, em Itabuna".

  Esse é outro dado relevante nas crônicas de Walmir situa os craques que viu jogar com informações das suas comunidades, os bairros onde moravam, as localidades onde nasceram, como eram esses locais em tempos idos, traços de identificação dos atletas e as dificuldades que tinham para enfrentar a sobrevivência pela vida, alguns abnegados e mecenas do futebol, e o amadorismo feito com amor muitas vezes com sacrifícios das famílias. 

  Assim, por exemplo, analisa em "O Itabuna de 1970, uma lição de como vencer a crise" time lembrado como símbolo da prática do bom futebol, "embora muitos torcedores não se lembrem da história - real - do campeonato baiano daquele ano". O autor diz que "se puxarmos pela memória, conseguiremos lembrar que o futebol profissional baiano do interior sempre foi marcado por crises. Sem planejamento, os rios de dinheiro despejados pelos benfeitores para a contratação de jogadores do eixo Rio - São Paulo secavam com a falta de vitórias nos campeonatos".

  O livro, pois, é também um documento valioso para os pesquisadores do futebol de Itabuna e região Sul com dados pormenorizados de vários episódios, dentro e fora dos gramados, histórias curiosas, muito amor à prática do esporte, enfim, um aulão que pode (e deve) se desdobrar em novos estudos e livros.

  Numa das mais pitorescas crônicas, Walmir anota como "Após 10 anos Canavieiras quebra o tabu em Belmonte" lembrando do clima de rivalidade entre duas cidades-irmãs (ou mãe e filha como queiram) em jogo realizado no estádio Orlando Paternostro, de Belomonte, na década ce 1960, onde (aparentemente) a seleção de Belmonte era imbatível e o goleiro Padre não deixava passar nada. Pois assim dito, Canavieiras venceu a peleja por 2x1, em feito histórico sendo sua seleção recepcionada na cidade com grandes festejos.

  São essas crônicas do cotidiano da uma região que os leitores vão encontrar em "Os Craques Que Vi Jogar", um livro memória, rico em dados sobre o futebol da região Sul do Estado celeiro de grandes craques do esporte amador e também do futebol profissional da Bahia. Tudo isso na pena de quem vivenciou os eventos futebolísticos, de quem acompanhou de perto as partidas e conhece a cultura das cidades citadas por ser nato da região e nela conviver até os dias atuais como observador e e participe como radialista e jornalista.

  Não se trata, portanto, de um livro de pesquisas sobre o futebol de Itabuna e região e sim uma obra narrada por quem conviveu com esses personagens e lugares, em especial, Itabuna, Ilhéus, Canavieiras e Belmonte.


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