O jornalista José de Jesus Barrêto que assina ZédeJesusBarrêto é um craque da bola na escrita. Mais jovem, até que controlava com destreza a pelota e fazia seus gols. De vez em quando dava uma de Gerson promovendo lançamento perfeitos. Mas, parou por aí e se dedica mesmo é ao jornalismo e a literatura, autor de vários livros de ensaios sobre a cultura da Bahia e especialista em futebol.
Portanto, na análise de um jogo de futebol, no comentário, na interpretação do que acontece nas quatro linhas durante uma partida é imbatível. Sua pena é conhecida pela exatidão como descreve os lances, pelas críticas que produz em relação ao comportamento dos atletas e dos treinadores em campo, sempre dentro dos princípios éticos de respeito a todos, sem bajulamentos e sem exagerar nas tintas quando algum ator desses comete falhas gritantes.
Recentemente, após publicar suas crônicas dos jogos da última Copa do Mundo do Catar, 2022, e também a história das copas desde sua primeira edição, em 1930, neste BahiaJá, a Editora Ojuobá publicou no site Amazon.com seu novo livro intitulado "Historiando as Copas" (Ojuobá, 216 páginas, impresso 9 dólares + o frete para qualquer parte do Brasil e 6 dólares para leitura no App Kindle) com uma análise detalhada de todas as copas, o momento político de cada período, as convocações, as preliminares, os técnicos, os principais jogos especialmente as finais com as escalações dos atletas e as seleções campeãs.
Trata-se, pois, de um apanhado histórico bem referenciado realizado por quem é especialista em futebol, de uma pessoa que está envolvido com esse esporte há muitos anos e é, além de estudioso da matéria, um personagem que acompanhou pelos meios de comunicação muitos dos jogos, viu centenas de partidas e até as reviu. O que significa dizer que presenciou os times em campo, as disputas, as jogadas, as novas tecnologias que foram sendo usadas no futebol ao longo de 90 anos, e que são muitas, desde os formatos e os materiais das bolas, as modificações nas regras, o surgimento de arenas futebolísticas de alta qualidade e assim por diante.
O leitor tem à disposição um relato feito por um apaixonado do futebol, um jornalista que conhece da matéria, mas, sua paixão, diga-se, não está relacionado a algo passional, fora do controle. Pelo contrário seu trabalho foi todo pesquisado e vivenciado contendo informações precisas e valiosas, curiosidades, como o próprio autor diz na introdução: "A bola tem magia, segredos, vontades...um pingo de divindade. Brinquedo de Deus". E o jogo da bola com os pés, invenção dos ingleses, quando a bola rola em campo, "palavras são meras firulas" - assim comenta o autor.
Em "Historiando as Copas", Barrêto (é também chamado pelos colegas do jornalismo de Barretinho) em sua narrativa vai além dos jogos, dos lances, dos ídolos, dos vencedores e derrotados, e acrescenta dados sobre as circunstâncias em que aconteceram cada uma das 22 competições - a política, a economia mundial, "as artes e as artimanhas dentro e fora dos gramados" nesse maior espetáculo esportivo do planeta. Lembrando, ainda, aos leitores que não estão familiarizados com o futebol, que o Brasil é o país que esteve presente em todas as Copas, já sediou duas delas, em 1950 e em 2014, e detentor de cinco taças (penta campeão), mas perdeu para o Uruguai, em 1950, na final que ficou conhecida como o "Maracanazzo" uruguaio; e a de 2014, humilhado pela Alemanha naquele 7x1 onde a seleção brasileira sequer esteve na final.
A história da seleção brasileira, no entanto, é brilhante e o autor mostra isso na conquista de 1958, na Suécia, imortalizada com o refrão "a taça do mundo é nossa" e a chegada de Pelé ao mundo do futebol; a de 1962, no Chile, o bicampeonato em que Mané Garrincha entortou laterais e zagueiros; o trio de 1970, no México, onde prevaleceu a arte, a ginga e a categoria do futebol brasileiro com Pelé no auge; o tetra em 1994, nos Estados Unidos; e o penta na Ásia, em 2002. Isso dito com detalhes, com a formação das equipes, os técnicos, os jogadores, todo um trabalho de pesquisa histórica primoroso.
Veja o que ele narra sobre a Copa de 1930 que aconteceu no Uruguai: "O Brasil foi para a Copa do Uruguai com uma equipe muito enfraquecida por conta da briga bairrista dos cartolas do Rio x São Paulo. Os paulistas ressentidos com os cariocas que já comandavam o jogo, não cederam seus atletas e, por essa picuinha, ficou de fora do escrete, por exemplo, o atacante goleador Arthur Friendereich, mulato, o Pelé da época, um dos maiores artilheiros da história".
Em 1934, Copa na Itália, "sob os auspícios do ditador Benito Mussolini, o 'grande lider' idolatrado pelos italianos e abençoado pelo Vaticano, o Duce (chefe e todo poderoso) do Partido Nacional Fascista" época em que o Brasil era governador por Getúlio Vargas deu Itália como campeã. Segundo Barrêto, "a Itália, favorecida por arbitragem escancaradamente caseiras, ganhou o título para delírio de Mussoulini e seus seguidores, os 'camisas negras'".
Em 1950, aconteceu o "Maracanazzo", a seleção brasileira da época do general Eurico Gaspar Dutra com Barbosa, Juvenal Amarijo e Zizinho sob o comando do técnico Flávio Costa e com a mão na taça, jogando em casa, no Rio de Janeiro, perdeu para o Uruguai de Ghiggia, Obdúlio Varela e Tejera, o que teria gerado segundo o cronista Nelson Rodrigues a síndrome do "cachorro vira-latas um complexo de inferioridade doentio superada em 1958 com Garrincha, Pelé, Didi e Vavá vencendo a Copa da Suécia.
O trabalho de ZédeJesusBarrêto é um primor, uma narrativa perfeita de todas as copas do mundo, da imbatível Hun gria que caiu para a Alemanha, em 1954; do futebol força dos ingleses seleção campeã de 1966; da vitória Argentina na copa da ditadura, em 1978; da França de Zidane campeã de 1998; da Itália de Buffon tetracampeã de 2006; da Espanha vencedora da copa na África do Sul, 2010; e do tri dos argentinos com Messi com consagração deste grande atleta no Cata, em 2022.
A recomendação para ter esse livro é plena, um compêndio de cabeceira e de permanente consulta do mundo da bola jogada com os pés.
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