Literatura
Rosa de Lima
18/11/2021 às  08:41

ROSA DE LIMA COMENTA A GRANDE GRIPE, JOHN BARRY, PANDEMIA MAIS MORTAL

Entre 50 e 100 milhões de pessoas morreram diante gripe espanhola, pandemia de 1918/1919


   A ciência está sempre em movimento. A cada época, no entanto, vão surgindo novas doenças (patologias) e também novos nedicamentos, vacinas, procedimentos sanitários diferenciados e uso de novas tecnologias numa guerra sem fronteiras enfrentadas pelo homem. E, o que parece sintomático, a cada um desses mvimentos endémicos e pandêmicos, os cientistas, os pesquisadores, os administradores da saúde pública coletiva e os profissionais de saúde vão utlizando novas técnias, muitas das quais são cumulativas e vão se somando ao que já se sabe, já se experimentou para que as pandemias não sejam tão severas em vitimas fatais. 


Por isso mesmo, o livro "A Grande Gripe" - a história da gripe espanhola, a pandemia mais mortal de todos os Tempos, de John M. Barry (Editoria Intrínseca, 603 páginas, 2020, R$41,00 em portais da Internet, tradução de Alexandre Raposo) é uma referência para se entender outras pandemias que acontecerm no mundo contemporânea e porque atingiram um número imenso de pessoas, mas a letalidade foi menor. Sobre a gripe espanhola (1918-1919) quando o planeta tinha 1.8 bilhão de pessoas estima-se o número de mortos entre 50 milhões a 100 milhões, enquanto nos dias atuais a pandemia da SARS/Covid com 7.8 bilhões de pessoas no mundo tenha morrido 5 milhões de pessoas. Num comparativo com 1918/1919 - a epidemia da Covid teria matado (estimativa) entre 150 a 425 milhões de pessoas.

Em sí, não se pode fazer comparações de uma pandemia (gripe) com a outra (insuficiência respiratória) embora em ambas haja semelhanças e uma das profilaxias usadas foi o uso de máscaras e do isolamento, mas a primeira aconteceu no inicio do século XX quando a medicina ainda estava engatinhando e a atual cem anos depois com a medicina e a farmacologia amadurecidas.  

Ademais, a gripe espanhola tem seu DNA ligado a I Guerra Mundial - uma guerra de trincheiras onde os humanos conviviam com ratos - e embora tenha esse 'nome fantasia' teria surgido num condado Haskell County, Kansas, nos EUA, e se disseminou nas 70 bases militares espalhadas pelos Estados Unidos a partir do Camp Funston, repletas de soldados em treinamentos vivendo, também, sem condições sanitárias satisfatórias e daí chegou a Europa e ao planeta. 

A primeira ocorrência aconteceu entre 28 de fevereiro e 3 de março de 1918 e ao cabo de três semanas 1.100 soldados em Funston estavam doentes e tiveram que ser hospitalizados. Os primeiros surtos incomuns na Europa ocorreram no inicio de abril em Brest, onde soldados americanos desembarcaram. A primeira ocorrêncioa no exército francês deu-se em 10 de abril e chegou a Itália. Em maio, o exército britânico contabilizou 36.473 internações e a doença se tornaria conhecida como "gripe espanhola", muito provavelmente porque somente os jornais espanhóis publicavam relatos sobre a disseminação da moléstia, captados de outros países. 

O relato do jornalista e historiador John M. Barry é denso - seiscentas páginas - exatamente porque ele descreve nos capítulos iniciais do livro como era a medicina praticada nos EUA na virada do século XIX e início do século XX, ainda sem uma formação acadêmica sólida - cientificamente falando - e apesar dos esforços de alguns cientistas e educadores quando a gripe chegou e se expandiu foi fatal para milhões de norte-americanos. 

O livro, portanto, traz um relato mais aprofundado de como a medicina e os estudos e pesquisas em farmacologia e bacteriologia avançaram nos EUA, no rastro do que já existia especialmente na Alemanha, na França e na Inglaterra, e um relato mais minucioso da fatalidade da gripe nos estados norte-americanos ainda que ele também aborde o patógeno e a devastação que provocou em escala mundial.

É, portanto, um trabalho minucioso, alguns capítulos com informações técnicas e científicas, mas importante sua leitura exatamente para a compreensão do que se vive na atualidade. E, mesmo com todo avanço da indústria farmacêutica, dos medicamentos de nova geração e de vacinas, os humanos não estão isentos de pandemias virais porque as mutações (passagens) são surpreendentes e, assim como a saúde pública evolui na proteção dos humanos, os virus também se transformam e se tornam mais letais. 

É uma corrida sem fim e a vigilência permanente tanto que, em 1997, para impedir o movimento do virus de Hong Kong as autoridades sanitárias executaram todas as galinhas existentes no território:1,2 milhão de aves.

Em 2003 quando um novo viris da gripe H7N7 apareceu nas granjas dos Países Baixos, da Bélgica e da Holanda, infectando 82 humanos e matando 1 deles, as autoridades sanitárias mataram 30 milhões de aves e alguns suinos Lembrando, ainda, do Ebola e da gripe asiática H2N2, de 1957.

O trabalho de John M. Barry, portanto, aborda de maneira mais ampla os trabalhos de pioneiros da nova medicina nos Estados Unidos, de William Henry Welch, "o individuo mais poderoso da história da medicina americana"; de Simon Flexner, de William Gorgas, Rupert Blue, Oswald Avery, William Park, Anna Wessel Williams "a principal bacterologista da época", Rufus Cole - do Rockfeller Institute, de Paul Lewis e Richard Shope - entre outros - pioneiros nas pesquisas que resultaram em novas práticas científicas e vacinas.

O autor, em epílogo, comenta que a OMS e os governos têm desenvolvido um bom sistema de vigilância, mas alguns paises ainda estão de fora desse sistema. Em 2003, o sistema detectou o SARS - inicialmente visto como um novo virus influenza e o conteve. Na época, a Chica colocou o mundo inteiro em risco, pois mentiu e escondeu a doença.

"Se existe uma lição deixada pelo episódio de 1918 - diz Barry - é que os governos precisam falar a verdade durante uma crise e comunicação de risco implica em gerenciál-a. Mas verdade não se gerencia, se conta. Um lider deve tornar real qualquer terror. Só assim as pessoas serão capazes de enfrentá-lo".

  Premonição mais sábia não poderia haver. Vimos, agora, com a Covid 19 países que sofreram menos do que outros porque seus lideres souberam melhor conduzir a pandemia e o Brasil e os EUA, infelizmente, são os campeões de mortes exatamente porque essa condução não obedeceu aos postulados da ciência.


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