Literatura
Rosa de Lima
19/06/2019 às
09:09
ROSA DE LIMA: Heróis de 59, por Antonio Matos, um livro de cabeceira
Antonio Matos produziu um trabalho primoroso e de fácil leitura e entendimento
As pessoas mais velhas especialmente os torcedores tricolores ainda guardam em suas lembranças os jogos do Bahia na antiga Fonte Nova, ano 1959, pouco mais de duas décadas após fundação do clube esportivo, quando o Esporte Clube Bahia sagrou-se campeão da Taça Brasil considerado o seu primeiro título nacional, reconhecido pela CBF, o que equivale, hoje, a um título do campeonato brasileiro da Série A. Os mais jovens torcedores tricolores não tiveram a honra de assistirem esses atletas e só sabem deles e dessa façanha do Bahia por recortes de jornais e revistas antigas, por depoimentos de seus pais e avós e assim por diante. Naquela época, as trasnsmissões por TV sequer existiam.
Felizmente, o jornalista e delegado de Policia Antonio Matos publicou recentemente o livro "Heróis de 59 - a história do primeiro título conquistado pelo Esporte Clube Bahia (Editora Solisluna, março 2019, 285 páginas, R$35,00) que resgata essa história de forma didática em pesquisa que poupa os leitores dessa peregrinação em bibliotecas e outros livros que retratam a epopéia tricolor oferecendo um trabalho que narra de fio-a-pavio os jogos, as contendas com as equipes adversárias, os bastidores, gols, juizes, artes & manhas e um capitulo especial dedicado a contemporaneidade da época quando a esmagadora maioria dos frequentadores dos estádios eram homens e jogo de futebol era chamado de porfia.
Matos, que trabalhou durante anos como jornalista esportivo em Salvador, conhecedor como poucos do futebol baiano e estudioso da matéria, produziu um livro que é quase um ABC para os amantes do futebol, com linguagem jornalistica de fácil compreensão, didático, sem firulas acadêmicas, um livro que dá gosto de ser lido e é devorado rapidamente.
Dividiu seu trabalho basicamente em 5 capítulos básicos: pinceladas da história da competição, como e porque assim começou o campeonato brasileiro, um histórico da competição; os jogos do Bahia no grupo Norte/Nordeste com detalhes e fichas ténicas, as semifinais e as finais com a conquista do título e o carnaval na capital da Bahia; os perfis dos campeões, um resumo da vida profissional de cada atleta e onde se encontra nos dias atuais, alguns deles já falecidos; Pelé o Maracanã e o Bahia, os primórdios da vida do rei do futebol e sua ausência na final, as artes e manhas do então dirigente Osório Vilas Boas; e notas soltas em 'pontuando' que é uma das melhores partes do livro, pois, relaciona alguns pontos de como era a vida baiana e a prática do esporte futebol na Bahia e no Brasil.
O autor coloca também na publicação muitas fotos e recortes dos jornais da época, o que ajuda e muito ao leitor poder melhor compreender a facanha do Bahia, o futebol e a política, os costumes daquele momento da vida nacional e a paixão pelo futebol.
A manchete do jornal Última Hora é emblemática: "Milagre do Bahia foi jogar melhor: é campeão do Brasil". O Estado da Bahia, jornal dos Associados, manchetou: "E.C. Bahia: 1º Campeão Brasileiro - derrotando ontem no Maracanã o Santos, o tricolor bahiano conquistou de maneira brilhante (três a um) a Taça Brasil".
O livro que nos presenteou Antonio Matos, portanto, traz um resumo bem pesquisado da conquista do Bahia e os leitores podem 'saborear' esse feito sem precisar recorrer a oralidade dos seus país e avós, lendo-o de uma só sentada. Como revela o autor em "pontuando" - ao contrário de hoje, quando o torcedor apenas acompanha os jogos do seu time, as partidas eram vistas como espetáculo, com o público atraído pelo estádio pelos craques, independentemente das equipes que se encontravam atuando".
Tempo que em que não havia um placar eletrônico e um adolescente era encarregado de trocar os números, logo após a marcação dos gols; tempo em que o baiano se orgulhava da Fonte Nova inaugurada no governo de Octávio Mangabeira; tempo em que os políticos usavam ternos de linho branco bem engomados e tinham alguma vergonha na cara; tempo do xaréu quando os portões eram abertos para os pobres faltando 15 minutos para terminar o jogo; tempo do Bar Botafogo e dos biriteiros que tinham até a companhia de jogadores após algumas partidas; tempo que não volta mais, porém, deixam muitos lembranças.
É isso que Antonio Matos coloca em seu livro, além dos perfis dos campeões dos técnicos e dirigentes, das partidas e do grande feito tricolor, imagens de uma época da cidade do Salvador e sua gente, um trabalho que além de contar a história desses "heróis de 59" é também da história de Salvador da Bahia, do fanatismo tricolor que, ao que tudo indica, começa exatamente a partir de 1959 e segue até os dias atuais.
Para quem ama o Bahia e a cidade do Salvador trata-se de um livro que chamamos de "cabeceira".
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