Literatura
Rosa de Lima
15/05/2013 às  10:12

ROSA DE LIMA comenta sobre livro de SIMONE CAETANO, A VOZ DE ARMANDIHO

Simone Caetano, no entanto, procura se ater a trajetória musical e de vida de Armandinho, foco principal do livro, ainda que seja inevitável abordar a influência de seu pai Osmar em sua vida musical


O historiador baiano Cid Teixeira costuma dizer que a literatura baiana é feita com pequenas tiragens e publicações domésticas, salvo os grandes e conhecidos Jorge Amado e João Ubaldo Ribeiro, entre outros que têm alguma expressão nacional. Sempre gosto de ler e comentar sobre esses autores menos conhecidos, os quais trazem à luz e a apreciação de leitores, temas que dizem respeito a Bahia e sua gente.
   
   Diria que "A Voz de Armandinho Macêdo" (Editora Vento Leste, Salvador, 2012, 293 páginas) da escritora baiana Simone Caetano quebra um pouco essa regra na medida em que aborda a trajetória de Armandinho, uma personalidade nacional, o qual, embora nascido, criado e vivendo em Salvador da Bahia é conhecido no país desde sua memorável apresentação no programa "A Grande Chance", a coqueluche nacional de Flávio Cavalcanti, na TV Tupi da Guanabara,1969, executando o bandolim de forma magistral.

   Isso aconteceu 19 anos depois que seu pai Osmar inventou a "Fobica Elétrica" com Dodô e a participação de Temístocles, e quando dava os primeiros passos na continuidade desse engenho carnavalesco que evoluiu para o trio elétrico, o advento da axé música e de gerações de cantores, compositores e empreendedores do Carnaval, formatando uma indústria trieletrizada que se espalhou pelo país.

   Simone Caetano, no entanto, procura se ater a trajetória musical e de vida de Armandinho, foco principal do livro, ainda que seja inevitável abordar a influência de seu pai Osmar em sua vida musical, tendo, assim, que forçosamente tratar do Carnaval e do trio elétrico.

   Lá nos idos do final dos anos 1960, virtuoso como era no bandolim, chegou-se a pensar que Armandinho se tornaria um intérprete de chorinhos e peças clássicas, talvez até engajado numa Sinfônica, mas, a invenção do pau elétrico (guitarra baiana) o trouxe para o palco carnavalizado de onde nunca mais saiu, apesar dos seus shows de bandolim e passagem pela Cor do Som.

   Simone procura destacar a personalidade própria de Armandinho e o situa como um artista preocupado com o perfeccionismo, capaz de consumir horas a fio em busca de executar uma música com perfeição, seja de uma composição mais simples da axé música, seja um chorinho ou uma peça clássica, uma rapsódia.

   Vem do berço a sua formação musical. Desde os 8 anos de idade, com a ajuda do pai Osmar aprende os primeiros acordes no cavaquinho e no bandolim. E é Osmar quem organiza sua apresentação em Flávio Cavalcanti com um pot-poori misturando ritmos diferentes, estilos do clássico ao popular, extamente para revelar ao público e ao apresentador que era um virtuoso, e agradar aos jurados que compunham a bancada, cada qual adepto de uma preferência musical, desde Nelson Motta, a Sérgio Bittencourt e Mister Eco, tarimbados experts em música.

   Sem formação acadêmica, Armandinho, no entanto, levou a virtuosidade do bandolim, o seu estilo primoroso e inconfundível para o pau elétrico, incorporou novos ritmos ao trio de Dodô e Osmar emprestando seu nome para compor a grife e estabelecendo, já nos anos 1980, que o trio se chamaria para sempre Armandinho, Dodô & Osmar, sendo seu coadjuvante principal. Armandinho introduziu o rock e o clássico no Carnaval, época do Jubileu de Prata, quando Moraes Moreira levou a voz para o engenho.

   Moraes é também importante na vida musical de Armandinho na medida em que o leva para a Cor do Som, a partir de 1976, quando o cantor deixa "Os Novos Baianos" e vai se arriscar na carreira solo. Neste primeiro disco de Moares (Cara e Coração) Armandinho participou tocando guitarra, bandolim e cavaquinho no grupo original "A Cor do Som" junto a Dadi, Mú Carvalho, Gustavo Shoroeter e Ary Dias.  
 Ambos fizeram sucessos separados: Moraes e a Cor do Som, o que foi uma grande surpresa para o mercado. A banda, já com Transe Total, passou a se constituir, no Brasil, o melhor conjunto instrtumental da música jovem internacional, com forte batida de frevo. Em 1982, Armandinho deixa a Cor do Som diante das pressões da WEA e de André Midani, de sempre querer mais, com uma agenda exaustiva de shows.

   De certa forma, Armandinho, de volta ao trio elétrico quase em tempo integral, já com seu nome na grife a partir de 1980,  leva para o Carnaval da Bahia toda a sua experiência dessa nova mistura de ritmos da "Cor do Som", do rock carnavalizado e assim por diante. Em 1997, morre Osmar, seu pai e mentor musicial e familiar e Armandinho, com os irmãos, luta e consegue fazer um grande Carnaval, em 2000, 50 anos do trio elétrico.

   Simone Caetano narra com todos os detalhes essa trajetória de Armandinho e seu livro "A Voz de Armandinho", com completa discografia do bandolinista, passa a ser uma boa referência para quem deseja conhecer a vida deste grande instrumentista, o panorama musicial brasileiro de uma época, o Carnaval da Bahia e o trio elétrico que tem seu nome - Armandinho, Dodô & Osmar, ainda hoje encantando o Carnaval da Bahia


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