Literatura
Rosa de Lima
20/08/2011 às  10:00

GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA HISTÓRIA DO BRASIL

Comentário sobre livro de Leandro Narloch



Foto: BJÁ
Comentário de Rosa de Lima sobre livro de Leando Narloch, entre os mais vendidos no país
   O livro do jornalista Leandro Narloch, "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil", editora Leya, 367 páginas, em sua terceira edição e destacado em todas as listas dos mais vendidos no país, é desses que todos gostariam de um dia ter escrito, diante da realidade da história brasileira e do que normalmente é colocado nos compêndios, especialmente aqueles reservados ao ensino público.
   O que se percebe é que há uma grande diferença entre a realidade histórica nacional, ainda carente de pesquisas mais aprofundadas, mas, ainda assim, hoje, razoavelmente, já bem fundamentada, e os mitos lançados nos livros escolares e outros, sem considerar esse realismo em alguns temas.


  Narloch dá então uma contribuição valiosa para que esse entendimento seja melhor concebido pela população e até pela mídia, colocando alguns personagens nos seus devidos lugares na relação da história do samba com o fascismo, no papel do Brasil durante a Guerra do Paraguai, nos desempenhos de figuras emblemáticas, mas, não tão carismáticas assim como se descrevem com Machado de Assis, Zumbi dos Palmares, Lampião, Jorge Amado, Santos Dumont, Luis Carlos Prestes, Aleijadinho, Dom Pedro I e outros.


   O livro tem pontuações criticas do inicio ao fim, de boa leitura, denso em bibliografia, o que denota que o autor, embora seja um jornalista e não um historiador de profissão, se cercou de dados comprobatórios do que assegura, quer com base em fontes primárias de pesquisas; quer em estudos recentes de pesquisadores nacionais e estrangeiros.


  Sobre a liderança questionável de Zumbi, uma vez que o líder do grande quilombo nacional (o real) foi Ganga Zumba, amaldiçoado, tido como traidor, diz que Zumbi "ganhou um retrato muito diferente de historiadores marxistas das décadas de 1950 e 1980, os quais, Décio Freitas, Joel Rufino dos Santos e Clóvis Moura fizeram do líder negro do século XVII um representante comunista que dirigia uma sociedade igualitária".


  A proposta marxista, sem documentação, tentou caracterizar Palmares como a primeira luta de classes da história do Brasil, e, hoje, sabe-se não foi bem assim.


  Segundo Narloch, Zumbi "mandava capturar escravos de fazendas vizinhas para que trabalhassem forçados no Quilombo dos Palmares e seqüestrava mulheres e executava aquelas que quisessem fugir do quilombo".


  Embora essa situação fosse normal naquele momento da Colônia, hoje, o movimento negro omite e censura essas informações, assim como detesta ou abomina situar que os portugueses aprenderam com os africanos a comprar e traficar escravos, e muitos deles foram seus sócios em grandes empreitadas no Brasil e nas Américas.


  Em muitos reinos da África, até mesmo antes da chegada dos europeus, o tráfico de escravos era feito para o Oriente pelos africanos que operavam esse comércio, e depois passou-se a fazê-lo com o Ocidente e o Novo Mundo (a América) pelo litoral.


  O autor adverte, também, para o fato de que, na atualidade, movimentos se esquecem do papel fundamental da Inglaterra no fim do tráfico para o Brasil, do movimento abolicionista nacional, a princesa Isabel, o fim da escravidão, em lei.


   Diante de alguns ícones da literatura brasileira, Narloch é cáustico e aponta que a historiografia e a crítica não costumam citar que Machado de Assis, patrono da Academia Brasileira de Letras e grande escritor, foi censor do Conservatório Dramático, o órgão da Corte de Dom Pedro II; que o indigenista José de Alencar atuou contra a abolição da escravatura; que duas das maiores paixões de Jorge Amado foram Adolf Hitler e Josef Stálin; que Gilberto Freire admirava a Ku Klux Kan, a organização racista mais poderosa dos EUA; que Gregório de Matos, o poeta seiscentista da Bahia era dedo-duro e odiava escravos, negros, pobres, índios e judeu e que, Euclides da Cunha, se notabilizou mais pelo "Os Sertões", livro mediano, do que pelos seus crimes.


  Mais interessante é a análise feita pelo jornalista sobre a origem do samba no Brasil, muito mais inspirado nas novidades européias e americanas, e formatado por instrumentos de sopro e piano, do que por músicos defensores de etnia que se reuniam na casa da tia Ciata, no Rio de Janeiro, no final do século XIX, tocando tambor e viola.


  Para o autor, até a década de 1930, "tudo aquilo que hoje achamos naturalmente brasileiro - o samba, a feijoada, a capoeira, o futebol - não eram ícones da identidade nacional" e estão mais no campo de importações estrangeiras, a feijoada, em especial, legitimamente européia.


  Nardoch afirma que "a transformação do samba de música regional a ícone nacional deve muito a Getúlio Vargas e ao Pato Donald" com a difusão do samba de Ari Barroso (Aquarela do Brasil), as peripécias de Carmen Miranda nos EUA e o sax jazzístico de Pixinguinha.


  O autor ainda comenta uma das questões mais obscuras da história nacional, a Guerra do Paraguai, episódio ainda muito mal contado no Brasil e que afundou as finanças nacionais e contribuiu para o fim do Império gerando "heróis" um tanto quanto suspeitos; relata sobre a Coluna Prestes, a investida do "revolucionário" que considera um "trapalhão"; e as "invenções" de Santos Dumont  que não existiram, entre elas, a do avião e do relógio de pulso, colocando essas questões em seus devidos lugares e como .


   "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" é um livro pra cabeceira e consultas.


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