Literatura
Rosa de Lima
13/12/2025 às  11:14

ROSA DE LIMA COMENTA A HISTÓRIA POR TRÁS DA HISTÓRIA,OR KATIANA RIGAUD

Temos que tirar o chapéu para essa personalidade, pois, atos de heroísmo como esse são tão raros na Bahia. Ainda que meu chapéu seja da época Vitoriana, faço reverência a Katiana Rigaud


   Neste restante de dezembro e janeiro de 2026 vamos destacar obras de autores brasileiros – especialmente da Bahia – uma vez que dedicamos os últimos comentários aos estrangeiros. 


  É também neste período do ano que são lançados muitos livros de autores baianos ou residentes na Bahia que abordaram temas regionais e são a base da nossa arte de escrever independente, de amantes da literatura que publicam livros com pequenas tiragens e atendem a um público mais localizado, às vezes municipalista.

 A internet, no entanto, tem contribuído para difundir com mais abrangência esse universo, pois, as redes de telecomunicações - as chamadas redes sociais virtuais - não têm fronteiras. E, de repente, uma obra que foi publicada em Alagoinhas ou São Félix está sendo lida por alguém no outro lado do planeta. O que é bem provável. E, o mais sintomático: o autor, muitas vezes sequer conhece quem são esses leitores.

 Vamos abrir essa temporada comentando o livro intitulado “História por Trás da História”, organizado por Katiana Rigaud (RAIZ Livraria, Itapetinga, BA, arte da capa, João Ricardo; ilustração Alex Rocha; produção editorial, Luzir Livros; revisão linguística, José Sérgio Batista, 143 páginas, 2025, R$59,00 no portal Raiz Livros) que reúne escritos de 36 escritores independentes, regionais, narrando seus amores pela literatura, obras publicadas e o que faz com que uma pessoa se interesse pelas letras e pela escrita.

   Louve-se essa jovem Katiana Rigaud, ela própria autora de um dos textos (A Menina Roberta) e organizadora do livro, por amor às letras, criadora da Raiz Livraria, em 2020, segundo anotações na orelha do livro “para diminuir a falta de espaço no mercado para os novos autores, a Raiz – originalmente o Clube de Lu – que tem se solidificado como um movimento literário na Bahia”. 

    Temos que tirar o chapéu para essa personalidade, pois, atos de heroísmo como esse são tão raros na Bahia. Ainda que meu chapéu seja da época Vitoriana, faço reverência a Katiana. Sabemos o quanto isso é difícil, o altruísmo, a força de vontade, sobretudo num momento em que o mundo gira em torno do vil metal como sempre girou, agora, como movimentos em bitcoins e outras ganâncias, cuidar da literatura dos independentes é realmente mais do que meritório.

  Quem me enviou o livro foi a distinta e generosa Ludimila Bertié, outra autora de um dos textos do livro (Voz que mora em mim), diria, até, dos melhores do ponto de vista literário, mais poetizado, mais sensível, do que muito dos demais, mas não falo para elevá-la sobre os outros (as). Gostei de todos, indistintamente, embora algumas narrativas sejam, bem simples, prosaicas, o que também representa a arte de escrever.

  Aliás, dizem os mais sábios em análises literárias que, quanto mais simples se escreve, na imitação dos sentimentos do falar das pessoas, do pensar dos grupos e das comunidades, mais difícil é. 

  “A História por Trás da História” tem muito disso que falo, depoimentos sensíveis, de autores independentes e que, regra geral, nunca pensaram em abraçar a literatura como um sentimento maior, mesmo não sendo um profissional das letras, de pessoas que exercem as mais diferentes profissões, todas endeusadas pela escrita, a cada passar dos anos mais viva, mais inovadora.

   Tomo a título de exemplo, o texto da bibliotecária Jovenice Ferreira Santos (Minha Vida é Melhor que Novela): - Comecei a estudar aos 44 anos numa escola informal onde a pró Daurinha me ensinou com amor. Quando completei 6 anos, meu pai, todo orgulhoso, me presenteou com a obra ‘Meu livro de histórias bíblicas’ e convidava todos para me ver lendo. Pensem que eu já registrava o cotidiano e transformava em histórias e músicas.

   - Fui cursar o maternal na Escola São Roque, no Lobato, Subúrbio Ferroviário de Salvador e, no recreio, me perdi dentro da escola. Levada à secretaria, passei o resto da tarde escrevendo, lendo e desenhando () Aos 15 anos eu cursava o técnico em administração e fui selecionada para trabalhar na Transbahia. Minha vida é melhor do que novela. São muitas emoções. () Um fato curioso foi que na escola em que estudava, já em Periperi, nunca ouvira falar em universidade, isso não fazia parte do meu cotidiano.

   - Casei aos 20 anos. Depois de muitas tentativas, em 1996, orgulhosamente ouvi meu nome no rádio, o qual noticiava minha aprovação em Bibliotecnomia na UFBA. Loucura, loucura, loucura...aulas pela manhã, tarde e noite, grávida de Gabriela e funcionária, dedicação 44 horas semanais. () Escrevi Desmitificando a Monografia, ABTN sem Mito, Travessuras de Bagunçona, Lorena é Show e Quem canta um conto, aumenta um ponto.

  Coloquei o descritivo de Jovenice Ferreira Santos, baiana da capital, mãe e avó, capoeirista, tutora de animais e bibliotecária, ademais, escritora, como um exemplo do que é um traço de união do livro organizado por Rigaud, pois, quase todos os textos têm esse mesmo enredo. 

   Claro cada qual com sua trajetória de vida própria, porém, com esse viés comum a todos, da luta do dia a dia para conquistar espaços na sociedade, alcançar a universidade e uma forma mais aprimorada do saber, de tomar conhecimento de novos saberes (veja que essa senhora da capital quando jovem não relacionava a universidade no seu caminho) e a consequência de tudo isso, desde a valoração profissional ao alcance de novos empregos e profissões. E, por empatia, o amor às letras, de tornarem-se escritores e escritoras.

   Como narra Katiana Rigaud, a coordenadora do trabalho no seu texto “A Menina Roberta” : - Foram quatro marcos transformadores: na universidade, sai do camarote; em Salvador, hora de viver; da paixão entre transições, o Pequeno Príncipe ressurge, e Roberta nasce; o primeiro livro vai ao mundo e 40 anos são celebrados. Desde então, tudo o que era bom vibrou melhor.

   A Raiz Livraria se encaixa nesse contexto como a árvore da vida na concepção da autora e vai dando seus frutos ao longo do tempo, a celebração em movimento. Esse é o espírito da “História por Trás da História”, com continuidade, sempre.
   


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