28/04/2018 às  11:48

A Cidade do Futuro e as duas emoções na tela

O filme foi visto no festival de Brasília, mas já tinha "dado as caras" no festival de cinema de Curitiba, junho passado, ganhando inclusive o prêmio de melhor filme escolhido pelo público


  A Cidade do Futuro, dirigido por Cláudio Marques e Marília Hugnes, Brasil/BA, 2016. Corro o risco em ser ininteligível, mas achei o filme "bom pra ver , mas nem tanto pra comentar", e tentarei explicar o porquê. 

   A fotografia de uma cidade do interior da Bahia faz muito a diferença no visual da obra fílmica, por esta nos "saltar os olhos" com tanto cenário bonito, e por natureza. A trama em si é convincente porque as personagens são elas mesmas, na medida do possível. 

   Óbvio que existiu um trabalho de elenco que todo filme faz, mas os atores nesse filme teriam que ser "eles mesmos mais bonitos que são, ou eram". Claro, porque pra vender qualquer coisa é necessária a sedução de fazer a cabeça do outro, e o cinema não foge a regra. 

   Portanto é necessário o comprometimento com a sedução em não mostrar as olheiras ou um bocejo de um ator, por exemplo, para que os personagens se tornem aprazíveis para o público se identificarem e "chamarem de seu". 

   Identificação: este é o tema que gira em torno da trama, ou talvez o termo certo para o filme seja liberdade ou a falta dela. Na segunda trama de longa metragem da dupla e casal de diretores Marília e Cláudio; eles trocam o asfalto de Salvador do seu ótimo primeiro filme: Depois de Chuva, por planos abertos e longos do interior da Bahia , agora em: A Cidade do Futuro. 

   A narrativa gira em torno de um casal atípico formado por dois homens e uma mulher grávida de um dos homens do casal, este que resolve assumir o que fez, e apesar de ser gay, tem muito mais coragem que muito machão que faz e vai embora. O protagonista não, ele fica com o bofe e a mulher de uma noite de cachaça. 

   O arco narrativo do filme se desenrola na aceitação desse novo  formato de família brasileira, bastante não cristã por sinal, onde o tema dos gêneros é colocado na mesa da sociedade brasileira. Fato que apesar de algumas situações, no mínimo, constrangedoras o casal ambíguo segue em frente e peita os valores culturais e religiosos dos habitantes de uma cidade típica do interior do nordeste brasileiro , e como existem tantas delas praticamente iguaizinhas ao do filme,  este ( filme, ou a ideia do que queriam filmar) que por sinal entrou na cidade para tomar um gole d'água e continuar a viagem para outro local onde seria filmado um outro novo longa; entretanto Claudio e Marília conhecem e se apaixonam pela história do casal contada rapidamente pelos próprios, de modo que os diretores mudam os planos e resolvem "jogar fora" o filme que estava previsto para acontecer e adentram-se naquela história atípica, literalmente de corpo e alma . 

   É importante salientar que a estória contada é atípica em se tratando de qualquer lugar, mas de um interior pequeno, esta se torna mais atípica ainda, e porque não: também mais interessante pelos valores morais de uma cidade pequena, e também engraçada em certas cenas.  

   O filme foi visto no festival de Brasília, mas já tinha "dado as caras" no festival de cinema de Curitiba, junho passado, ganhando inclusive o prêmio de melhor filme escolhido pelo público. E agora chegou o momento do público baiano conferir a película cem por cento baiana, rodado na região da Serra do Cipó. 

   Em síntese poderia descrever o filme com duas emoções:, primeira: ele consegue ser tentador na medida que tentamos descobrir o seu final; e segundo: trata-se de uma obra deveras angustiante  pelo modo como se posiciona na temática dos gêneros, e como a sociedade age com a regência do cristianismo nestes casos de casais ou famílias alternativas. 

   Trocando em miúdos, o filme é bastante duro e contestador com a ideia, ilegítima, de que quando alguém vem ao mundo já vem com os genes indicando se gostará mais do gênero feminino ou masculino, ou até em certos casos, de ambos. 

   Uma obra super interessante e bastante atual que pode servir como um retrato simbólico a fim de repensarmos que conceito de família queremos: A igual , a do jeito que estar ou outra que faça seus membros pensarem de forma independente e assim tirarem suas próprias conclusões do que é "certo" ou o que é periclitante "erradíssimo".

    Quando mencionei no inicio da critica que o filme era melhor de se ver ao invés de se comentar, porque trata de todos esses valores que nos estão impregnados e temos de engolir goela abaixo, sem nenhum tipo de escolha alternativa, e quando saímos da sessão nos perguntando:será que o Brasil está andando de marcha ré?

    E saio piamente com a conclusão que sim: estamos andando de marcha ré quando a questão é a dos gêneros, sem dúvidas, e isso independe de ser hétero ou homossexual. Livre arbítrio: nunca tivemos. O filme estreou exclusivamente, nesta quinta, 26 de abril, no Cine Itaú - Glauber Rocha, no centro de Salvador, e com certeza vale a conferida e posteriormente uma análise do que foi visto em tela. Deixo uma pergunta no ar: Será que vivemos em uma cidade do futuro ou do passado?


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