28/10/2017 às  10:58

FILMES DA MOSTRA SP: Jupiter's Moon surpreende, de fato

Jornalista viajou à convite dos organizadores da mostra



Jupiter's Moon
Foto:
   Jupiter’s Moon, dirigido por Kornél Mundruczó, Hungria- Alemanha, 2017. O filme foi selecionado para a Palm D’or ( palma de ouro) em Cannes, este ano. Pelo que li, existem duas críticas para o filme: a primeira trata o filme como risível, pra não escrever ridículo.

   Já a segunda interpretação para a obra a trata como sobrenatural de estupenda , onde o visão horizontal das redes sociais , que é a que impera no mundo atual, tem de ser mudada, e que as pessoas vejam o mundo na vertical. Ou seja: que as pessoas acreditem mais em seus impulsos e instintos e intuições, e que quebrem a barreira da mesmice do pensamento horizontal ou das redes sociais, como queiram chamar. 

   Assisti ao filme e fico definitivamente no segundo grupo; no pensamento vertical, ao ar; todavia vamos ao filme húngaro. Antes de imagens temos um texto sobre as seis luas habitáveis em Júpter, e a mais segura seria uma lua chamada Europa; uma comparação infeliz para muitos, mas não pra mim, de que só na Europa decididamente haveria alguma vida digna. 

    Com esse gancho temos as primeiras imagens do longa , e estas de ação com refugiados tentando fugir da polícia húngara , e por isso, alguns tomando chumbo e morrendo. Eis que surge a grande estranheza ou questão do filme: é que um fuzilado não morre, e sim levita quando é atingido, e logo após cai de dez metros de altura e continua vivo. 

    Alguns consideram ou classificam o filme como uma ficção científica com um super-herói na trama, mas vou um pouco mais além. O tema da imigração não é jogado à toa em tela. Existe toda uma questão sensorial que envolveu o roteirista a colocar um imigrante que levita, ou voa, ao invés de um húngaro, por exemplo. 

    Quando escrevo que vou mais além, é porque percebi uma conexão entre um ser anjo ( que levita) , com um ser “homem-bomba” que mata. Ou seja: um anjo pode ser um demônio ou vice-versa, ou até sirva pra dizer que não existem nem anjos nem demônios, pois todos nós somos a soma destes dois, aniquilando de vez qualquer poder que qualquer religião tenha sobre o homem, ou em outras palavras: somos regidos por nossas ações e atitudes e não existe destino; quem faz este somos nós e por isso somos livres para seguir o caminho que desejamos, sempre. 

    Entretanto voltando ao filme, um médico de caráter e histórico duvidoso descobre o dom do rapaz, e resolve ganhar dinheiro em cima do desejo do “anjo” , que era rever seu pai e voltar a Síria com ele, seu país de origem que passa, até hoje, por uma sangrenta guerra, não porquausa de religião, mas pela ambição dos homens de lá que colocam como desculpa a religião para terem poder e dinheiro. Pois bem: o desenrolar de 128 minutos passa-se nessa enrolação do médico charlatão sobre o “anjo”, ambos fugitivos da polícia húngara há essa altura. 

   De fato saí boladão da sessão e não esperava escrever tão cedo sobre o filme, já que vi ontem na 41 Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, sendo este um dos filmes mais aguardados da Mostra, e de fato, com toda a pompa e qualidade: vale muito a conferida.
                                                                     *****
   Saudade, dirigido por Paulo Caldas, Brasil-Portugal, 2017.  “ Saudade só quem sente é quem perde algo”, diz um dos inúmeros entrevistados do belíssimo documentário luso-brasileiro. Trocando em miúdos, só quem sente saudade é quem perde algo ou alguém, mas principalmente alguém, e se porventura, esse tal alguém nunca ligou a mínima pra você, então você não tem saudades dessa pessoa; tem outro tipo de sentimento, mas não a saudade e também não saberia dizer-lhe que sentimento és; cabe então a pessoa abrir a caixinha de memórias e estudar qual tipo de sentimento carrega por alguém que você não vê mais, seja este(a) vivo(a) ou morto(a). 

   A conexão entre saudade e memória é instantânea, pois quando sentes saudades de alguém é por uma devida circunstância vivida por você e aquela pessoa que deixou a vulga “saudade”. O documentário é interessante porque pega o tema da saudade e expõe há diversos conceitos ou profissões artísticas, especificamente. 

   O diretor exclui as profissões formais, tais como: economista, advogado, engenheiro, médico, publicitário etc; pelo simples e eficaz motivo que todas essas e outras profissões citadas ou não estão, em algum momento, circundados ou simbolizados por um artista plástico, músico ou cineasta; então a magnificência e amplitude do léxico Saudade estão, diria ou escreveria, que completo com os relatos dos artistas , estes: gringos, “portugas” e brasileiros.

Documentário bom de se ver, e melhor ainda de se sentir.
                                                                            *****
   Callado, dirigido por Emília Silveira, Brasil, 2017. Sinceramente conhecia outro Callado: um surfista de ondas grandes que, coincidentemente, é parente deste; mas vamos aos fatos do documentário: ah sim, conhecia o livro mais importante do Antônio Callado: Quarup, uma espécie de romance que tinha como protagonista um homem que metaforizava o povo brasileiro. 

    O livro, escrito em 1965 e 1966 e lançado em 1967 foi um sucesso de crítica e público, ano em que Getúlio toma o poder das mãos dos militares e assume a presidência do Brasil pela segunda vez. Todavia o documentário não trata do livro, este adaptado em filme, mas sim da persona e do escritor Callado.  Ele, Glauber Rocha e cinco outros mais foram presos no último governo militar.

     Antônio teve que retirar-se do país e ir para Londres. Lá conhece sua primeira esposa: uma inglesa que desejava ter filhos, porém Callado não, por ter uma irmã esquizofrênica. Quando voltam ao Brasil com Getulio presidente, novamente, o casal já tinha três filhos: duas meninas e um menino, de modo que mais tarde uma das filhas apresenta sinais de esquizofrenia e dá cabo da sua vida jogando-se pela janela do seu apartamento. 

    Fato este que, para muitos, inclusive para sua segunda esposa, desencadeou um câncer mortal e rápido no escritor. Entretanto vamos voltar um pouco mais na historieta da persona Callado. Carioca, nascido em 1917, começou a carreira de escritor como jornalista, assim como tantos outros da época, pois se era médico, engenheiro ou jornalista, e nada mais. 

    O trabalhar em Jornais trouxe Callado ao mundo das letras, universo este que se apaixonara e publicara mais de duas dezenas de livros em toda a sua vida. Antônio Callado foi um nome importantíssimo para a redemocratização do Brasil e, por incrível que possa parecer, seu nome passa-se batido nos meandros da história nacional; sinal que a conhecemos bem menos que deveríamos, pois quem não conhece o seu passado, não consegue mudar o seu futuro.
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    Arpão – Arpón, dirigido e roteirizado por Tom Espinoza, Argentina, 2017; na Competição Novos Diretores da 41 Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O homem, leia-se mulher também, é um bicho esquisito; e isso por mais que ele esforce-se a ser um bom samaritano. Vou logo escrevendo os pontos positivos do filme, antes que me esqueça.

     O primeiro ponto está em seu roteiro, desclassificando todo e qualquer tipo de inferiorização. Ou seja: ninguém era melhor nem pior por nada: seja essa classificação por bens materiais ou caráter. O segundo ponto positivo do roteiro e, nesse caso também do filme, fora o fato de mostrar crualmente(crú) a fase de várias adolescentes e uma em especial chamada por Cata, de quatorze anos. 

    Todavia vamos a uma breve crítica; pois bem: como protagonista temos um cinquentão diretor de uma escola mista há oito anos, e de certa maneira, já querendo passar o posto na direção a alguém com mais paciência que a dele. A ambiguidade de comportamento do filme dá-se com um caso que o diretor tem com uma prostituta. Mas porque ambiguidade? Porque, de certa forma, ele começa a agir de forma parecida com as alunas do colégio, querendo mostrar autoridade, assim como fazia com seu caso amoroso que, ele pagando, poderia pedir e fazer o que quisesse com ela. 

    O atrito do filme surge quando a bela garota Cata peita-o quando o rabugento tenta revistar sua mochila: hábito esse estranho e que lhe renderia algum prejuízo mais adiante. Pois bem: o rumo do diretor e do filme muda quando surge uma espécie de sentimento pela garota Cata, mas não esse que estás pensando, mas sim um sentimento que ele nunca sentira: o de pai por uma garota abandonada pela mãe que se manda para a capital e deixa a garota a mercê que alguém a cuide. 

    No terceiro ato da película portenha surge uma amizade inesperada entre a jovem Cata e a prostituta que o diretor tinha relações em uma noite de bebedeira dos três após um acidente com a garota levada da breca. Tem coisas que só mulher entende; e não adianta o homem se esforçar pra entender porque não vai conseguir, e de fato, mulher é um bicho estranho, e talvez por isso, seja tão difícil entendê-las.


* O jornalista viajou a convite da 41 Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.


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