14/07/2012 às  08:00

PARA ROMA COM AMOR, ENTRE A IRONIA E A VERDADE,

Woody Allen viria filmar no Rio de Janeiro



Foto: DIV
Woody Allen abre o filme revelando que é ateu numa cidade católica
   Para Roma, com amor. Itália/ Espanha/ Estados Unidos, 2012, de Woody Allen. Me atrevo a escrever e sei que muitos discordarão, mas considero esse último filme melhor que o seu prestigiado penúltimo: Meia-noite em Paris e pior do o seu antepenúltimo Vick, Cristina  e Barcelona.

   Corre boatos que a próxima cidade contemplada pelo diretor seria o Rio de Janeiro. Agora então cabe a nós esperarmos que estória venha para o Rio, porém já pudemos prospectar possibilidades. Que terá personagens interessantes isso não tenho dúvidas por se tratar de Woody Allen, mas como ele irá apresentar eles é que fica minha dúvida: Como favelados ou bandidos boas praças, trabalhadores sonhadores ou riquinhos da zona sul dando uma de "Papa", querendo ajudar os favelados?

   Sem dúvidas e como é sua marca registrada a ironia estará presente nesse novo filme no Rio em prol da divulgação das olimpíadas de 2016, assim como foi em todos os seus filmes. A pergunta é se a ironia destilada ao filme do Rio de fato seria demasiada irônica ao ponto de sujar sua imagem por causa da violência urbana e a cidade ainda pertencer ao terceiro mundo em desenvolvimento ou de fato a fita ajudaria a "cidade maravilhosa" a angariação de mais turistas para a sua inédita olimpíada?

   Mas, voltando a: Para Roma, com amor, achei de uma felicidade e ambiguidade a estória pelos seguintes motivos; primeiro: Logo no inicio da fita vemos o próprio Woody Allen fazendo o papel dele próprio em um avião afirmando que é ateu, pois bem, essa foi à primeira deixa que pra bom entendedor meia palavra basta, como já diz o ditado.

   Ou seja, ele meio que se pergunta também o porquê de ter sido convidado a fazer um filme sobre uma cidade tão católica ou um país tão religioso. Com esta afirmação: "sou ateu", percebemos que o filme foi feito sob encomenda e má vontade. Mas sabe que às vezes fazer filme com má vontade dá certo? E acho que esse foi o caso por se tratar de estórias leves, engraçadas e com a principal característica do diretor: a acidez educada, nos momentos e nas horas certas, que de certo modo instiga a cultura daquele país , mas não chega em momento algum ao desrespeito das suas crenças.
 
   O diretor sabe brincar nesse limiar como poucos entre a ironia e a verdade ou a falta dela. Quando, no inicio escrevi que achei Para Roma, com amor melhor que Meia-noite em Paris, pelo fato de o roteiro e as estórias não serem tão encaixadas e com sentido como o filme sob encomenda de Paris, porém com mais cativância e elegância, que se exemplifica com os personagens: O tenor que só sabia cantar incrivelmente bem no chuveiro e no palco travava ou da atriz americana que arrebentava corações por seu carisma.

   Obviamente Para Roma, com amor não foi nenhuma obra-prima, mas ainda assim com a assinatura de um dos melhores diretores de cinema ainda vivo, o que faz toda diferença e sobressai de outras fitas em cartaz.
                                                                      **

   O homem ao lado
, dirigido por Gastón Duprat, Mariano Cohn ,Argentina,2009. Viver em comunidade nunca foi fácil, ainda mais quando temos a infelicidade de termos vizinhos insuportáveis. Esse é o caso ou quadro principal dessa bem feita fita de baixo orçamento argentina dando "banho" em nossas superproduções nacionais pelo único e simples motivo: as ideias, a genialidade dos seus roteiros; e disso não precisa-se de muito capital, somente de intelecto.

   A estória se perpassa entre a "marra" de um vizinho de meia idade e totalmente troglodita em construir uma janela para que seu apartamento  ventile mais e pegue um pouco de luz solar. O problema é que essa tal janela teria de ser construída tipo como um camarote para a casa do vizinho ao lado.

  No inicio do filme pensei comigo: só isso, uma briga entre vizinhos por causa de uma construção de uma mísera janela, essa estória me cativará mesmo, acreditei que não. Porém fui dando um crédito e vendo mais dez minutinhos da fita e a minha cabeça se fez pela qualidade da estória, pelos seus detalhes incisivos e por vezes ocultos e autoritários em que as relações de vizinhança impõe entre si.

   Pois bem, o vizinho "agredido" pela construção da janela indiscreta era a antítese do seu vizinho "agressor " troglodita. O primeiro era um renomado Designer, cheio de "não me toque que sou mais que você porque sou reconhecido internacionalmente e tenho um carro da Citroen de última versão".E o segundo era um típico argentino ignorante e nada mais que isso. 

   A fita se faz rodar nesse antagonismo dos seus personagens onde um era muito rebuscado, educado e o outro por sua vez era totalmente anárquico e não estava nem aí com "a hora da Argentina". Por essa relação de ver as diferenças das pessoas através da construção de uma janela é que mais uma vez a criatividade portenha surpreende e de certo modo fortalece minha opinião perante as películas daquele país, onde para fazer um filme a principal coisa que se precisa é uma boa ideia, e que o resto: tipo como orçamentos miraculosos, que venham a reboque depois das boas ideias.

   Não poderia deixar de citar o Irã como um país onde se fazem filmes geniais com este mesmo estilo, ou seja: pouco dinheiro e ideias interessantes, mas este já sempre puxando para o lado religioso e das diferenças sociais, o que também não deixa de ser interessante. Então fica a dica para o nosso cinema nacional que já produz algumas fitas bem legais sem necessariamente serem superproduções, porém em muito menor escala e qualidade em comparação aos países citados.
  
                                                                 **

    Maria, Ihm schmeckt's Nicht ! , dirigido por Neele Leana Vollmar, USA, Itália,2009. Comédia alemã, este resenhista cinematográfico nunca tinha visto. Vários outros gêneros de filmes já vi e recomendo: o cinema alemão é muito bom, principalmente pós-segunda guerra por serem quase sempre fitas densas e cargamente dramáticas, mas humorísticas de fato eles ainda tem que se desenvolver ao ponto de que achamos de que não estamos vendo uma comédia, mas qualquer outro gênero mais comum ao cinema do país bávaro.

   A fita aborda questões culturais entre dois povos ou duas famílias: Alemã e italiana, o que somente por isso, a fita se torna mais caótica nas relações entre esses dois povos do que de fato engraçadas. Mas como a fita designou-se como comédia tentaremos a classificar desse modo por mais estranhamente que seja.

   Porém vamos à estória que é a seguinte: Um alemão pede em casamento uma alemã (não necessariamente nessa ordem) que tem um pai italiano que em sua juventude foi buscar trabalho na Alemanha promissora para sair da Itália falida, e lá casa-se com uma bela alemã onde a conhece trabalhando como garçom em um restaurante. Bela, porém fria assim como o seu povo. E isso de fato: a frieza do povo alemão fora na época o principal obstáculo em que o pai italiano teve para "fincar sua bandeira" em solo germânico, trazendo ao pai uma imensa "revolta" para com os alemães, de modo que a pior notícia do mundo para ele seria ver a sua única filha casando-se com um alemão, justamente para não sofrer o que sofreu por casar-se com uma alemã fria e frígida.

   A fita gira em torno dessa "rabugentagem" por parte do pai da noiva com suas más lembranças dos alemães e seus modos frios e calculistas que tem em viver e ver a vida, o que por sinal é totalmente diferente do estilo de vida do povo quente e destemperado italiano. De roteiro, só às vezes esse parece uma comédia.

   Acredito que talvez para os germânicos a fita soe mais engraçada do que a nós latino-americanos ou mesmo aos italianos ou qualquer outra nação de origem da língua oriundas do latim, pois os diálogos dos personagens estão sempre naquele limiar duro das piadas germânicas, se é que existe piada naquele país. Porém, culturamente a fita tem o seu valor em mostrar a essência do povo desses dois países europeus praticamente vizinhos geograficamente, mas com uma distância enorme de ver, viver e pensar o mundo.


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