1. A pergunta que se faz nesse momento politico quando se discute a sucessão do prefeito ACM Neto (DEM), em Salvador, é a seguinte: Terá o presidente Jair Bolsonaro influência decisiva na eleição municipal de Salvador ou não haverá influência alguma?
2. Só lembrando aos nossos leitores, na última eleição para governadores, em 2018, João Henrique, ex-prefeito de Salvador, se apresentou como o candidato de Bolsonaro mas, de fato, nunca houve esse apoio. Toda vez que JH ia a TV falava que era o nome bolsonarista. Não decolou mais pelo desgaste que enfrentava como ex-prefeito do que outra qualquer coisa. A população não foi na sua 'gaiva' de que era bolsonarista.
3. O candidato do DEM, José Ronaldo de Carvalho, quando percebeu que Bolsonaro crescia e poderia ser o presidente da República tentou alinhar sua candidatura com a de Bolsonaro, mas, ACM Neto vetou alegando que se manteria fiel a Geraldo Alckamin, o candidato do PSDB, que patinava sem sair do lugar, realizamdo uma campanha pifia e confusa. É evidente que o alinhamento de Ronaldo com Bolsonaro não evitaria a derrota para Rui Costa, porém, poderia ser de menor quilate.
4. O certo é que Bolsonaro elegeu-se presidente e ajduou, fundamentalmente, os candidatos de SP, João Dória, e do Rio, Wilson Wiltzel entre outros. Até sem querer. Foi uma onda antipetista que varreu o Brasil. E agora, em 2020, como será? Bolsonaro terá força e influência nas eleições municipais? Ainda não temos essa resposta.
5. Historicamente, nenhum presidente foi decisivo nas eleições municipais de Salvador, considerado o período pós-redemocratização do país (1984) até os dias atuais. Houve influências de Collor com Pedro Irujo, em 1992; e de Lula com Pelegrino, 1996/2000; e Lula com Pelegrino e Pinheiro, 2004/2008 mas não ao ponto de elegê-los prefeito. Salvador sempre elegeu seus prefeitos sem levar em consideraçãoa força política do presidente.
6. Vejamos: A primeira eleição direta pós-1984 foi a de 1984 ganha por Mário Kértesz. Era governador da Bahia, João Durval, e o presidente da República, José Sarney, o qual substituiu Tancredo Neves (eleito indiretamente pelo Congresso) e ficou no governo 6 anos para que houvesse coincidência de eleições governadores/presidente, em 1990. Sarney foi apito mudo nas eleições de MK (1984) e de Fernando José (1988).
7. Em 1990, Sarney foi substituido por Fernando Collor de Mello. Na Bahia, depois de Durval, assumiram Waldir Pires (1987/maio 1989), Nilo Coelho (maio 1989/1990) e ACM eleito em 1990 (governador entre 1991/1994).
7. Depois de Fernando José a eleita foi Lidice da Mata pelo PSDB então um partido mais a esquerda, mas, sua eleição não teve qualquer influência direta de Collor salvo o fato de que seu adversário, Manoel Castro, era deputado federal e demorou para dar o voto pelo impeachment de Collor, em 1992, auge da campanha, uma vez que ACM já estava alinhado com Collor administrativamente.
8. Nesta eleição municipal de 1992 surgiu a candatura de Pedro Irujo, eleito deputado federal pelo PRN, o qual lançou também seu filho Luis Pedro a governador, em 1990. Irujo teve uma votação expressiva para um estrangeiro (basco) que mal falava o português. E ajudou na eleição de Lidice da Mata. Collor tem, portanto, uma influência indireta na performance de Irujo, mas, não na vitória de Lidice.
9. Aconteceu a substituição de Collor por Itamar Franco e a eleição de Fernando Henrique pelo PSDB, em 1994. Em Salvador, deu-se a eleição de Antonio Imbassahy,em 1996, contra Nelson Pelegrino, do PT. Influência de FHC na vitória de Imbassay: zero.
10. Nessa eleição houve uma influência forte de Lula na campanha de Pelegrino. Fazia a campanha de Imbassahy com a Propeg e monitorávamos os passos de Pelegrino. Em meados de 1996 (junho/julho) estávamos com a campanha ganha. A frente percentual de Imbassahy era, a essa altura, mais de 50 pontos.
11. Compareceu então o fenômeno Lula num comício na praça Castro Alves, salvo engano, em agosto, e Pelegrino saltou de 7% (número que não saia desse patamar desde o lançamento do seu nome há 5/6 meses) para 17%.
12. Era o efeito Lula muito popular nessa época mesmo depois de perder as eleições para Collor e FHC. A campanha de Pelegrino começou a decolar. Temíamos que Lula voltasse a Salvador mais duas ou três vezes, o que poderia virar o jogo, mas, felizmente, isso não aconteceu.
13. Lula só apareceu no final da campanha e Pelegrino atingiu a marca de mais de 30%. O cinto apertou, mas, ainda assim, Imbassahy venceu no primeiro turno com uma diferença de menos de 2% acima dos 50% previstos na lei eleitoral.
14. Veio a campanha de 2000 e Imbassahy foi reeleito. No nosso entendimento, o PT errou ao lançar novamente Pelegrino. Se tivesse lançado Jaques Wagner é provável que tivessemos perdido a eleição.
15. Pelegrino era nosso conhecido do marketing, a gente sabia todas as suas deficiências, e isso facilitou a vitória de Imbassahy que fazia um bom governo, lançara o metrô e executava a obra, tinha, portanto, o que mostrar na TV. O presidente era FHC com apito nulo na campanha da capital ainda que tivesse aprovado o metrô.
16. Pelegrino ainda caiu na insensatez de ser contra o metrô. Lula voltou a ter influência na eleição como força de apoio a Pelegrino, mas Imbassahy venceu até com mais folga do que, em 1996, com 3% acima dos 50%.
17. Lula foi eleito presidente em 2002. Teria tudo para influenciar na eleição a prefeito de Salvador, um sonho petista, em 2004. Mais um vez, no entanto, o PT lançou Pelegrino. Errava de novo. Surge, então, o "zebrão" João Henrique (PDT) que adotou o discurso petista contra os pobre e oprimidos, contra o "chupa cabra" (defensor da classe média), e venceu o pleito derrotando ACM e Lula. ACM lançou César Borges a prefeito.
18. Era de esperar que na eleição de 2008 o PT ganhasse o pleito em Salvador. Lula presidente e Wagner governador, este eleito em 2006. Nada. Deu de novo João Henrique ajudado por um ministro de Lula, Geddel Vieira Lima, com alianças com ACM Neto. Desta vez, o PT foi com Walter Pinheiro tendo na vice Lidice da Mata.
19. O tempo passou e chegamos a eleição de 2012 e o PT voltou com a Pelegrino na cabeça e Olivia Santana (PCdoB), na vice, mas, se deparou com ACM Neto que venceu o pleito num segundo turno apertado. A presidente era Dilma Roussef e sua influência neste pleito foi - zero. Na eleição de 2016, Neto se reelegeu e o PT sequer lançou um candidato apoiando Alice Portugal (PCdoB).
20. Como vimos, nenhum presidente da República teve influência decisiva numa eleição para prefeito de Salvador. Fica portanto, a pergunta no ar: E com Bolsonaro, o que vai acontecer?
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