Miudinhas
Tasso Franco
24/06/2013 às  11:25

FHC no Canal Livre: - Brasil recuou perante o mundo contemporâneo

Para FHC, é necessário entender que há uma integração grande entre as cadeias de produção no mundo e que a defesa do interesse nacional precisa ser feita nesse patamar.


MIUDINHAS GLOBAIS: 


   1. O Ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, 82 anos de idade, disse, recentemente, numa das suas entrevistas que Lula colocou o Brasil, novamente, na República Velha. Sintomático. Na noite de ontem e madrugada de hoje, no "Canal vre”, da Band, em entrevista a Boris Casoy, Fernando Gabeira e Mitre, afirmou que não saberia precisar qual ponto em que os protestos que eclodiram no país na semana passada e seguem até os dias atuais vai chgar.

   2. Deixou claro, no entanto que as manifestações abrem um “momento novo para o Brasil”. Havia a presunção de que a apatia era generalizada e nós estamos vendo que não é bem assim, que há novas necessidades, novas aspirações”. O Brasil estaria, assim, ligado no retrovissor, fora do contexto mundial, numa raia secundaria se ombreando com a Venezuela, Argentina e Cuba.
 
   3. FHC vê uma diferença entre os protestos de hoje e os que ele vivenciou há cerca de 50 anos. “As manifestações não terminam como terminavam sempre: em um comício. Não tem palanque, não tem discurso, não tem o apelo, não tem um manifesto”. Para ele, esse é o reflexo de um outro momento da história da sociedade contemporânea.
 
   4. O ex-presidente ainda afirma que essas manifestações transformam a sociedade, “mesmo que, de imediato, a gente não perceba”. “Eu vivi intensamente o movimento de maio [de 1968] na França. Lá, aconteceu a ‘mudança pelo curto-circuito’. Um fio desencapado, em qualquer nível da sociedade, pode produzir um mau contato por contágio”. Na França, tudo começou com greves estudantis após embates com a administração pública.
 
   5. “Nós temos uma democracia de cidadania restrita”, analisa FHC. Ele diz isso pois acredita que “o eleitor, o representante” não é o cidadão, é uma organização intermediária, como prefeituras, empresas, igrejas, clubes de futebol. E a quantidade de partidos, que representam “pequenos grupos de interesses”, colabora com isso, na visão do ex-presidente. 
 
   6. “Então, o candidato relaciona-se com as instituições intermediárias, e o eleitor é uma coisa que vem depois”. Após a eleição, FHC diz que o representante presta contas a quem o elegeu, que não foi o cidadão. “E ele vai fazer o que lá no Congresso? Vai obter vantagens, via Governo Federal, para aqueles que o elegeram”. Assim, o cidadão não se sente comprometido porque “não está mesmo comprometido com aquilo”.
 
   7. FHC também observa um encolhimento da agenda nacional. “Tudo se fechou no Palácio do Planalto e o Congresso foi perdendo a capacidade que tinha de ser caixa de ressonância do debate público. A agenda pública diminuiu, o espaço público encolheu, o que acho lamentável”. 
 
   8. Como consequência, os brasileiros não enxergariam um trabalho político feito pelo Legislativo. “O poder que a população sente no Brasil é só do Executivo. E, geralmente, sente apenas como consequência de decisão”, aponta o ex-presidente. 

   9. Como exemplo, Cardoso cita a sanção da MP dos Portos pela presidente Dilma Rousseff. “Isso foi feito sem que ninguém tomasse conhecimento. Não houve debate na sociedade”. Ele recorda que o mesmo não aconteceu quando seu governo quebrou o monopólio do petróleo, que foi “uma briga danada, havia um debate nacional”.
 
   10. “Nós estamos vivendo até agora em um mundo meio virtual, de marketing, de tudo resolvido, já resolvemos tudo. A Copa ia ser a entrada do Brasil entre os grandes, e o povo está vivendo o cotidiano”, observa o ex-presidente. Ele comenta que as pessoas não acreditam mais só no discurso, que, agora, é necessário um gesto, uma atitude. “A vida não é essa maravilha que aparece nos discursos”.
 
   11. O sistema partidário brasileiro mergulhou no Congresso, na visão de FHC. “A oposição existe no Congresso, mas ele não ecoa na sociedade”.
 
   12. Ainda a respeito da oposição, o ex-presidente diz que ela não tem o que temer neste momento de manifestações pelo país. “Quem está no governo está aí há 10 anos, não adianta que foi FHC. Eu estou fora há muito tempo”, diz Cardoso.

   13.  Ele ainda atribui muitos dos erros cometidos nesse período à maneira como o governo atua. “Há uma falta de estratégia, houve uma aposta equivocada”, que ele relaciona com a perda de espaço do Brasil na América do Sul. 
 
   14. O ex-presidente também acredita que é complicado governar com 40 ministérios. “Acho muito difícil que o presidente da República, fosse quem fosse, soubesse o nome dos 40”, brinca. “E nem pode conversar com eles. E nem precisa nem é necessário”.
 
   15. O ex-presidente critica a visão do governo de isolar-se cada vez mais e crescer apenas internamente. “Não está certo isso. Nós nos desconectamos dos grandes fluxos que existem no mundo e estamos ficando cada vez mais fora deles”. 
16. Para FHC, é necessário entender que há uma integração grande entre as cadeias de produção no mundo e que a defesa do interesse nacional precisa ser feita nesse patamar. “Temos que nos afirmar pela participar, não pelo medo, pelo recuo”.
 
   17. Outro erro, na visão de Fernando Henrique, é, neste momento de manifestações, deixar o debate apenas entre os poderes constituídos, afastando a sociedade. “Você ouve a população senão você perde contato com setores da sociedade que não são visíveis, e você vai ver que o mundo não é uma maravilha”.
 
   18. O ex-presidente admite que há um desencanto dos jovens com a política, mas que também existe um reencontro quando ele vai para a rua protestar. “E quando ele se reencontra, vira esperança. E eu acho isso uma maravilha”.
 
   19. A preocupação com a democracia e a corrupção foi o que levou o ex-presidente a apoiar a descriminalização da maconha. “Eu achei que tinha uma obrigação cívica de falar dessa questão”, coloca FHC. “Era visível que os processos de democracia estavam sendo minados na base”. 

   20. Ele diz isso referindo-se não apenas ao Brasil, mas à América Latina. Seu territórios grandes, o poder dos traficantes e um “proibicionismo” – “como se fosse a essência de tudo” - colaboraram para os problemas envolvendo as drogas nos países da região.
 
  21. “Eu sei que esse é um tema difícil”, admite FHC. Mas a repercussão favorável o levou a certificar-se de que “não é possível continuar fechando os olhos, fingindo que o problema não é grave, e que se resolve pela repressão e pela violência”.


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