A biruta da obrigação me pôs numa rota diferente daquele que houvera imaginado para este fim de semana, expirando. Depois de estar, desde a última segunda em São Paulo, onde pude trabalhar e curtir com amigos, já que a vida se resume na capacidade de produzir, em comunhão com momentos prazerosos, fi-lo desta forma.
Sexagenando além dos cinco, rumando com a aquiescência do Onipotente ao palco dos septuagenários, me resta devorar horas de alegria ao lado de amigos, amigas e filhos destes, de quem herdei a amizade, contando e ouvindo histórias responsáveis por me fazer realizado. Nos hiatos das folgas, talvez porque tenha laborado tanto, se façam invertidas as ordens e me entrego às consultorias, bem como aos rabiscos onde registro minhas sensações.
Sonhei em voltar ao meu porto seguro, a casa onde nos abrigamos eu, João e Roberta, quiçá meus derradeiros amores, depois de outros tantos que pude curtir neste plano, seguindo em direção da passagem inexorável. Mas, por conta das contas fui obrigado a adiar minha chegada, onde despejo minhas mágoas, falo das minhas dores e como navio que aporta na amarração que lhe aceita os trancos, depois de varar ondas bravias, sinto o apoio irrestrito de quem vive o sacrifício de me aturar.
Porém, por precisar voltar a Guanambi, no dorso do labor, fui recebido por meu dileto amigo Welton Cardoso, o cirurgião, cujos filhos que vi crescer, hoje superam-no na profissão e nos segredos da vida, posto assim ela é, dinâmica. Leva-me e ao meu parceiro Aderbaldo Avelar, o humilde causídico - assim ele mesmo se intitula - até a sede da fazenda São Lucas, especial propriedade com mais de mil hectares, na esplêndida região conhecida por Tabua.
Ali chegando assistimos sua querida Sandra, irmã e sobrinhos debulhando no alpendre da casa, frente a piscina, feijão catador. Sob sombra de árvore generosa, entre tiragostos de carnes diversas assadas na brasa, sorvemos doses de Buchanas, wisky preferido do inesquecível Cafezeiro, cuja filha, irmão e amigos estiveram comigo ontem, ao entardecer, enquanto Marcelo Gomes dedilhava sua viola, na Pousada da Conquista.
As treze horas haviam passado e chegamos no pé do fogão de lenha, responsável por jogar em mesa larga e farta iguarias preparadas pela anfitriã. E o feijão farofado, arroz solto, vinagrete, molho de pimenta colhida no pé guarneceram a galinha caipira, o pernil de porco de sabor inigualável, com arremate de lasanha a bolonhesa e confesso, joguei pela janela meu regime de meses.
Depois, enquanto escrevia deitado num dos quartos espalhados pela residência acolhedora, ouvi os roncos de Aderbaldo desmaiado ao meu lado e lembrei-me de minha esposa entendendo o quanto ela sofre comigo, sobretudo nas noites onde a sinfonia do ronco lhe tira o sono, assim como permanece insone nas preocupações que tem com o marido, adolescente ancião.
Destarte, levantei e fui buscar outra vez a companhia do scoth, afinal, preciso afogar minhas saudades.
Tabua, 11 de fevereiro de 2017
Valdir Barbosa