10/11/2016 às 11:13
U VI O TREM PASSAR NA SERRA e o último apito não morreu
Um rio passa na sua vida; um trem também passa e deixa recordações
Neste quarta-feira, 9, fui a Associação Maria Alexandrinha (AMAS), na Matinha, Zona Rural de Serrinha, acertar a festa natalina que o Bahia Já promove todos os anos na Amas com a distribuição de brindes e que acontecerá no dia 22 de dezembro próximo. E, para minha alegria, no trajeto entre a sede e o povoado, ví o trem passar.
Tomei até um susto pois há alguns anos, desde que escrevi a crônica "O Último Apito do Trem" sobre a desativação da antiga Leste Brasileiro no município, nunca mais tinha visto o trem passar na minha terra. E, hoje, eu vi, e fiquei até emocionado lembrando dos meus tempos de menino e jovem quando a gente viajava para Salvador de trem, no noturno.
O trem de hoje era de carga, mas, ainda assim, valeu, porque eu vi o trem passar e muitas lembranças povoaram a minha mente por apenas 4 minutos quando o trem passou cortando a estrada que liga Serrinha a Coité, em direção ao bairro do Matadouro.
Bairro de Nelinho, de pretos roliços, do samba do boi, dos bailes do Machô-Machô, das madrugadas de fígados assados na brasa, dos gemidos mortais dos bois, das buchadas e fatadas.
Eu vi o trem passar e essas lembranças também foram passando por minha cabeça.
O trem raspou as terras do Locomitiva de Genebaldo Queiroz, do visionário amigo; do Maracassumé dos Ribeiro; do novo bairro da Cidade Nova; do ex-campo de aviação da cidade que o gato comeu. Esse gato faz é desaparecer coisas boas da Serra.
Só não ponguei no trem, lento, ronceiro, carregado não sei de quê, porque minhas pernas não acompanham mais o bailado do ronco das rodas de ferro nos trilhos.
Quase grito: - Sêo Maquinista, pare aí que quero pegar esse trem.
- Dê-me uma carona pelo menos até o Gravatá, quiçá ao Lamarão ou a Água Fria.
- Sêo maquinista, dê-me essa honra.
Nada. A buzina da locomotiva mãe era ensurdecedora pedindo que, nós, motoristas de veículos, parassemos para ele passar. E, nós paramos. Quem haveria de invadir o sinal para aquele mamute de ferro!
Eu também parei, abençoei, fotografei e fiquei olhando ele sumir no horizonte.
Ah! velho trem, um dia ainda lhe pego de novo para ir a Cidade da Bahia como fui algumas vezes madrugada a dentro, ouvindo o sacolejar de seus vagões, até chegar a Estação da Calçada e depois seguir para a Pensão de Sêo Lisboa, na Barão de Cotegipe.
Se não de pegar, vejo você passar, como vi hoje. É um alento. Fiquei com lágrimas nos olhos e volto um dia para ver você passar de novo.
Quem nunca viu um trem passar em suas vidas e depois desaparecer do mapa jamais sentirá essa emoção.
Loucura! Loucura! essa minha idéia de escrever sobre um trem que passou em minha existência.
Hoje, em vi o trem passar, passando, gemendo, chorando, pedindo para sempre passar pela Serra e dizendo que o último apito do trem ainda não morreu.
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