Não desejo passar a idéia de uma obsessiva monomania sobre a incongruência do Museu Rodin na Bahia, tema sobre o qual já me pronunciei sem ambigüidade em outros escritos. Mas nada sendo definitivo, sempre temos algo a acrescentar, mesmo sobre um tema que já parecia não ter mais o que discursar.
Deitado na rede, já meio sonolento, uma quase idéia se faz insistente. Vou ter que me arrancar ao maternal balanço e verificar a dúvida invasora.
A final, qual foi a influência do mestre francês sobre o modernismo brasileiro?
A Semana de Arte Moderna no Brasil aconteceu em 1922, ou seja, cinco anos depois da morte do autor do Pensador.
Até aquela data, não se concebia em país tropical nenhum falar de cultura sem olhar para o hemisfério Norte, em particular em direção a Cidade-Luz, como era chamada Paris. Então com justa razão, nada mais lógico nossos jovens artistas voltarem a São Paulo ou Recife carregando algumas preciosas sementes do famoso escultor.
No entanto e apesar de reconhecida influência européia nos primórdios deste verdadeiro terremoto cultural que foi a Semana de 22, se os nomes de Marinetti, Picasso, Mallarmé, Paul Fort e Apollinaire são menções obrigatórias, as pesquisas não demonstram o mínimo rastro de qualquer referencia a Rodin.
Nem antes, nem durante, nem depois de Fevereiro 22.
Oswaldo de Andrade, Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Manuel Bandeira, Mário de Andrade parecem desconhecer o escultor. Vindo da Lituânia profunda, Lazar Segall encontra e convive com Naum Gabo, mas passa longe do hotel de Biron.
Até mesmo Victor Brecheret, de pai francês e um dos fundadores do Salon des Tuileries, após curto namoro rodiniano, volta de Paris em 1919 e em São Paulo esquece sem mais demora o velho gênio. Sua obra denuncia já em 1922 uma fraterna proximidade com Modigliani que deve ter encontrado com certeza em Paris ou em Roma onde também permaneceu por longo período.
Da mesma forma que Auguste Rodin não deixa herdeiros espirituais franceses, tão pouco ele impressiona os brasileiros.
Então, desculpe a ignorância do macaco, mas para quê um Museu Rodin na Bahia?
As vaidades exacerbadas, baianas ou não, não podem simplesmente dispor do dinheiro público a seu bel prazer e determinar, a contracorrente da opinião dos que fazem verdadeiramente a cultura - e aqui não estou falando dos pegajosos puxa-sacos - o que é bom para o Zé Povão.
A época dos imperadores de polegar para cima ou para baixo terminou há mais de mil e quinhentos anos.
Alguém está com saudade deles?
https://bahiaja.com.br/artigo/2007/06/19/museu-rodin-encore,88,0.html