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20/05/2014 às 12:30

Comunicação política na era digital e as mudanças

Rosane Santana é jornalista, doutoranda em Comunicação e Cultura Contemporâneas e membro do Centro de Estudos Avançados em Democracia Digital da UFBA.

Rosane Santana

A relação entre comunicação e política passa por mudanças estruturais. A decadência da esfera pública, iniciada com a comunicação de massa e o surgimento da sociedade de consumo, chegou a um ponto de inflexão, na virada do século XX. Isso porque, ao permitirem a interação autocomandada, interpessoal, planetária e de conteúdo livre, sem passar pelos media tradicionais (rádio, TV e impressos), as novas tecnologias da informação e da comunicação (TIC) com acesso à internet abriram um espaço de participação popular sem precedentes na história.  

   O resultado é uma alteração no relacionamento entre os cidadãos, o poder, suas instituições e a representação política, que está reconfigurando a face da democracia.

   No campo da comunicação, as novas tecnologias superaram os limites de tempo e espaço, possibilitando uma interação real time, sem a intermediação dos media tradicionais. Com isso, o monopólio da informação exercido pela grande imprensa foi quebrado, igualando as condições de acesso dos cidadãos a conteúdos privilegiados – chave do poder político até então.

    Depois de mais de um século de convivência com medias tradicionais, que monopolizaram o conteúdo do "debate" e a distribuição de informações,  "a galáxia da internet" soa caótica, um universo desconhecido e fluido para os atores políticos. Isso explica a reação quase unânime dos governos em todo o mundo, no sentido de encontrar meios para controlar o fluxo comunicacional no espaço cibernético, visto por muitos estudiosos como uma nova esfera pública habermasiana.

    As TIC com acesso à internet estariam reproduzindo a atmosfera dos cafés e salões da burguesia, que conspirava contra o poder aristocrático, na Europa Ocidental do século XVIII. 

   A conspiração, atualmente em escala planetária, como demonstraram os movimentos insurgentes que eclodiram desde a Primavera Árabe, em 2011, ocorre no instante em que as bases do Estado-nação - espaço territorial no qual se desenvolveram a cidadania e os meios de comunicação de massa - estão sendo minadas pela emergência de um mercado globalizado. Neste contexto, partidários da democracia deliberativa defendem que seja repensada a relação entre o Estado e a emergente sociedade civil global mediada pela comunicação de massa. 

   Tal iniciativa é considerada fundamental para a democracia, a partir da criação de uma esfera pública tão ampla quanto o impacto das decisões políticas e econômicas a serem adotadas. E por quê? Porque em um mundo globalizado, diversos problemas extrapolam a capacidade de solução por instituições políticas, como o Parlamento, governos locais e até nacionais, reduzindo o poder da representação. São exemplos, o aquecimento global, as oscilações do mercado, as crises econômicas e as mudanças tecnológicas que afetam o mercado de trabalho, as quais interessam de perto ao eleitor.

   Qual seria o papel da comunicação política nessa conjuntura? Entendida como um conjunto de estratégias comunicacionais adotadas na mediação da relação entre os partidos, seus líderes e os eleitores, através dos media, a comunicação política é diretamente afetada pelas transformações. Profissionais e estudiosos da área, bem como os atores envolvidos, debatem-se entre os prós e contras do uso dos meios de comunicação tradicionais e as novas tecnologias da informação e da comunicação  (TIC), num contexto de mudanças estruturais.

    De um lado, a exigência de uma maior fiscalização sobre governos e atores políticos aponta para iniciativas que estimulem a participação popular nos negócios públicos, através de tecnologias com acesso à internet, num quadro de crise da democracia representativa e suas instituições. 

   Do outro, a classe política resiste a abrir mão do controle sobre a informação, no qual sempre se apoiou para a manutenção do poder.

   Embora reconheçam a importância da representação política como uma instância legítima de decisões, numa sociedade pluralista, deliberacionistas alegam que os partidos, sozinhos, não têm condições de abarcar a diversidade de opiniões incorporada pelos eleitores. De outro lado, cientistas políticos, sociólogos e historiadores observam que a maioria das questões que envolvem os governos atuais requerem soluções rápidas, além de versarem sobre matérias cujo domínio é restrito a uma minoria de tecnocratas.
Assim, tais assuntos não poderiam ser resolvidos por consulta direta aos cidadãos, o que representa, para alguns estudiosos, uma verdadeira ameaça à democracia. A solução para o impasse estaria em mesclar instrumentos da democracia direta e deliberativa, estimulados pelas novas tecnologias da informação e da comunicação (TIC), com o espaço da representação política. Este é o futuro da democracia vislumbrado por Bobbio.

   No campo da comunicação política eleitoral, o uso das novas tecnologias da informação e da comunicação (TIC) com acesso à internet, além de estar inserido num contexto maior de ampliação dos espaços de participação política, serve aos interesses estratégicos do marketing, de fidelização do eleitor, sua contribuição na arrecadação de fundos e integração às atividades de campanha. Isso porque, viabiliza uma interação direta com os diversos segmentos sociais, estabelecendo um processo dinâmico de escuta e respostas em tempo real, em um nível de estratificação impossível de ser alcançado por mídias tradicionais.


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