28/01/2013 às 11:28
TRAGÉDIA DO RS! Carma não se liga a irresponsabilidade
José Medrado é espirita e comanda o projeto Cidade da Luz, em Salvador
Na madrugada do último domingo, o Brasil se chocou com a mais de cem mortes no incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Considerado o terceiro maior do mundo em casas de espetáculo.
A partir daí, natural, que me surgissem as perguntas sobre as causas espirituais dessas mortes coletivas, o que poderia explicar? Infelizmente se criou no movimento espírita nacional um fatalismo às avessas, onde tudo se explica por um tal não foi “por acaso”, ressoando em explicações cármicas, em uma espécie de expiação de culpas passadas de uma única vez.
As obras de Allan Kardec são, em verdade, a real referência que se deve ter acerca do que prega a doutrina, tudo o mais, por excelentes que sejam os seus canais receptores, são complementos que precisam ser confrontado com o que está no que nós espíritas chamados de codificação (Os livros lançados por Kardec).
O Espiritismo se propõe a ser uma religião calcada em uma fé raciocinada, mas, infelizmente, muitos companheiros pregadores, difusores da doutrina se esquecem deste essencial aspecto e enveredam pelo reducionismo de conceitos pragmáticos, de concepções limitadas.
O Livros dos Espíritos traz no seu capítulo sobre Flagelos Destruidores, das perguntas 737 a 741, explicações que poderiam se aproxima a essas mortes resultadas de grandes tragédias, não, necessariamente, em casos como o em análise. Interessante a observar que nessas perguntas não se diz nada a respeito da reunião que não foi por acaso e coisas e tais.
Chama-me em particular a atenção o que lemos na resposta 744 quanto ao “advento de uma melhor ordem de coisas” - o que vemos que de logo acontece em novas práticas e na 742 diz que: “ Muitos flagelos resultam da imprevidência do homem.”.
Ora, não resta dúvida alguma que foi o caso do que aconteceu no Rio Grande do Sul, pois a banda que se apresentava acendeu um sinalizador como parte do show, em ambiente totalmente inadequado para aquela exibição. Dizer então que não aconteceu por acaso, que aquelas pessoas que morreram seguiram o seu carma, é reducionismo que apequena o livre arbítrio, ou institui o destino como algo pré-estabelecido, o que não é verdade.
A irresponsabilidade humana, aliada a negligência ceifaram aquelas vidas e por isto, sim, os responsáveis criaram um carma negativo pesado.
É preciso que se pontue que quando se fala que não foi por acaso, precisamos dizer que o regime da situação em que nos encontramos, o estado de sociedade e cultura a que estamos submetidos e participamos, aí sim gera o que nada é por acaso. Não é por acaso que uma bala perdida atinja um morador de uma comunidade violenta, o local propicia, em tese, o que não deveria, a que isto aconteça. Dessa forma, o Brasil é um país de jeitinhos, o que não se pode descartar que não estamos livres de concessões, autorizações sem critério ou sem fiscalização devida, aí é que está o que não é por acaso. Aqueles jovens não precisavam morrer como morreram.
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