"Em toda casa tem um quadro de São Jorge
Em toda casa onde o santo é protetor
Num barracão, num bangalô de gente nobre
Há sempre um quadro desse santo salvador.
Quem é devoto é só fazer uma oração
Que o guerreiro sempre atende
Dando a sua proteção
Por isso mesmo, não devemos esquecer
A grande data, dia 23 de abril
Vamos cantar, com alegria e prazer
Porque São Jorge é o padroeiro do Brasil"
Canção de Ari Monteiro e Irany de Oliveira, imortalizada na década de 50 do século XX na voz de Jorge Veiga. O Brasil inteiro cantava. Rádio de válvulas ligado, bocas de alto-falantes nos postes e no alto das mangueiras das vielas de barro dos bairros populares e subúrbios, os atabaques ecoando à noite pro Oxóssi das matas.
Que seria de São Jorge, se não fosse Oxóssi?
Ou, não fosse São Jorge, Oxóssi resistiria?
Qual dos dois melhor seria?
Fecundas raízes ainda, no solo da Bahia
Ou restos de senzala, feito erva daninha.
Mas é crença do povo
Devoção, guarda e folia.
E lá, bem no fundo da alma, nos relicários da fé
o baiano sabe muito bem:
"Cada qual com sua energia".
Pois então, os dois juntos, por quê não?
Pura sabedoria.
Medalhinha de São Jorge, de Oxóssi a guia.
Keto é reino de Oxóssi
O dono do terreiro, guardião da aldeia.
São Jorge é o cavaleiro da lança
Que protege a virgem, pisando o dragão.
Vela acesa para os dois, barracão e sacristia.
Missa pra Oxóssi
Caça pra São Jorge
Agrado e prece pra um e outro
Okê Arô, meu santo guerreiro!
O povo sabe
Tudo UM.
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