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02/06/2011 às 09:01

UM CÉU SEM ESTRELA NA BEATIFICAÇÃO DA IRMÃ DULCE

Frei Ruy Lopes é franciscano

Frei José Ruy G. Lopes

Foto: Rafael Martins
A chuva lavou, benzeu e molhou mais do que nas lavagens ao Bonfim
 

  Finalmente havia chegado o grande dia em que o baiano de todas as cores e de todos os credos aguardava. Era a festa de Santa Rita mais brasileira que superava em muito aquela outra de Cássia italiana.

                          
  Naquele jubiloso domingo de Páscoa a Igreja Católica reconhecia oficialmente aquilo que a Bahia inteira, de coração, já celebrava: a santidade de Irmã Dulce. Foram necessárias muitas entrevistas em que padres gastavam o ‘teologuês' para explicar a diferença entre beatificação e canonização. Para toda gente, nada mais. Apenas a revelação teológica dos corações daqui debaixo fazendo a leitura dos Corações ao Alto.

                     
   Mas, um monge de quem Irmã Dulce nunca ouvira falar já dissera: "o santo não é alguém bom, mas alguém que experimentou a bondade de Deus". E todos, indistintamente, experimentaram a bondade de Deus nos gestos bondosos de Dulce que de tão suaves e expressivos revelavam a doçura de quem experimentou a bondade do Senhor em si mesma.

                    
   Os mais católicos pensavam que o grande sinal vindo do céu seria um sol radiante fazendo mais bela aquela tarde de domingo. Porém, o céu se fechou num cinza escuro de dar medo. Lembrava, contudo, aquela outra tarde da sexta-feira mais apaixonada de Deus em que o céu se rasgou e o tempo parou para apreciar a infinita dor amorosa do Pai em seu Filho.

                   
   Não havia lugar para estrelas. Não havia para onde desviar os olhos. Não havia outra possibilidade de celebrar aquela beatificação. Irmã Dulce era franciscana, imitadora da paixão. De quem pára a fim de contemplar na face do pobre o rosto de Jesus Cristo suplicando pão e carinho.

                
   Estávamos todos ali. Os frades amigos da primeira hora representados pelos Capuchinhos que carregavam o grande Antônio, intercessor de todas as horas. Os bispos que apoiaram as horas difíceis. As irmãs, que em todos os sentidos, compartilharam as suas dores e as dores do mundo.

   Os padres que dispensavam a Irmã Dulce o seu único alimento mais necessário na Eucaristia. Os ricos que dela se compadeciam e ajudavam os pobres e os pobres que se enriqueceram com o privilégio de sua bondade. Estavam também os políticos que tantas vezes foram rogados. 

    Também esses, naquela noite, não puderam ser estrelas. Ficaram todos compelidos aos guarda-chuvas e capas e até mesmo na ‘bolha-plástica' que envolvia a Presidente da República.

                
    Não havia lugar para outras estrelas. Nem no céu, e menos ainda na terra.

                  
    Uma ausência foi sentida. A grande entusiasta que agitava as mãos dos pobres e doentes e segurava os braços dos políticos e poderosos não se fez presente. Faltaram as bandeirinhas de Dona Dulcinha que não estava lá. Talvez alguns poucos pensassem como ela se rejubilaria naquele evento. Mas  ela não foi. Preferiu assistir a tudo de camarote no céu. E ao lado de quem? Ninguém duvida. Da própria Irmã Dulce! Privilégio único e intransferível.

                 
    No final, na comunhão, a chuva torrencial... Lavou, benzeu, molhou mais do que todas as lavagens do Bonfim. Tudo lavou. Encharcou corações encantados por Irmã Dulce para que fossem mais parecidos com o dela. E a comunhão eucarística preparada para multidão faminta que tal qual na multiplicação dos pães queria se fartar, se tornou aconchego de poucos.

               
     Passou a chuva, acabou o domingo sem televisão. Ficou a certeza de que Irmã Dulce passou de novo entre nós conclamando-nos a experimentar a bondade de Deus sendo bondoso  com os irmãos. Mais uma vez ficou no coração o semblante doce da Bem-aventurada Dulce dos pobres.

             
     Ficou, naquele domingo de Santa Rita, o sorriso discreto, simples e doce de Maria Rita. Desta vez o da sobrinha. Não por herança genética, todavia, por herança de amor. Enquanto houver um doente, pobre ou desvalido, a OSID continuará existindo como "a última porta" a ser batida.
 
    E, graças ao sorriso doce de Maria Rita, continuarão os pedidos de convênios e repasses. E graças à outra Maria Rita, a Bem aventurada Dulce dos pobres, a esperança certa de que a bondade do Céu não passa, não tem limites.


    Em Jesus de Nazaré e Francisco de Assis,


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