Sem estímulos, criadores baianos vêm perdendo espaço para outras áreas nas últimas décadas.
Haja persistência! Há mais de 40 anos que os artistas plásticos baianos, vêm minguar a sua participação na produção cultural da cidade. Sem estímulos que fortaleçam a profissão, cada vez mais esses profissionais perdem terreno para outras áreas, como o teatro, dança e principalmente a música.
Por sua própria natureza, o trabalho artístico é realizado de forma solitária e o seu produto, em sua maioria é apresentado confinado em uma galeria de arte, à espera de contemplação. Por este motivo, não alcança o grande público e muitos julgam ser uma arte de elite.
Um fato importante que contribuiu também para este marasmo foi o fechamento pelo regime militar, da II Bienal Nacional de Artes Plásticas que se realizava em Salvador em 1968. Com isso a Bahia perdeu uma grande chance de assegurar, para as Artes
Plásticas, um lugar de destaque no cenário nacional. Até hoje o Estado não conseguiu romper o favorecimento das artes no eixo Rio - São Paulo.
Porém são vários os males que envolvem essa profissão e desencadeiam uma série de outros fatores:
não é uma profissão regulamentada; não possui uma política pública específica; a ausência de uma forte entidade de classe; a carência de crítica e jornalistas especializados leva a falta de visibilidade; a inexistente figura do marchand para comercializar e divulgar as obras no mercado interno e externo; número reduzido de galerias de arte leva ao não investimento e promoção dos artistas locais; programação cultural que permita um diálogo com outros artistas, críticos e produtores de arte; a falta de salões, festivais, exposições que incentive o surgimento de novos artistas; a falta de política acadêmica nas universidades, essencial para os artistas emergentes ; a frustração dos artistas; a não formação de grupos em prol da causa; a acomodação e como conseqüência o isolamento.
São tantas as pendências que dificultam o caminho natural desse nobre ofício que este espaço não comportaria descrevê-las em sua totalidade. No momento as listadas acima são de grande relevância.
Pertenço à geração da transição entre a década de 70 e 80, e vivenciei alguns acontecimentos que impulsionaram e dinamizaram o cenário das artes plásticas daquela época:
No final da década de 70 até meados de 1980, surgiram alguns incentivos que ativaram a produção artística local. A Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, era um centro aglutinador que estimulava o surgimento de valores emergentes, realizando Festivais, Feiras e Salões Universitários entre outros eventos como o Salão Universitário Nordestino de Arte e ações pontuais da Fundação Cultural, como o I Salão Baiano de Artes Plásticas, da exposição cadastro no Museu de Arte Moderna e programações culturais patrocinadas pela iniciativa privada, como a Associação Cultural Brasil-Estados Unidos (Acbeu) e Instituto Cultural Brasil-Alemanha (Icba).
Sem acesso a galerias os novos artistas formavam grupos e buscavam espaços alternativos, a exemplo de lobbies de hotéis. Ao mesmo tempo, os poucos galeristas existentes na cena local, davam oportunidade aos artistas que mais se destacaram na Escola de Belas Artes. Por sua vez, o mercado era conservador e de difícil penetração. Pessoas com alto poder aquisitivo só adquiriam trabalhos de artistas já reconhecidos, não arriscavam em jovens artistas, mesmo porque eram considerados trabalhos inovadores e experimentais.
Nos carnavais da época, a Prefeitura de Salvador, através de concorrência pública convocava artistas plásticos para realização da decoração das ruas. Com o aumento do circuito carnavalesco e da multiplicação dos trios elétricos - que a cada dia ficam mais altos - resultou na extinção desse único e efetivo estímulo, no período, para a classe.
Vale lembrar também, que alguns políticos tentaram através de Lei incentivar o fazer artístico com a Lei que obriga os construtores contratar obras de arte para todos
empreendimentos imobiliários, a exemplo de outros estados. O projeto não foi adiante.
Já nas décadas seguintes, as poucas ações realizadas pelo Estado foram os Salões Regionais e o Salão Nacional de Artes Plásticas da Bahia. Um suave vento soprou na reestruturação do Pelourinho, com aberturas de galerias e ateliês de bons artistas. Mas a euforia durou pouco. No território das festas, a música ecoou mais forte. Depois surgiram os complexos culturais da Caixa Econômica e dos Correios, galeria do EBEC, mais o Prêmio Braskem de Cultura e Arte, que vieram amenizar a falta de produtores culturais, mas ainda de forma incipiente. É sabido, que nesse tempo a falta de estímulos provocou o não surgimento de novos valores.
Portanto há mais de duas décadas que esses parcos recursos, e a vontade política que outrora aliviaram as artes plásticas baianas foram aos poucos minguando, chegando hoje a este estado de desvalorização e na mais completa orfandade.
Hoje se fala muito de políticas culturais, e em torno disso se discute a melhor maneira de executá-la no seu contexto macro. Interiorização é a palavra de ordem. Qual será o legado destinado às artes visuais e especificamente às artes plásticas na capital?
Deixo aqui 3 questionamentos básicos:
Qual será o caminho que o artista emergente terá de trilhar, se as dificuldades encontradas são maiores do que a sua própria arte?
Qual será a proposta para anistiar os artistas já consolidados, mas que lutam para atingir um lugar de destaque no cenário das artes plásticas baianas?
Qual será o espaço que os artistas consagrados, mas com vôos limitados, (presos ao mercado baiano) alcançarão no âmbito nacional e internacional?
Buscar as soluções, em conjunto, para definir planos e estratégias, para que as artes plásticas baianas retomem o seu respeitável e justo espaço, ora perdido.
Nesta pequena análise fica subtendido que é necessário rever o papel que as artes plásticas representam para esta terra, cuja criatividade e diversidade cultural a tornam respeitável e visível para o resto do mundo.
O momento atual é de união e reflexão.
Lígia Aguiar
Artista Plástica - ligiaaguiar@superig.com.br
https://bahiaja.com.br/artigo/2007/04/16/dias-de-marasmo-nas-artes-platicas,59,0.html