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25/05/2009 às 12:01

O PAN AFRICANISMO, SALVADOR E OS 30 ANOS DO OLODUM

João Jorge é presidente do Olodum

João Jorge


Foto: Arquivo
Nelson Mandela, um dos maiores símbolos da luta contra o apartheid no mundo

Hoje dia 25 de maio, vamos celebrar em Salvador, Bahia, o Dia da África uma homenagem aos paises e povos africanos e a luta ela liberdade e igualdade. Esta data foi definida pela ONU através da Organização da Unidade Africana OUA hoje apenas Unidade Africana para comemorar o feito extraordinário das independências dos paises africanos do colonialismo na década de 1960.


O Pan africanismo foi a ideologia que permitiu a independência do Ghana em 1958 e depois de diversos paises africanos como Nigéria, Benim, Senegal, Madagascar, ampliando o horizonte da diáspora africana nas Américas, no Caribe e no Brasil de milhões de descendentes do continente matriz da humanidade.

A África é o berço da humanidade segundo os cientistas e o mais antigo continente na face da terra.


O dia 25 de maio é um dia de celebração da vitória contra o colonialismo, contra a escravidão, contra as desigualdades, contra a fome, contra as guerras, e tantos males que provocam a dor na África e no mundo. Todos nos descendentes do continente africano nos orgulhamos da derrota do mal e da vitória do bem com a libertação e auto governo dos países africanos.


Porém nos dias de hoje as diversas Áfricas que conhecemos nos remete a uma visão crítica e menos heróica e saudosista, a homenagem que fazemos no dia 25 de maio e uma homenagem a uma África real com suas juventudes, seus governos, suas mulheres, seus sonhos de progressos, e de liberdade econômica e política no mundo de hoje.


Neste momento o Olodum vive apaixonadamente a busca pelo conhecimento da historia da África do Sul, o berço da humanidade, a origem da vida, local onde o ser humano se separou dos animais na cadeia evolutiva, que será um dos  nossos destinos em 2010, uma rica e poderosa nação africana, cujo povo derrotou o apartheid e que a superação deste regime conciliou negros,mestiços e brancos,seus heróis lendas são os nossos guias.


Olodumaré - Salve a África e nos ajude a libertar a última cidade do mundo que vive sob o apartheid. A cidade do Salvador 460 anos de opressão para o povo negro
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O Pan-Africanismo -Como proposta


Nestes últimos anos de militância e ativismo negro, nada mais me despertou tanto interesse, do ponto de vista da luta contra a discriminação e/ou preconceito racial, quanto o nascimento no fim do século 19 do movimento Pan-Africanista.


Pois desde que adquirir os primeiros conhecimentos acerca deste movimento, não mais observei, nos meus estudos sobre a história da África e de sua Diáspora, um outro combustível ideológico tão completo, excepcional e extraordinário capaz de tencionar as relações raciais.


O Pan-Africanismo acabou por tornar-se o mais eficiente e eficaz movimento de luta dos povos de ascendência africana do mundo pela liberdade, pois estava assentado no sentimento de solidariedade fraterna entre todos os povos negros que foram vítimas do colonialismo e/ou do racismo europeu. Também, porque o próprio Pan-Africanismo não se constituiu num movimento de mendicância por parte dos negros, mas sim numa busca verdadeira por justiça, onde o povo negro tivesse o mesmo direito de controlar suas vidas como qualquer outra raça.


Embora tenha sido, inicialmente, uma simples manifestação de solidariedade entre negros do Caribe e dos Estados Unidos, que pensavam num movimento único para os povos negros do mundo inteiro, o Pan-Africanismo tornou-se, após a II guerra mundial, um combustível ideológico revolucionário indispensável para os programas políticos adotados por líderes e organizações africanas anti-coloniais, tendo sido significativa sua influência no processo de libertação dos países africanos colonizados.


Assim, tomou dimensões globais. Como principais precursores, temos Marcus Garvey como pai do Pan-Africanismo messiânico e W. E. Du Bois, pai do Pan-Africanismo contemporâneo. O primeiro era favorável a um retorno dos negros à África ou a criação de um estado independente africano no Ocidente para aqueles que não quisessem fazer parte da redenção. Utilizando-se de um discurso extremamente populista, Garvey conseguiu com seu grande carisma arregimentar multidões de negros tanto nos EUA como no Caribe e África.


Enquanto o segundo W.E. Du Bois, foi o primeiro a defender que a unidade entre os negros americanos e caribenhos com os africanos deveria basear-se na compreensão de que a origem de sua dominação tinha uma raiz comum: o imperialismo. Ainda, dizia W.E.Du Bois, que o grande problema do século 20 seria o racismo.


O termo Pan-Africanismo foi cunhado pela primeira vez por Sylvester Willians, advogado negro de Trinidad, por ocasião de uma conferência de intelectuais negros realizada em Londres, em 1900. Willians levantava sua voz contra a expropriação das terras dos negros sul-africanos pelos europeus e conclamava o direito dos negros à sua própria personalidade e autodeterminação.


Apesar da ambigüidade do termo, o Pan-Africanismo pode ser entendido como movimento de solidariedade fraterna dos descendentes, ou ascendentes, do mundo todo, com vistas ao enfrentamento das diversas formas de exploração e descriminação racial.

Atualmente, o Pan-Africanismo está presente no campo racial-político e cultural-religioso. Assentando-se nos princípios da solidariedade, unidade, autodeterminação, autonomia, justiça e igualdade. De todos os princípios aludidos acima, o da autodeterminação merece uma atenção especial, porque significa a liberdade propriamente dita, ou seja, o poder do povo negro de dispor do seu próprio destino, sem se sujeitar a dominação de nenhum outro povo.


Neste sentido, fundamento minha proposta com Malcolm X: "São capazes de imaginar o que pode acontecer, o que certamente aconteceria, se todos os povos de origem africana compreendessem algum dia que possuem vínculos de sangue, se compreendessem que todos possuem um objetivo comum... e que não teriam a menor dificuldade em alcançá-lo se se unirem (?)".


E ainda: "fisicamente os afro-descendentes podem permanecer no Ocidente, lutando por seus direitos constitucionais, mas filosófica e culturalmente precisam desesperadamente voltar para África e desenvolver uma unidade ativa na estrutura do Pan-Africanismo.

 

O Pan Africanismo para os afro-brasileiros.


Os afro brasileiros estão perfeitamente conscientes de que sua libertação total esta inextricavelmente ligada a libertação de seus irmãos africanos nas Américas e no resto da diáspora. Por isto não desprezam as lições de um Marcus Garvey ou de um W.E.B.Du Bois, de um George Padmore ou de Malcom X.


Sabem também que, como os afro-brasileiros sua sorte e seu futuro estão vinculados a sorte dos negros africanos no continente de origem, e nos ensinamentos e os exemplos de um N′ Krumah, Lumumba, Almical Cabral, Nyerere, Samora Machel, ou Agostinho Neto, constituem inspiração, estimulo e energia.


Todos eles são heróis autênticos, teóricos, práticos, que souberam como transpor os obstáculos do colonialismo e as muralhas do supremacismo branco, e agora organizam seus povos soberanos, povos irmãos nossos, transmitidos nos um modelo de lutas, legando-nos um exemplo de dignidade combativa, no resgate da nação africana e de nossos povos negros.


* NASCIMENTO, Abdias do, 2 ed.Brasília⁄ Rio de Janeiro: Fundação Palmares⁄ OR Editor Produtor Editor, 2002. 

 


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