Enfim livre da dengue - oh mosquito safado! - fui assistir ao Som e Luz do Terreiro de Jesus. O espetáculo, assistido por umas quinhentas pessoas, começou com pouco atraso.
Como já tinha sido avisado, o som, muito além do necessário, está mais para trio elétrico que para retalhos de História.
Mas, a bem da verdade, de história tivemos muito pouco, já que o autor resolvera adentrar a monocultura da demagogia barata, com direito a tudo o que estamos carecas de saber (eu em especial! kkkk), sem apresentar novas vertentes ou distanciamentos.
Um contraponto apelativo, usando de celular, paquera e trepada com direito a orgasmo liga-desliga na Cantina da Lua e fogos de artifícios nas fachadas das igrejas - vocês sacaram a sutileza? - mergulhou fundo na vulgaridade.
Faltou elegância, postura, respeito.
E faltou também, no mínimo, uma definição do público alvo.
Quanto à dita Luz, a projeção de imagens em tamanho GGG sempre funciona, ainda mais quando se tem um bom arquivo de gravuras. Com mais pesquisa, teríamos evitado o repeteco cansativo de ilustrações sem muito nexo.
Notemos também a fraca utilização das belas superfícies, ignorando a riqueza do detalhamento das fachadas, como se fossem simples telões. Até parece até haver uma vontade deliberada de negar a suntuosidade das antigas construções.
Não me convence aproveitar tão nobre espaço para destilar pequenos venenos políticos. Mais saudável e convincente seria ampliar a narrativa e sublimar a cronologia da cidade. O que de forma alguma significa varrer a sujeira debaixo do tapete. Fatos são fatos, porem muito mais construtivo seria enfatizar como é bela nossa casa!
Afinal, o público deveria sair do espetáculo com mais amor à cidade do Salvador, e não com sentimentos revanchistas, rancorosos e rançosos.
Não deu para captar todos os elementos do texto, texto este sem aparente fio condutor e declamado com exagerada ênfase. Um pouco de contenção não faz mal a ninguém.
E algo me diz que houve erro grave ao afirmar que Salvador começou no Terreiro, pois eu sempre ouvi falar que após subir a encosta, os portugueses escolheram acampar, por razoes logísticas, na praça Tomé de Souza, aquela do Elevador Lacerda.
Que tal contatar a Consuelo Pondé de Senna ou Cid Teixeira para termos a versão oficial de momento tão significativo?
No mais, senti a falta da mais competente teatróloga neste complexo campo de montagem de textos históricos. Estou falando de Aninha Franco, autora do inesquecível "Dendê e Dengo".
No momento, está no congelador, de onde um dia sairá com mais força.
PS.- Seria interessante saber quanto custou a operação ao bolso do contribuinte.
https://bahiaja.com.br/artigo/2009/01/25/espetaculo-terreiro-dyesus-sem-preservar-historia,318,0.html