A TRIBUNA DA BAHIA durante a semana fez uma série de matérias mostrando que Salvador se transformou numa babel, onde tudo pode, ninguém respeita os espaços públicos, urina-se nas ruas, instala-se uma quitanda onde se quer e se entende que seja apropriado e o bonde segue pra Lapinha, como se esta cidade ainda vivesse nos tempos da Colônia e do Império.
No momento da Colônia, os escravos conduziam pipas de merda em barris de credo e lançavam os dejetos no mar próximo à Ladeira da Preguiça, onde hoje estão alguns dos restaurantes mais caros e melhores em paladar da Bahia. E, no tempo do Império, as estribarias dos burros que puxavam os bondes se situava nas proximidades da Igreja da Barroquinha, local onde também surgiu o primeiro candomblé organizado do Brasil.
Queixar-se do prefeito João Henrique é imerecido uma vez que, reeleito pela maioria dos votos da população, recentemente, e se está mantido no cargo é porque as pessoas querem que esta bagunça generalizada prevaleça e fim de papo. Agora, não se pode, diante de tantas "agressões", querer igualar Salvador à Barcelona, Curitiba, Paris e outros centros urbanos de categoria internacional.
Semana última, no meu caminho habitual ao trabalho, notei que no quiosque construído pela Prefeitura no último mês de setembro, na área de reurbanização da Avenida Centenário, imediações do Calabar, alguém pendurou duas gaiolas contendo curiós e cardeais num dos portais da tenda e ainda amarrou seu cãozinho de estimação, na maior, sem que os guardas da GM se importunassem com tal atitude.
Exemplo bobo, mas, interessante para mostrar que, essa não é uma prática utilizava sequer em minha cidade natal, a extraordinária Serrinha, onde o radialista Antonio Lomes crucifica o bispo Dom Assolari por ter apoiado o PT, daí não ser um homem de Deus e sim do vermelho, o Demo.
No meu caminho laboral tem outras tendas altaneiras, como a do sapateiro Pernambuco, ao lado da Igreja de Santa Terezinha; a tenda de frutas na Avenida Garibaldi, recém instalada no período eleitoral testa a testa com o Hospital Cárdio Pulmonar, a banquinha de frutas ao lado do ex-restaurante Nirá, em Ondina, a tenda carro de Valmir dos pacotes de bolachinhas de goma e biscoitos de cravo e canela, ao lado da Casa do Comércio, o rapaz do lava jato da Rua Alceu Amoroso Lima, e assim por diante.
Há muito tempo que não vou a Aracaju, mas, da última vez que por lá estive não me recordo que isso aconteça na nossa vizinha capital, tão pobre como nós, se comparada a Milão ou a Barcelona. Agora se o sujeito colocar uma tenda de jaca e aipim como tem aqui na Marques de Caravelas, na Barra, vendidos a retalho com bagos de jaca pelo chão, duvido que o prefeito de Recife deixe que se fala igual coisa, nas proximidades da Praia da Boa Viagem.
Agora, se você quiser tomar uma 51, comprar um saco de laranja, apreciar um latão da skol, adquirir meia carteira de Hollywood, beber um caldo de cana, experimentar colares de toda natureza e muito mais badulaques, pode ir ao Farol da Barra na linha turística até o Clube Espanhol que será bem servido. Há de que se dizer que a pobreza produz esse tipo de comércio irregular. Mas, que pelo menos tenha o mínimo de ordenamento e respeito aos cidadãos.
Se procuras um transtorno de maior porte recomenda-se um giro no centro da cidade, especialmente no corredor entre a Praça da Piedade e a Sé, onde o nobre leitor, aí sim, pode verificar a babel em sua plenitude e adquirir o que deseja. Até vendedor de purgante pra combater lombrigas tem à mancheia. A parede do Convento Benedito virou mostruário e os portais da Sé balcão de pedintes.
O prefeito João Henrique disse na última campanha que 4 anos era pouco para concluir sua obra e tem muitos planos pela frente, entre 2009 e 2012. Daí que, morador desta cidade da Bahia, prepare seu coração, aperte o cinto e comece a rezar desde já. Com essa crise financeira internacional que está batendo à porta, não se surpreenda se um quiosque para vender bananas aparecer à sua porta.
Vai ser um horror. Yes, mas, pelo menos nós temos bananas.
https://bahiaja.com.br/artigo/2008/11/29/a-cidade-da-bolachinha,279,0.html