O carnaval de Salvador é a essência da imaginação popular. Uma festa democrática de intensa participação de todos os níveis da sociedade brasileira, aberta, livre, sem fronteiras e que alcançou dimensões internacionais. Chegam, de todas as partes do mundo, pessoas que são atraídas pela magia do carnaval de Salvador da Bahia, que se juntam a nós, baianos, brasileiros de todos os cantos do nosso país, que irmanados compõem uma inigualável harmonia, que nos leva a conceber o carnaval como um grande exemplo de paz entre os povos, capaz de contribuir para as relações de paz no mundo. No carnaval de 2004, um jornalista que chegava de um país do Oriente Médio, depois de observar por algumas horas a movimentação do povo disse-me. " Na minha terra, quando uma multidão como esta se reúne para rezar, morre pelo menos uns 200 ". O carnaval de Salvador da Bahia não é e nunca será uma festa pronta, acabada. Ele pode crescer e melhorar em todos os seus aspectos. Tem muitos problemas a serem resolvidos, as polêmicas são inúmeras, os que se dizem entendidos do carnaval e querem mudar aqui e alí são milhares de pessoas. E é esta dinâmica e dialética que enriquece o carnaval. Mas, especificamente, ao longo deste período pré-carnaval, precisamos criar uma agenda positiva para ele. As matérias de mais destaque na imprensa trazem problemas, desencontros de informações, queixas, falta de pagamento, desentendimentos e uma grande quantidade de notícias, a maioria negativa. Não é para não denunciar o que está errado ou reivindicar o que se deseja, mas também é necessário exaltar todos os benefícios do carnaval para a cidade, para o Brasil e o exemplo de convivência pacífica que mostramos ao mundo. Afinal, se nós não falarmos bem de nossas coisas, quem o fará ? Quando uma cidade reúne 2 milhões de pessoas para dançar, cantar, amar e explodir em alegria em 25 km de ruas e praças, numa integração invulgar, misturando a arte popular com o erudito, o trio elétrico com a zabumba, o agogô com a guitarra, o afoxé com o samba e muitas outras misturas mais, esta festa precisa ser olhada com bons olhos. O carnaval gera milhares de empregos ( foram 290.000 em 2004), movimentou no Carnaval Viva o Povo Brasileiro, pouco mais de 1 bilhão de reais em negócios entre outubro de 2003 e março de 2004, recebeu 2000 jornalistas do mundo inteiro, foram milhares de artistas nos vários pontos da cidade, gerou 272 horas de mídia local, nacional e internacional e, finalmente, em novembro de 2004 o mundo, através do Guinness Book reconheceu o que já sabíamos - este é o maior carnaval de rua do mundo. Em 2003, o genial Carlinho Brown abriu o Fórum das Culturas, em Barcelona, com o carnaval de Salvador da Bahia. Levou para a avenida o seu trio elétrico e ao som de nossa música, durante 5 horas, deslumbrou e contagiou 400.000 pessoas de toda a Europa, numa tarde de sábado. No dia seguinte, a manchete do La Vanguardia foi " El dia en que Barcelona fue Salvador de Bahia". É preciso resolver os problemas, sim, mas o carnaval de Salvador não é só problema. Vamos dar uma agenda positiva ao que é positivo. O carnaval dá lucro a todos: ao povo que se diverte, aos artistas que se revelam, aos trabalhadores que recebem com seu trabalho, aos empresários que têm lucros, aos patrocinadores que estão na mídia, à imprensa que tem o que mostrar e à Cidade do Salvador que se projeta mundialmente e gera emprego e renda como em nenhum outro lugar ou momento. Este talvez seja o momento de maior redistribuição de renda do país. Em 2004 foram 535 empresas (marcas expostas em todos os circuitos e trios) que geraram os 290.000 empregos. Só no Carnaval de Salvador da Bahia se consegue apreciar o grande desfile dos nossos astros da música. Que outro lugar do mundo faz passar cantando diante de seus olhos e ouvidos um elenco como Ivete, Daniela, Gil, Caetano, Carlinhos Brown, Durval Lélis, Bel, Claúdia Leite, Ricardo Chaves, Ninha, Xandi, Olodum, Ilê, Malê, Gandi, Didá, entre centenas de outras estrelas ?. E todos se apresentam não apenas para quem está no seu bloco ou camarote, mas também para o pipoca, para as pessoas que estão nas arquibancadas, nas barracas ou, simplesmente, para quem está parado em alguma esquina ou debruçada em uma janela. Só no carnaval de Salvador da Bahia é que negros e brancos, pobres e ricos, homens e mulheres, visitantes e moradores de qualquer idade, religião ou status social formam um único corpo, com a mesma batida, e cuja constituição essencial é a alegria genuína que brota da alma de cada um, estimulada pelos acordes das guitarras, pelo som dos tambores, pelo colorido das ruas, pelo calor dos corpos e pelo movimento frenético dos quadris que se mexem com total liberdade. Este é o carnaval de Salvador da Bahia. Uma festa que existe pela criatividade constante do nosso povo e de nossos artistas, que se comunicam sem intermediários, fazendo o maior carnaval do mundo. Vamos também falar bem do nosso Carnaval .
https://bahiaja.com.br/artigo/2007/02/07/uma-agenda-positiva-para-o-carnaval-de-salvador,23,0.html