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06/03/2008 às 09:04

SALVADOR 459 ANOS - 1

Salvador completará 459 anos em 29 de março próximo

Tasso Franco



            Salvador vai completar 459 anos de fundada no próximo dia 29, um sábado. É a cidade mais antiga do Brasil, embora se considerarmos a Capitania Hereditária da Bahia, instituída em 1534 e instalada em 1536, com a chegada de Francisco Pereira Coutinho, o Rusticão, a localidade da Bahia (ainda não tinha o nome de Salvador e sim de Vila do Pereira) tem 174 anos ou 172, como queiram. Ademais, os europeus que primeiro chegaram a Kirymurê, o golfo que Américo Vespúcio cartografou na expedição portuguesa exploratória de Gonçalo Coelho, aportaram em 1º de novembro de 1501.


            Portanto, lá se vão, considerando-se esta data, 507 anos que se têm notícias desta terra. E, observando-se, ainda, o desembarque (ou naufrágio) de Diogo Álvares, entre 1509/1510, português que aqui se estabeleceu entre os tupinambás e constituiu as primeiras famílias mestiças baianas, temos 499 anos ou 498, como desejem. Os restos mortais de Diogo estão sepultados na Catedral Basílica da Sé e os de sua esposa, Catarina Álvares, a Paraguaçu, na igreja de Nossa Senhora das Graças, um monastério beneditino.


            Pois dito; assim sendo louvado por Nosso Senhor Jesus Cristo porque esta cidade tem o nome do "Salvador", aquele que veio para nos salvar, e teve seu epíteto instituído pelo rei carolíssimo Dom João III, de Portugal, trata-se de uma cidade das mais antigas do Continente Americano, ainda que, para os padrões europeus e asiáticos, uma cidade mãe ainda jovem levando-se em conta, por exemplo, as cidades de Londres, Barcelona, Paris, para não se dizer de Teerã ou Pequim. A rigor, no contexto mundial, seria uma cidade de meia-idade.


            Hoje, Salvador possui a terceira maior população de capitais metropolitanas do país: 2.850.000 habitantes. Situa-se atrás apenas das duas metrópoles nacionais, São Paulo e Rio de Janeiro. É uma urbe enorme, sem um centrão comercial como são os casos da maioria das cidades grandes do país, com seu território ocupado de forma desordenada, salvo a mancha matriz histórica e original construída por Tomé de Souza, o Comércio e a extensão para Itapagipe, áreas que seguiram na linha Sul em direção da Vitória, Barra e Orla Atlântica, e alguns bairros que nasceram com a abertura das avenidas de Vale, a partir de 1970.


            No mais, o território foi ocupado pelo "planejamento popular" e, hoje, existem dezenas de bairros com essa tipologia e mais de 500 assentamentos subnormais, aqui chamados de invasões. Nesses casos, salvos alguns que seguiram o planejamento das trilhas originais de boiadas (caso da Liberdade), do sistema de transporte intermunicipal (casos de São Caetano e adjacências), da estrada velha do Aeroporto ou estudos organizados (Cajazeiras, Mussurunga, São Braz, etc) é um salve-se quem puder. Uma terra de Mãe Joana. E, já dito aqui neste espaço, não tem PDDU, PDDA, PDdoB, que dê mais jeito.


            Salvador, em 1970, possuía 700.000 habitantes. Desse total, algo em torno de 70% era de pobres e remediados. Uma classe média pequena e uma minoria de ricos e da classe média alta. Ou seja, havia um contingente na linha da pobreza (ganhos em média de 2 salários mínimos) ou próximo disso, em torno de 490.000 pessoas; Hoje, a situação continua a mesma, ou até pior, levando-se em conta de que a sociedade não se movimentou em mudanças substancias na qualificação profissional e na renda familiar, e, proporcionalmente, embora o pobre de hoje não possa ser considerado o pobre de 1970, tem algo em torno de 1.995.000 pessoas nessa situação.


            Isso significa dizer que Salvador é uma das cidades mais pobres do país e não adianta ficar choramingando agora porque isso é do conhecimento público de qualquer cientista social, dos políticos, dos administradores, dos economistas, de toda sociedade esclarecida. Quando ouço hoje, a essa altura dos acontecimentos, candidatos a prefeito da próxima eleição, em outubro, dizer que estão fazendo "diagnóstico", "auscultando a população", "promovendo estudos e debates", trata-se, obviamente, de uma demagogia barata e sem sentido.


Já está tudo estudado, tem diagnóstico de tudo quanto é coisa, trabalhos científicos de toda natureza, com universidades, com ONGs, com Seplan, "Seplin", "Seploc", "Sepluc" e o que falta mesmo é um projeto que esteja direcionado para modificar, a médio e longo prazos, essa realidade que aí se encontra. A começar pela educação que é uma brincadeira, seqüenciando com a responsabilidade paterna. Em todo lugar do mundo foi assim e não adianta querer inventar a roda. É só copiar a roda. Na Europa, onde existem 200 línguas ou mais, as crianças estão estudando inglês a partir dos 4 anos de idade, nas escolas públicas. Em Salvador, começa aos 7 anos, e instituiu-se, como grande coisa, o ensino da História ou Cultura da África.


Estou no jornalismo há 40 anos e conheço a cidade de ponta-a-ponta. Já participei de mais de 10 campanhas eleitorais na capital trabalhando na área do jornalismo e do marketing. E, o que tenho presenciado ao longo de todos esses anos: um crescimento enorme da pobreza, invasões e mais invasões, numa proporção desigual à cidade formal, planejada. Enquanto nasce um Pituba Vile, surgem dez Constituintes. Para cada Alphavile, cinco Saramandaias. Veja o que aconteceu, recentemente: a Prefeitura criou uma Secretaria de Habitação. A secretária passou 3 anos planejando, tentando conseguir financiamentos e, de concreto, quase nada. Saiu da Prefeitura e escreveu um artigo em A Tarde dizendo que a solução é para 2.025.


Nenhum prefeito de Salvador, a partir de 1970, teve coragem de enfrentar essa realidade. Todo mundo faz uma coisinha aqui, uma coisinha acolá, e os problemas só aumentam. Salvador precisa de um governo transformador, revolucionário, corajoso, e quem apresentar uma proposta nessa direção para as eleições, pode até não ganhar, mas dará um passo à frente. É isso que a população da cidade quer ouvir.


Na próxima semana, vamos falar do movimento da sociedade. Porque a família do sujeito que era pobre em 1970, continua pobre e sem acesso aos bens culturais e a universidade nos dias atuais.




https://bahiaja.com.br/artigo/2008/03/06/salvador-459-anos-1,173,0.html