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24/10/2024 às 18:32

JESUS É DE ESQUERDA, A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO E LULA

Dimas Roque é jornalista

Dimas Roque

    A opção preferencial pelos pobres reivindicada pela Teologia da Libertação, movimento que surgiu nos anos 60 após o Sínodo Mundial dos Bispos Católicos em 1971 em Roma, se popularizou no Brasil no final dos anos 70 e início dos anos 80 dentro dos grupos jovens da Igreja Católica que viviam um momento de ruptura entre a Ditadura Militar imposta ao país em 1964 e os movimentos sociais e políticos. 


  Mas esse movimento não se limitou à Igreja Católica; no Protestantismo da América Latina surgiram seguidores da Teologia da Libertação. A expressão “Jesus é de esquerda” já foi pronunciada, escrita e dita ao “pé do ouvido” daquelas pessoas que hoje em dia vivem o evangelho segundo o pastor da sua igreja sem se preocupar em estudar a vida de Cristo profundamente como está escrita no livro sagrado, a Bíblia. 

  Eu mesmo já repeti a frase “Jesus é de esquerda” tantas vezes para evangélicos que nem me lembro mais a quantidade e, mesmo assim, são poucos os que concordaram com a minha afirmação muito antes do Presidente Lula fazer a mesma afirmativa em comício na cidade de Camaçari, na Bahia: “ninguém foi mais de esquerda do que Jesus Cristo”. A fala de Lula não foi despretensiosa; ele levantou o debate justamente para o público evangélico do país que hoje retiraram Jesus Cristo das igrejas e colocaram o Bezerro de Ouro da atualidade nos púlpitos.

  A afirmação "Jesus é de esquerda" chama atenção para a polêmica política porque ela desafia as interpretações tradicionais e conservadoras do cristianismo, especialmente em um contexto onde a religião é frequentemente usada para justificar posições políticas de direita. Jesus Cristo, em sua vida e ministério, demonstrou uma clara preferência pelos pobres e marginalizados, como evidenciado em suas ações e ensinamentos. 

  Ele curou os doentes, alimentou os famintos e pregou sobre a importância de amar o próximo e ajudar os necessitados. Essas ações são vistas como um alinhamento com os princípios da Teologia da Libertação, que enfatiza a justiça social e a defesa dos oprimidos. No entanto, a frase também desvia a atenção do estudo bíblico profundo da vida de Cristo. Em vez de focar nas ações e ensinamentos de Jesus, a discussão muitas vezes se torna uma batalha ideológica.

  A Teologia da Libertação, que surgiu nos anos 60 e se popularizou no Brasil nas décadas de 70 e 80, busca resgatar o verdadeiro significado dos ensinamentos de Jesus, destacando sua missão de justiça social e solidariedade com os pobres. Ao afirmar que "Jesus é de esquerda", o objetivo é provocar uma reflexão sobre como os valores cristãos podem e devem ser aplicados na luta contra a desigualdade e a injustiça, mas isso muitas vezes é ofuscado pela controvérsia política.

   A afirmação de que "ninguém foi mais de esquerda do que Jesus Cristo" encontra respaldo em diversos exemplos bíblicos que destacam a preocupação de Jesus com os pobres e marginalizados. No Sermão da Montanha, Jesus proclama: "Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus" (Mateus 5:3). 

  Ele também enfatiza a importância de ajudar os necessitados em Mateus 25:35-36, onde diz: "Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era estrangeiro, e me acolhestes; estava nu, e me vestistes; adoeci, e me visitastes; estive na prisão, e fostes ver-me." Esses ensinamentos refletem uma clara opção preferencial pelos pobres. Além disso, Jesus demonstrou seu compromisso com a justiça social em várias de suas ações. 

  Ele expulsou os cambistas do templo, denunciando a exploração econômica e a corrupção religiosa (Mateus 21:12-13). Em Lucas 4:18-19, Jesus declara sua missão: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e proclamar o ano aceitável do Senhor." Essas passagens bíblicas evidenciam que a vida e os ensinamentos de Jesus estavam profundamente enraizados na defesa dos pobres e oprimidos, corroborando a visão de que sua mensagem possui um forte viés de justiça social.

  Partidos de esquerda frequentemente defendem políticas que visam a justiça social, a igualdade econômica e a proteção dos direitos dos mais vulneráveis, refletindo os ensinamentos de Jesus Cristo sobre cuidar dos pobres e necessitados. 

  Assim como Jesus pregou sobre a importância de alimentar os famintos, vestir os nus e acolher os estrangeiros, partidos de esquerda promovem programas de assistência social, saúde pública, educação acessível e direitos trabalhistas para garantir que todos tenham uma vida digna e justa. Essas ações são vistas como uma extensão moderna dos princípios de compaixão e solidariedade que Jesus exemplificou em sua vida e ministério.


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