Já nos vimos e compartilhamos aquelas oméricas farras noite a dentro na velha cidade da Bahia a cantar, a bailar, a curtir a vida como era possível aos nossos bolsos. Nossa turma, contemporânea de Teixeira sempre foi pobre em níquel.
Ninguém tinha carro bonito, ninguém tinha lancha ou coisa parecida que ostentasse riqueza, ninguém era baiano de Salvador autêntico desses que já nasceu comendo acarajé, porque somos do interior - Teixeira (Ruy Barbosa), Navarro (Alagoinhas), Paolo Marconi (do interior da Itália), Vitor Hugo Soares (das barrancas do São Francisco), Gentil, Reynivaldo Brito (do Pombal), Sérgio Matos e outros tantos, alguns que já se foram e outros que estão no planeta Terra, no mesmo diapasão.
Bom que se diga, ademais, ninguém morreu de fome nem abaixou as calças para os poderosos.
É, claro, que com tantos anos de capital aderimos as moquecas baianas, ao acarajé, ao acacá, ao caruru e outros petiscos que não eram da nossa praia e nos baianizamos. Sem, no entanto, perder nossas raizes. Teixeira, creio, sempre foi o mais discreto de todos nós, ou um dos mais discretos, calado, reflexivo, poético, adorava a música mais refinada e tinha umas tiradas bem geniais.
Nunca fomos amigos confidentes, mas amigos de longas datas e últimamente, na Assembleia, na sala de Paula Bina, jornalista de outra geração porém contemporâneo de muitas jornadas na Tribuna e nos bares da cidade da Bahia, batiamos com frequência um papo, desses chamados de intelectual (sem sermos) sobre política, literatura e cultura de uma forma geral.
Nossa última praia, creio. Nesse apagar da vida a gente vai deixando um pouco mais o jornalismo e abraçando a literatura. Creio que era essa a ação atual que mais gostava José Carlos Teixeira. Falavamos de jornalismo - porque na Bahia tem muita maluquice em andamento - mas descambávamos para o mundo das letras baianas/nacionais e a cultura, que, também sabemos anda pisoteada no estado.
Nem precisa dizer aqui num momento deste. Mas, digo, tá na veia jornalistica. A biblioteca do Mosteiro de São Bento está fechada desde 2019; a do Museu Carlos Costa Pinto, fechada; museu de Arte Sacra da Bahia, fechado; TCA, fechado; Teatro Vila Velha, fechado; IGHB teve a verba de sustentação da Secult cortada; Biblioteca dos Barris precisando de investimentos.
Então, creio, seu artigo sobre a biblioteca de CId Teixeira (veja em Cultura) saiu de um desses papos que tivemos com Bina, indignados estávamos da Bahia perdê-la, como perdeu a coleção de arte de Emmanuel Araújo.
Não vou criticar gestores da Secult nem do Minc porque não adianta nada e este não é o momento.
Agora, o que expresso aqui é amizade com Teixeira, as conversas agradáveis, os papos, e teve uma época que organizei um almoço com jornalistas e Lenildes Pacheco, sua companheira dos últimos anos, era presença contumaz.
E, hoje, estamos todos abalados com a perda de Teixeira, uma morte estúpida, imprevisível e prematura.
Então, resta-nos essas lembranças, esse adeus, e com todas pessoas que falei nessas últimas 72 horas, nossos colegas, o sentimento era esse de tristeza profunda. Seguimos nós, adiante, honrando essa profissão de abnegados como Teixeira. (TF)
https://bahiaja.com.br/artigo/2024/10/10/lembrancas-de-teixeira-e-os-papos-com-bina-na-alba-p-tasso-franco,1465,0.html