A idéia, já posta bem aceita por uns e outros, de demolir o estádio Octávio Mangabeira e em seu lugar se plantar uma "arena multiuso" de 45 mil lugares, com o propósito de ali acontecer alguns joguinhos eliminatórios de seleções estrangeiras na Copa do Mundo de 2014, é uma proposta que causa estranheza, arrepios e até tristeza em quem ainda tem um pouco de amor e respeito por esta cidade, seu povo e sua história.
Fiquei perplexo. A possível demolição da Fonte Nova, templo sagrado do futebol baiano foi anunciada numa coletiva à imprensa pelo governador do Estado minutos antes de um jogo do Bahia pela série C, numa quarta-feira de lua cheia, com mais de 70 mil pessoas no estádio iluminado e belo. Um contra-senso.
Pois foi. Diante de uma massa devotada, cheia de energia positiva, em transe tricolor, o governador disse que ia demolir aquilo tudo! Nem os galhos de arruda, nem a lua, nem os orixás do Dique ajudaram o time do Bahia depois daquele anúncio. Isso vai virar pó!
Parte-se do pré-suposto de que a Fonte Nova está condenada. Mas, condenada como assim que o senhor fala? Cadê o parecer técnico? Quem a condenou? Os interesses do homens da Fifa, grandes milionários negociantes do espetáculo da bola. Eles querem gastança, novos estádios, arenas modernosas e inúteis (depois da Copa, quem vai dar 50, 100 paus pra entrar lá e ver Bahia e Coruripe?), dinheiro a rodo rolando pros bolsos de Blatter, Ricardo Teixeira e seus apaniguados.
Perguntem, consultem os engenheiros, o Crea, os arquitetos, o IAB, os urbanistas, as escolas e os professores da UFBa se a Fonte Nova está condenada. Peçam um parecer técnico isento.
Convoquem as cabeças baianas para que se faça um grande projeto de reforma do estádio, que carece de algum reforço, aqui e ali, de uma revisão geral no sistema elétrico (que funciona bem), de ampliação das cabines de imprensa, de uma galeria de bons restaurantes, de assentos numerados, de cobertura que abrigue o torcedor das chuvas mas que não lhe esconda o céu azul e a visão fantástica do dique, que não se fecha a boca da ferradura, que seja implantado um sistema de vigilância e segurança interno, que ponham novas catracas com bilheterias decentes, sanitários dignos, vestiários mais bem equipados para os atletas, um melhor aproveitamento das áreas ociosas que ficam por baixo das arquibancadas do lado da Vasco da Gama e quê mais ?
E, por favor, não venham me dizer que um projeto de reforma e modernização da Fonte Nova sai mais caro do que a demolição e implantação da tal arena. Não, ah! isso não, porque não somos idiotas/burros para simplesmente comer calado tal disparate.
Para que não esqueça, quanto à questão do estacionamento, não falta espaço no entorno do estádio que, mesmo hoje, meia hora depois de acabado um jogo como aquele, com quase 80 mil pessoas lá dentro, o trânsito já havia sido evacuado, fluía sem transtornos ou maiores engarrafamentos nas avenidas e ruas próximas. É assim. Não existe estádio no Brasil mais fácil de se chegar e sair, qualquer pessoa que freqüente a Fonte Nova sabe disso. E quem já foi ao Maracanã, Morumbi, Mineirão, Pacaembu etc... sabe muito bem o que é chegar e sair desses estádios.
Só uma perguntinha: a tal arena de 45 mil pessoas cabe a torcida de um Ba x Vi? Cabe uma final de terceirona com o Bahia na fita?
É preciso mais respeito ao torcedor baiano que ama a Fonte Nova, um estádio que faz parte da cidade e de sua história. A Fonte Nova não é do Bahia, do Viotória, do Ipiranga... a Fonte Nova é do torcedor, desse povão que ama o futebol.
O campo de jogo da Fonte Nova - que faz parte de um complexo esportivo olímpico pensado pelo Governo Mangabeira como acoplado ao projeto maior da UFBa, uma universidade integrada à vida urbana - é um dos melhores do país, sua drenagem é ótima, o gramado é excelente, o projeto arquitetônico é belíssimo, suas estruturas são seguras, aproveitando o declive do terreno. É um estádio central, de fácil acesso ao povo, ao povão mesmo, aquele de classe média e baixa que ama o futebol e guarda os trocadinhos minguados pra ver o clube de seu coração jogar, uma das poucas opções de laser, sua paixão... E nada disso vai ser levado em conta?
Essa gente mais simples, meu caro, nem vai chegar perto do "Arenão da Copa" (arena me remete ao tempos da Roma antiga) do imperador Ricardo Teixeira, o "dono" da bola, alvo de todas as bajulações e babaovismos até 1914, quem viver verá.
Esse cidadão (cruz credo) está cagando e andando para respeito à cultura, ao patrimônio e ao povo da cidade.
E vamos mesmo demolir a Fonte Nova apenas para que alguns mais ricos possam ver uns joguinhos de oitavas de final de uma copa de cartas marcadas para Rio e São Paulo? Como é que reformaram o Maracanã - que estava em muito pior estado que a Fonte Nova-, que vão retocar o Morumbi, o Mineirão... e querem demolir a Fonte Nova? Qual o critério?
Para a Olimpíada na Espanha reformaram estádio em Barcelona, uma beleza! Para a Copa da Alemanha reformaram vários estádios, adequando-os às tais exigências globalizantes da Fifa... e a nossa Fonte Nova querem simplesmente passar o rodo, demolir ? Tem coisa nesse embrulho! Socorro Niemeyer! Diógenes Rebouças, onde estás? Cadê seus filhos?
Socorro IAB, CREA, Escola de Arquitetura da UFBa! Não vamos calar diante desse "delenda est Fonte Nova"! A nossa Fonte não fez e não faz nenhum mal à cidade para virar alvo de tamanha estultice. Daqui a pouco algum maluco vai querer demolir a Igreja do Bonfim, o Farol da Barra, o forte de São Marcelo...
Essa história de "Arenão multiuuso" conhecemos bem, desde os tempos de Paulo Carneiro (argh!!!!), e tanto o projeto como o grupo estrangeiro intere$$$$$ado é o mesmo, lá de Portugal e Espanha. Eles têm o modelito pronto, querem que o governo dê pra eles tudo prontinho, local, infra, apoio, isenções, pra que eles possam mamar.
Mais uma reflexão: Esse tal Arenão na Paralela vai bloquear a ida e vinda ao aeroporto internacional em dia de jogo! Um mísero show de pagode no espaço arruinado do Wetn'Wild já complica o tráfego por horas na avenida!
Digo-lhe mais: Arenão é coisa pra barão, a Fonte Nova é do povão!
https://bahiaja.com.br/artigo/2007/11/05/a-fonte-nova-e-indemolivel,140,0.html